Estudo da WWF quer estimular consumidor europeu a consumir sem prejudicar a Amazônia
A Holanda é um dos maiores importadores da soja brasileira. Para abastecer esse mercado, o Brasil precisa utilizar 25,3 milhões de hectares – uma área cuja dimensão supera a metade de todo o território holandês. Boa parte dessa soja, entretanto, tem a função de alimentar o gado do país.
Ao tomar consciência dessa realidade, a filial holandesa da organização não-governamental WWF encomendou, no Instituto Copérnico da Universidade de Utrecht, o estudo Mantendo a Floresta Amazônica em Pé: Uma Questão de Valores. A idéia é mostrar que a destruição da Região Amazônica pode ser contida se for dado um estímulo financeiro à manutenção dos serviços ecológicos prestados pela floresta. Para tanto, o estudo defende a conscientização do consumidor europeu.
“Nós queremos mudar o paradigma de que quem desmatou a Amazônia foram apenas os brasileiros. Diversos outros países também deram sua contribuição para o desmatamento chegar no ponto em que se encontra. O intuito desse estudo em especial é estimular o holandês a um consumo mais responsável, e mostrar que ele também tem uma parcela de culpa no processo de devastação da Amazônia”, explica o coordenador do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da WWF Brasil, Mauro Armelin.
“Queremos que ele busque saber mais sobre a origem do produto que ele consome e procure consumir produtos que obedeçam a lei trabalhista brasileira e as legislações ambientais. Principalmente o Código Floresta. É uma oportunidade para que aqueles que fazem parte do problema também façam parte da solução”, completa Armelin.
Para isso a WWF defende a criação de uma certificação dos produtos derivados da agricultura e da pecuária, a exemplo do que já ocorre com a madeira brasileira. “Ainda estamos discutindo os critérios para essa certificação, e acredito que ela não sairá tão cedo. Isso significa que, por enquanto, este consumidor encontra dificuldades para saber a origem dos produtos brasileiros que consome.”
Armelin explica que 80% de toda madeira produzida na Amazônia tem algum problema de ilegalidade em sua cadeia de produção. A legalização juntamente com a certificação aumenta, segundo ele, o custo da madeira em até 20%.
Mas o estudo também objetiva a conscientização da população da Amazônia sobre o potencial econômico oferecido por meio da comercialização dos serviços prestados pelos ecossistemas da Amazônia. Segundo o coordenador da WWF, “a população não vê cifrão na floresta. Vê no gado, nas madeiras e na agricultura. Ao tentarmos quantificar produtos não-palpáveis da região, como carbono, água, chuva e a erosão evitada, mostramos que a floresta tem um valor maior do que esses três elementos”.
Ele explica que só a retenção de gás carbônico feita por árvores pode render anualmente entre US$ 70 e US$ 100 por hectare. E não é só. Cada hectare de produtos florestais não-madeireiros podem render, por ano, entre US$ 50 e US$ 100. A prevenção das erosões poderia gerar uma renda anual de US$ 238 por hectare, e a prevenção de incêndios, US$ 6 por hectare/ano.
A dispersão do pólen nas plantações de café no Equador, que é feita pelos insetos originários das florestas tropicais, renderiam a cada ano US$ 49 por hectare. Produtos como mel, frutos florestais e cogumelos representariam um valor aproximado de US$ 50 a R$ 100 por hectare a cada ano. Já as atividades recreativas e de ecoturismo, entre US$ 3 e US$ 7 por hectare/ano.
O estudo vai além e compara esses números a outras práticas econômicas que colaboram com a destruição das florestas tropicais, como a produção predatória ou não-sustentável de carne e soja, principais produtos importados pela Europa. A pecuária extensiva gera anualmente de US$ 31 a US$ 89 por hectare, e a soja, de US$ 179 a US$ 366.
Matéria de Pedro Peduzzi, da Agência Brasil, publicada pelo Ecodebate, 11/02/2008.
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