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100 anos de nascimento de Dom Hélder Câmara, 07/02/2009

Dom Hélder Câmara (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 — Recife, 28 de agosto de 1999). Foto: Fundaj
Dom Hélder Câmara (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 — Recife, 28 de agosto de 1999). Foto: Fundaj

Dom Hélder Câmara, operário incansável da Paz, repetia incansavelmente:

“Independentemente se, analisando a sociedade, Marx tinha ou não razão, o problema que ele levanta continua atual: ‘Por que tantas riquezas geram tanta pobreza e miséria?’

“Gosto de pássaros que se enamoram das estrelas ao voarem em busca da luz…”

“Como podemos andar pelas ruas com o Pão, signo da tua presença, do teu desejo de um mundo novo…indiferentes a crianças e adultos por nós abandonados… Dá-nos, Senhor, a graça de adorar a tua presença no Pão Eucarístico de modo a reconhecer e adorar a tua presença em cada ser humano, sobretudo nos mais excluídos!… Feliz de quem passou pela vida tendo mil razões para viver.”

“Diante do cólar me extasiei, mais ainda ao admirar o fio que na sua discrição unia todas as pérolas.”

“Dois mil anos após o nascimento do Cristo, mais de dois terços da humanidade encontra-se em condições infra-humanas de miséria e de fome. Mais de dois terços dos filhos de Deus vivem em condições subumanas. Vinte por cento da humanidade consome 80% das riquezas da terra. Oitenta por cento da humanidade deve se contentar com menos de 20% destas mesmas riquezas…”

“Eu tenho fome e sede de paz. Dessa paz do Cristo que se apoia na justiça. Eu tenho fome e sede de diálogo, e é por isso que eu corro por todos os lados de onde me acenam, à procura do que pode aproximar os homens em nome do essencial… E falar em nome daqueles que são impedidos de fazê-lo.”

“Quando eu dou de comer aos pobres, me chamam de santo. Quando eu pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista!”

“Se a política é fazer que os direitos humanos fundamentais sejam reconhecidos por todos, esta política não é somente um direito, mas um dever para a Igreja.”

“A violência número 1 é a injustiça. Depois vem a revolta contra a injustiça, e esta é a violência número 2. E, então, a repressão da revolta: esta é a violência número 3. Mas a violência número 1 é a injustiça.”

“As massas deste continente abrirão um dia os olhos, conosco, sem nós ou contra nós… Ai do cristianismo no dia em que as massas tiverem a impressão de terem sido abandonadas pela Igreja, tornada cúmplice dos ricos e dos poderosos.”

“É graça começar bem. Graça maior é persistir na caminhada. Mas graça das graças é nunca desistir. … A fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome.”

“Chega!”
“Chega de uma igreja que quer ser servida; que exige ser sempre a primeira; que não tem o realismo e a humildade de aceitar a condição do pluralismo religioso!”

Irmão de sangue

Certo dia, Dom Helder enviou um homem pobre, desempregado e maltrapilho, a um pequeno empresário amigo, pedindo que o contratasse, apresentando-o como seu irmão de sangue. Diante de sua incredulidade e estupefação, o Dom responde:
– Desculpe meu amigo, mas João é verdadeiramente meu irmão…
– Mas o senhor disse: irmão de sangue…
– Sim, ele é verdadeiramente meu irmão de sangue. Pois Cristo deu o seu sangue por ele como por mim, por você e por todos os homens. Nós somos todos verdadeiramente irmãos de sangue, pelo sangue do Senhor…

A paz enganosa
“A não-violência não é de forma alguma uma escolha da fraqueza e da passividade. É crer mais na força da verdade, da justiça e do amor do que nas forças das guerras, das armas e do ódio.”

“A única guerra legítima é aquela que se faz contra o subdesenvolvimento e a miséria.”

Raízes do mal
Em 1974, Dom Helder foi convidado a falar no Fórum Econômico
Mundial de Davos (Suíça), a meca do liberalismo.

“Não se deve esquecer que, se a miséria e a injustiça são ainda mais insuportáveis no terceiro mundo, as maiores raízes do mal estão no coração, nos interesses e nas práticas dos países ricos, com a cumplicidade dos ricos dos países pobres.”

