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Permacultura propõe uma nova forma de habitar o mundo

telhado verde
Telhado Verde. Ajuda a reduzir o barulho dentro de casa e a manter a temperatura constante e, além de grama, o telhado verde pode receber flores, arbustos e ervas medicinais

Tecnologias simples podem promover a sonhada sustentabilidade – Um movimento silencioso está em curso no país e é formado por pessoas que buscam uma vida sustentável, que tenha na integração com a natureza a base para a alimentação, moradia e subsistência

Enquanto cientistas e políticos discutem alternativas para o aquecimento global, algumas pessoas decidiram não esperar pelos protocolos internacionais e estão mudando o próprio modo de vida de forma a impactar o mínimo possível as condições ambientais.

O nome dado a essa filosofia é permacultura, uma derivação do conceito de agricultura permanente, desenvolvido no começo dos anos 70 por Bill Mollison e David Holmgren, numa Austrália em que a agricultura convencional estava combalida, com perdas de recursos naturais. Matéria de Andréa Castello Branco, do jornal O Tempo, MG, 08/02/2009.

A permacultura vai além e planeja toda ação humana, seja a construção de uma casa, o uso da água ou a destinação do lixo. Alimentação, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável, provocando o mínimo impacto ambiental. A proposta é colocada em prática através de tecnologias que podem estar ao alcance de muitos, embora não de todos. Alguns exemplos: os restos de alimentos que iriam para o lixo vão para uma composteira, que irá produzir adubo, que é colocado na horta, que volta para a mesa. Simples assim.

A arquitetura das casas é pensada de forma a proporcionar o máximo de luz natural e a energia elétrica é provida também pelo sol, em painéis fotovoltaicos e de energia solar. No lugar de tijolos e cimento – que consomem energia para sua produção -, adobe, bambu e terra.

Na Prática. Márcio Neves utilizou vários princípios da permacultura para construir sua pousada na Serra do Cipó, segundo ele, por gosto estético e pela ideologia do “cada um fazendo a sua parte” para a preservação ambiental. Os chalés foram feitos com tijolo de adobe, o reboco é natural, a madeira utilizada é de reflorestamento, as telhas são de segunda mão e a água de chuveiros e torneiras são reaproveitadas para regar o jardim.

“Não pude abusar da permacultura porque alguns hóspedes não iriam se adaptar, por exemplo, ao banheiro seco. Mas tentei ao máximo fazer algo mais natural. Este ano, pretendo colocar as calhas para fazer a coleta e reaproveitamento da água da chuva para irrigar a horta”, explica Márcio.

No quesito “prós e contras”, Márcio afirma que a permacultura e a bioconstrução têm mais vantagens. Segundo ele, o custo é praticamente o mesmo de construções convencionais – o que se economiza em materiais se gasta em mão-de-obra -, mas o resultado é melhor. “O adobe te dá um conforto térmico e uma proteção acústica que o tijolo furado não tem. Mas no fundo, a consciência é que vai ser determinante nessa opção”, afirma.

Responsabilidade. Adotar a filosofia da cultura permanente passa, necessariamente, por uma opção de vida, afirma Marcelo Bueno, coordenador do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema). “Cada um precisa ser responsável pelo consumo diário dos recursos naturais que utiliza. Temos que parar de extrair e começar a reutilizar o que já extraímos. Não está longe o dia em que todos nós teremos um limite para o consumo de água. A população está muito mal acostumada”, alerta.

Isso não significa abandonar os hábitos e a cultura que se tem, mas, sim, adotar um nível de consumo racional. “A água é um bom exemplo. Precisamos dela todos os dias. Quando a companhia da sua cidade paralisar o fornecimento, você não terá problemas se coletar a água da chuva, tiver uma cisterna e um filtro purificador para reaproveitar a água de chuveiros e pias. Se cada um assumisse seu lixo, o impacto ambiental seria menor do que uma só empresa cuidar do lixo de 18 milhões de pessoas, como é em São Paulo. Isso significa autosuficiência”, diz Marcelo Bueno.

Com uma grande experiência no planejamento permacultor e de ecovilas, ele avisa: “a sustentabilidade é um caminho a percorrer, não acontece do dia para a noite”.

Bambu e barro formam as paredes da casa, que pode ganhar iluminação com garrafas pet. Divulgação
Bambu e barro formam as paredes da casa, que pode ganhar iluminação com garrafas pet. Divulgação

Hortas são adubadas somente com esterco animal e compostagem
Hortas são adubadas somente com esterco animal e compostagem

Aquecimento solar é a principal fonte de energia nas propriedades permacultoras
Aquecimento solar é a principal fonte de energia nas propriedades permacultoras

Modelo

Ecovilas põem em prática o conceito de sustentabilidade

Os princípios e tecnologias da permacultura têm sido bastante utilizados pelo movimento de ecovilas, que se autodefine como “assentamentos onde as atividades humanas estão integradas ao mundo natural de maneira não danosa e de tal forma que deem apoio ao desenvolvimento humano saudável”. A Rede de Ecovilas das Américas estima que existem em torno de 15 mil comunidades em diversos países.

