Nova pesquisa conclui que os complexos multivitamínicos não previnem doenças, por Henrique Cortez
[EcoDebate] Nos EUA, como no Brasil, muitas pessoas, principalmente mulheres e adolescentes, tomam complexos multivitamínicos, acreditando que eles, de alguma forma, ajudam a prevenir doenças cardiovasculares ou câncer, mas isto pode ser um mito.
Em estudos anteriores, os efeitos dos complexos multivitamínicos foram inconclusivos, com alguns sugerindo que eles podem ser associados à redução dos riscos de alguns tipos de câncer, enquanto que outros estudos afirmavam que eles pouco ou nenhum efeito.
Agora, uma nova pesquisa [Multivitamin Use and Risk of Cancer and Cardiovascular Disease in the Women’s Health Initiative Cohorts] publicada na edição de fevereiro da revista Archives of Internal Medicine, os pesquisadores analisaram dados de 68.132 mulheres que estavam registradas em um ensaio clínico e outras 93.676 em um estudo observacional. Eles acompanharam as mulheres por oito anos, em média, visando acompanhar os efeitos na saúde das multivitaminas.
Após controle por idade, atividade física, história familiar de câncer e muitos outros fatores, os pesquisadores descobriram que os suplementos não tiveram qualquer efeito sobre o risco de câncer de mama, câncer colorretal, câncer endometrial, câncer de pulmão, câncer ovariano, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, coágulos sanguíneos ou mesmo sobre a mortalidade.
O novo estudo reabre a discussão do uso de suplementos vitamínicos a partir de prescrição médica. Segundo este estudo os suplementos apenas reproduzem o efeito placebo.
Os suplementos ou complexos vitamínicos podem parecer uma forma ‘prática’ de repor as vitaminas que nosso corpo necessita mas, de fato, não substituem uma alimentação equilibrada e saudável.
Apesar de diversos estudos, que demonstram restritas aplicações das vitaminas, ainda assim, elas são largamente consumidas, como se tivessem, por si mesmas, o poder de evitar doenças. No caso do Brasil, onde a automedicação alcança níveis de problema de saúde pública, o uso não prescrito de vitaminas e suplementos herbais ocorre de forma generalizada.
A utilização de vitaminas, sem acompanhamento médico, também aumenta o risco de hipervitaminose, ou envenenamento por vitamina, a condição de armazenamento de altos níveis de vitaminas, que podem levar a sintomas tóxicos. Altas doses de suplementos minerais podem também causar efeitos colaterais e entoxicação. Envenenamento por suplementos minerais ocorre ocasionalmente devido ao excesso e incomum dosagem de suplementos que contenham ferro, incluindo algumas multivitaminas. (fonte Wikipédia)
Vejam alguns casos que já noticiamos:
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O artigo “Multivitamin Use and Risk of Cancer and Cardiovascular Disease in the Women’s Health Initiative Cohorts“, publicado na Archives of Internal Medicine, apenas está disponível para assinantes. Abaixo transcrevemos o abstract.
Marian L. Neuhouser, PhD; Sylvia Wassertheil-Smoller, PhD; Cynthia Thomson, PhD, RD; Aaron Aragaki, MS; Garnet L. Anderson, PhD; JoAnn E. Manson, MD, DrPH; Ruth E. Patterson, PhD; Thomas E. Rohan, MD, PhD; Linda van Horn, MD, PhD; James M. Shikany, DrPH; Asha Thomas, PhD; Andrea LaCroix, PhD; Ross L. Prentice, PhD
Archives of Internal Medicine. 2009;169(3):294-304.
Background Millions of postmenopausal women use multivitamins, often believing that supplements prevent chronic diseases such as cancer and cardiovascular disease (CVD). Therefore, we decided to examine associations between multivitamin use and risk of cancer, CVD, and mortality in postmenopausal women.
Methods The study included 161 808 participants from the Women’s Health Initiative clinical trials (N = 68 132 in 3 overlapping trials of hormone therapy, dietary modification, and calcium and vitamin D supplements) or an observational study (N = 93 676). Detailed data were collected on multivitamin use at baseline and follow-up time points. Study enrollment occurred between 1993 and 1998; the women were followed up for a median of 8.0 years in the clinical trials and 7.9 years in the observational study. Disease end points were collected through 2005.
We documented cancers of the breast (invasive), colon/rectum, endometrium, kidney, bladder, stomach, ovary, and lung; CVD (myocardial infarction, stroke, and venous thromboembolism); and total mortality.
Results A total of 41.5% of the participants used multivitamins. After a median of 8.0 years of follow-up in the clinical trial cohort and 7.9 years in the observational study cohort, 9619 cases of breast, colorectal, endometrial, renal, bladder, stomach, lung, or ovarian cancer; 8751 CVD events; and 9865 deaths were reported. Multivariate-adjusted analyses revealed no association of multivitamin use with risk of cancer (hazard ratio [HR], 0.98, and 95% confidence interval [CI], 0.91-1.05 for breast cancer; HR, 0.99, and 95% CI, 0.88-1.11 for colorectal cancer; HR, 1.05, and 95% CI, 0.90-1.21 for endometrial cancer; HR, 1.0, and 95% CI, 0.88-1.13 for lung cancer; and HR, 1.07, and 95% CI, 0.88-1.29 for ovarian cancer); CVD (HR, 0.96, and 95% CI, 0.89-1.03 for myocardial infarction; HR, 0.99, and 95% CI, 0.91-1.07 for stroke; and HR, 1.05, and 95% CI, 0.85-1.29 for venous thromboembolism); or mortality (HR, 1.02, and 95% CI, 0.97-1.07).
Conclusion
After a median follow-up of 8.0 and 7.9 years in the clinical trial and observational study cohorts, respectively, the Women’s Health Initiative study provided convincing evidence that multivitamin use has little or no influence on the risk of common cancers, CVD, or total mortality in postmenopausal women.
Trial Registration clinicaltrials.gov Identifier: NCT00000611
Author Affiliations: Division of Public Health Sciences, Fred Hutchinson Cancer Research Center, Seattle, Washington (Drs Neuhouser, Anderson, Patterson, LaCroix, and Prentice and Mr Aragaki); Department of Epidemiology and Preventive Medicine, Albert Einstein College of Medicine, New York, New York (Drs Wassertheil-Smoller and Rohan); Department of Nutritional Sciences, University of Arizona, Tucson (Dr Thomson); Division of Preventive Medicine, Harvard Medical School, Boston, Massachusetts (Dr Manson); Amylin Pharmaceuticals, Inc, San Diego, California (Dr Patterson); Department of Preventive Medicine, Northwestern University, Chicago, Illinois (Dr van Horn); Division of Preventive Medicine, University of Alabama at Birmingham (Dr Shikany); and Medstar Research Institute, Washington, DC (Dr Thomas).
[Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 12/02/2009]
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