Desumanizados pelo egoísmo

“Nós devemos ter a caridade de ajudar os ricos a se livrarem do egoísmo, do excesso de conforto e da aceitação do que é efêmero; enfim, do perigo de escandalizar nossos irmãos não-cristãos, passando-lhes uma ideia errônea do Cristo e da sua doutrina.”

Viva a utopia!

“Não é preciso nunca ter medo da utopia. Gosto muito de repetir: Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia
partilhada é a mola da história.”

“A pior coisa que se pode tirar de um jovem são as razões para ter esperança. Tenham a coragem de lutar, para que elas lhes sejam devolvidas. E não somente de lutar: de se sacrificar, se necessário for.”

Dom Luciano Mendes, arcebispo de Mariana:

“Dom Helder percorreu o mundo para pregar o fim da violência e do racismo, o fim das guerras e das desigualdades sociais. Ele mostrou o absurdo de se gastar com as armas dinheiro que seria suficiente para alimentar as multidões do terceiro mundo. Ele chamou ao respeito devido à natureza, aos direitos à vida e às exigências da justiça. Soube despertar nos jovens a vontade de viver e de fazer o bem. Comunicou a muitos corações a fome e a sede de Deus. Sabia unir na mesma amizade pobres e ricos. Ele não criticava ninguém.”

Leonardo Boff:

“Dom Helder, mais que pastor e profeta, foi um homem inteiro. Nele a humanidade reluzia na sua forma mais eminente. A inteireza humana se revela pelo coração. Seu coração tinha as dimensões do mundo. Foi o coração que o levou a amar incondicionalmente as pessoas, a natureza, o mundo e Deus. Demonstrava enternecimento para com cada pessoa que encontrava. Mas especialmente demonstrava ternura pelos pobres que abraça como irmãos e irmãs.”

Bibliografia de Dom Helder em português
Revolução dentro da paz. Rio de Janeiro: Sabiá, 1968.
Um olhar sobre a cidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976 (6. ed. 1985).
Mil razões para viver: meditações do Pe. José. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 (7. ed. 1985).
Nossa Senhora no meu caminho: meditações do Pe. José. São Paulo: Paulinas, 1981 (5. ed. 1988).
Em tuas mãos, Senhor! São Paulo: Paulinas, 1986.
Quem não precisa de conversão? São Paulo: Paulinas, 1987.
Um olhar sobre a cidade: olhar atento, de esperança, de prece. São Paulo: Paulus, 1995.
Vaticano II: Correspondência Conciliar – Circulares à família do São Joaquim. Introdução e notas de Luiz Carlos
Marques. Vol. I/tomo 1: 1962-1964. Recife: IDHeC, Editora Universitária – UFPE, 2004.

Bibliografia sobre Dom Helder em português
BARROS, Marcelo. Dom Helder, profeta para o nosso tempo. Goiás: Rede da Paz, 2006.
BROUCKER, José. As noites de um profeta: Dom Helder Camara no Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 2008.
CASTRO, Gustavo do Passo. As comunidades do Dom: um estudo sobre as CEBs no Recife. Recife: Fundação
Massangana, 1987.
CASTRO, Marcos de. Dom Helder, o bispo da esperança. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
CONDINI, Martinho. Dom Helder, um modelo de esperança. São Paulo: Paulus, 2008.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES. Walter. Dom Helder Camara, o profeta da paz. 2. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
ROCHA, Abelardo Baltar da S. Ferreira & CHAGAS. Glauce. Um furacão varre a esperança: o caso Dom Helder. Recife:
Fundarpe, 1993.
ROCHA, Zildo (org.). Helder, o Dom: uma vida que marcou os rumos da Igreja no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1999.
SANTANGELO, Enzo. Helder Camara: a voz dos que não têm voz. São Paulo: Loyola, 1983.
TEN KATHEN, Nelmo Roque. Uma vida para os pobres: espiritualidade de Dom Helder Camara. São Paulo: Loyola, 1991.

Compilação de Gilvander Moreira, frei O.Carm. e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br
www.gilvander.org.br

[EcoDebate, 09/02/2009]

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