Marcelo Bueno, integrante da Rede Brasileira, explica que uma ecovila não é, necessariamente, um empreendimento novo – pode ser uma vila de pescadores, uma comunidade tradicional ou um condomínio formado por pessoas interessadas na sustentabilidade. Mas todas são uma experiência única que será desenhada pelos moradores.

Exatamente por isso, existe uma grande diversidade entre as ecovilas. Algumas comunidades se saem muito bem em determinados aspectos, mas deixam a desejar em outros. Marcelo Bueno, diz que algumas vilas são muito competentes do ponto de vista econômico, sustentando-se por meio de cursos e outras fontes, mas ainda precisam avançar na construção de habitações ecológicas.

Outras ecovilas possuem forte teor espiritual, como o Visão Futuro, coordenado pela monja iogue Susan Andrews, onde praticamente todos os moradores são praticantes de uma mesma filosofia. Outras possuem um caráter mais laico, como o Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Ipec), no interior de Goiás, em que o foco está na relação com a natureza e com a comunidade local.

Também é possível encontrar ecovilas mais preocupadas com a vida interna da comunidade e as que procuram desenvolver trabalhos com a população do entorno. E existem ainda as que se adequaram à lógica de mercado, como a Ecovila Santa Branca, em Goiás, que está vendendo lotes, como num condomínio, para as classes média e alta. “Viver num ecovila não é um paraíso, você tem que trabalhar. A vida é mais harmônica”, diz.

Além da convivência harmônica com a natureza, as ecovilas também se caracterizam por uma gestão participativa e pela horizontalidade de poder. “As decisões por consenso são uma das ferramentas que usamos. No processo democrático você tem duas propostas, faz a votação e o grupo acaba se dividindo”, explica Bueno.

Energia
É obtida por tecnologia solar através de painéis fotovoltáicos ou solar

Água
Sistemas de captação e tratamento de água

Lixo
Sistema de reciclagem e tratamento do lixo

Arquitetura
Construção utiliza os recursos naturais

Agricultura orgânica
Adubação é feita com estercos animais

Adobe mantém a temperatura constante e oferece melhor isolamento acústico que tijolo convencional
Adobe mantém a temperatura constante e oferece melhor isolamento acústico que tijolo convencional

Análise

Se as cidades fossem como eles propõem, a vida poderia ser bem melhor

Recentemente filmei projetos de instituições e ONGs que trabalham pela sustentabilidade. Um dos locais que visitei foi o Ecocentro Ipec, em Pirenópolis, Goiás. No lugar, uma pequena propriedade rural, nas cercanias da cidade histórica, eles usaram técnicas de permacultura e construiram alí um centro de pesquisa e educação para o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para a construção de ecovilas, áreas urbanas totalmente sustentáveis.

Quem vê o lugar fica pensando na possibilidade das cidades serem como eles propõem, como a vida seria melhor. Todas as atividades são projetadas no sentido de se integrarem num ciclo virtuoso que acaba deixando mais vida no lugar, quanto mais ele é utilizado pelas pessoas para viver.

Como? Vamos ao que vi. Para preparar uma área para o plantio e eliminar o capim brachiara, eles usam tratores orgânicos. Fazem piquetes onde soltam porcos e galinhas para pastar.

Depois que os animais devoram tudo e deixam ali adubo orgânico, eles iniciam o plantio.

Plantam de forma consorciada, nunca monoculturas, os mais diversos tipos de frutas, árvores, legumes e hortaliças… Tudo embaralhado, e quase tudo comestível. As pessoas agradecem, e os animais também. O lugar é repleto de pássaros e insetos que se aproveitam dessas ‘florestas’. A biodiversidade se encarrega de manter o lugar estável. E as mudas para o plantio da floresta? Eles são premiados por um projeto de sanitários secos. Estes sanitários usam serragem ao invés de água. As fezes caem numa câmara que decompõe tudo. Daí, essa ‘terra’ vai para um minhocário, e depois segue para os saquinhos de mudas, que nascem viçosas e adubadas, prontas para seguir para a “floresta de alimentos”.

Vi também outro premiado projeto, a construção de casas com superadobe. Uma casa barata, construída rapidamente, com conforto térmico acima do normal. Uma experiência e tanto que vale a pena visitar.

Álvaro Andrade Garcia é escritor e diretor de audiovisuais e projetos de multimídia.

Navegue

Ipema
ipemabrasil.org.br

Ecovilas
ecovilas.ecocentro.org

Ipec
www.ecocentro.org

Rede Permear
www.permear.org.br

Ipa
www.ipapermacultura.org

Ipers
www.permacultura-rs.org.br

[EcoDebate, 10/02/2009]

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One thought on “Permacultura propõe uma nova forma de habitar o mundo

  • Fernanda Halfen

    Moro em Pelotas no RGS e gostaria de mais informaçoes sobre implantação do Telhado Verde, saberia me informar cursos na capital em Porto alegre ou a distancia?

    Obrigada

    Resposta do EcoDebate: Gostaríamos de ajudar, mas estas são informações que devem ser encontradas no próprio RS. Procure a organização local de permacultura, que, provavelmente poderá ajudar com mais propriedade.

    Tente o IPERS – Instituto de Permacultura do Rio Grande do Sul
    permacultura@cpovo.net ou http://www.permacultura-rs.org.br/

Fechado para comentários.