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‘Grande Adão Pretto, deixará saudades a todos’. Testemunho de João Pedro Stédile

Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou. O critério básico que usava em sua vida e na participação política era se perguntar, o que interessa aos trabalhadores?”. A afirmação é de João Pedro Stédile, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina, sobre o deputado federal Adão Pretto que faleceu nesta quinta-feira em Porto Alegre.

Eis o testemunho.

Conheci nosso querido Adão Pretto, há mais de 30 anos. Conhecemos-nos numa atividade de pastoral da diocese de Frederico, aonde ele era um líder de sua comunidade e ministro da eucaristia. Frei Sergio Gorgen o apresentou fazendo muito boas referencias, de que se tratava de um pequeno agricultor, lutador, honesto, trabalhador, pai de nove filhos. E que tinha muito futuro. Criava sua família com o trabalho na roça, nas costas do rio Miraguai.

Naqueles tempos de ditadura militar, era muito difícil encontrar pessoas corajosas, que se dispusesse a defender os interesses da comunidade. Desde o inicio o admirei por sua sensibilidade social, por sua coerência, e franqueza. Nos encontros, costumava colocar em versos singelos, as idéias que matutava e as avaliações que fazia da política. Por sua liderança e dedicação, foi eleito presidente do sindicato dos trabalhadores rurais do município de Miraguai, naqueles finais da década de setenta, na onda das oposições sindicais, que renovaram nosso movimento sindical.

No sindicato, dedicou-se a organizar os pequenos agricultores na luta por preços melhores, e também, com tantos sem-terras na sua base, passou a organizar o movimento dos sem terra. Logo, transformou- se numa referencia política em toda região. Lembro dele, também, da Romaria da Terra que realizamos em 1981, na encruzilhada Natalino, com nosso primeiro grande acampamento. Adão Pretto declamou com um filho pequeno, uma trova gauchesca denunciando as formas capitalistas de exploração dos pequenos agricultores e a necessidade da luta. Impactou a todos os mais de 25 mil participantes.

O tempo foi passando, e em 1986 organizamos a maior ocupação de terras no Rio Grande do sul, que foi a então fazenda Anoni. Com mais de 2,5 mil famílias. E lá estava o Adão Preto.

Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado estadual. Seria o primeiro deputado estadual camponês a tomar posse na assembléia legislativa. Uma grande vitória do movimento camponês do Rio grande do sul. No inicio muitos colunistas da imprensa burguesa, riam de seu pouco estudo, afinal tinha apenas a terceira série do primário. A resposta veio numa atuação exemplar em defesa dos pequenos agricultores e sem-terras que impactou a toda sociedade gaúcha, e lhe deu o Premio Springer de melhor deputado.

Depois elegeu-se deputado federal, defendendo com a mesma garra e coerência na Câmara dos Deputados e no dia a dia, os interesses da classe trabalhadora. Adão Preto não era o parlamentar padrão, que conhecemos. Não gostava da tribuna. Mas estava presente em todas as lutas sociais que se realizaram nesses últimos vinte anos. E as fazia repercutir no parlamento, na forma de leis ou de denuncia. Sempre o mesmo. Simples. Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou. O critério básico que usava em sua vida e na participação política era se perguntar, o que interessa aos trabalhadores? E independente de tudo, os defendia.

Também, deu exemplo na sua forma de fazer campanha política. Nunca aceitou receber nenhum centavo de ajuda financeira de nenhuma empresas. Por mais que seus colegas o debochavam de perder oportunidades de receber polpudas ajudas das aracruzes, Vales, e outros corruptores. Todas as campanhas foram realizadas pela militância, e em debates das idéias e de projetos.

Os trabalhadores, o povo gaúcho perde um de seus grandes lutadores sociais. O MST e a Via Campesina perde um de seus líderes mais coerentes e dedicados. Todos nos perdemos. Mas fica seu exemplo. Que certamente o imortalizará.

Grande Adão Pretto, deixará saudades a todos.

Porto Alegre, 5 de fevereiro de 2009.

Joao Pedro Stedile

Nota do EcoDebate: o falecimento do dep. Adão Pretto é realmente uma grande perda para os movimentos sociais e populares, como bem destaca João Pedro neste sincero e sensível texto.

Em nome de nossa equipe e colaboradores nos solidarizamos neste momento de dor e expressamos nossa gratidão pelo compromisso de vida e pela destacada contribuição de Adâo Preto para com os movimentos sociais e as causas populares.

Também emitiram notas de pesar o MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MAB, Movimento dos Atingidos por Barragens e a CPT, Comissão Pastoral da Terra.

Henrique Cortez, coordenador do EcoDebate.

[EcoDebate, 06/02/2009]

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