O sucesso da Tailândia no controle da pandemia da covid-19
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A Tailândia tem sido considerada um caso de sucesso no controle da pandemia. Aliás, os países do leste asiático – de tradição cultural budista – como Myanmar, Vietnã, Laos e Camboja – apresentam impacto baixo do novo coronavírus. Um fato a ser considerado é que nestes países a tradição de “distanciamento social” está incorporada na cultura, na forma de se cumprimentar e no uso de máscaras e medidas preventivas contra epidemias. O fato é que a Tailândia, apesar de todo o contato comercial que mantém com a China (e com a Índia), conseguiu evitar a propagação comunitária do SARS-CoV-2 em larga escala. Consequentemente, evitou a perda de muitas vidas para a covid-19 e minimizou os prejuízos econômicos.
O primeiro registro de pessoa infectada na Tailândia ocorreu no dia 13 de janeiro de 2020, uma chinesa de 61 anos residente em Wuhan que estava de férias em Bangkok. O segundo caso ocorreu em uma mulher de 74 anos que também chegou Wuhan. A primeira vítima fatal foi um tailandês de 35 anos, que originalmente foi diagnosticado com Dengue, mas faleceu em 01/03.
O número de pessoas infectadas cresceu lentamente até 42 casos em 29 de fevereiro, e acelerou no mês de março até alcançar o pico em 03 de abril, quando o país registrou 1.978 casos. Mas o número de casos caiu rapidamente em abril e se manteve muito baixo nos meses seguintes, conforme mostra o gráfico abaixo. No dia 27 de julho a Tailândia (com 70 milhões de habitantes) registrou o total de 3.295 casos acumulados. Para efeito de comparação a cidade de Niterói (com 513 mil habitantes), uma das cidades consideradas de bom desempenho no controle da pandemia no Estado do Rio de Janeiro, registrou 8.693 casos acumulados, no dia 27/07/2020.
Depois da primeira morte em 01/03 na Tailândia, novas vítimas fatais ocorreram apenas no dia 24/03 (3 óbitos). O número máximo de mortes ocorreu no dia 03/04 com 4 óbitos. O pico da média móvel de 7 dias ocorreu no dia 12/04 (com 3 óbitos). A partir daí os números caíram rapidamente e há 2 meses não se registra qualquer vítima fatal. No dia 27 de julho a Tailândia registrou o total de 58 óbitos acumulados. Para efeito de comparação a cidade de Niterói, registrou 292 óbitos acumulados até o dia 27/07/2020.
A tabela abaixo apresenta alguns indicadores da covid-19 para a Tailândia, outros países do leste asiático, a Jamaica (um dos países com mais de 2 milhões de habitantes menos afetado da América Latina) e o mundo. Nota-se que a Tailândia tem um coeficiente de incidência de apenas 47 casos por milhão de habitantes, enquanto é de 284 casos por milhão na Jamaica, 2,1 mil casos por milhão no mundo e impressionantes 11.539 casos por milhão no Brasil. O coeficiente de mortalidade na Tailândia é de apenas 1 óbito por milhão, enquanto é de 3 por milhão na Jamaica, 84 por milhão no mundo e 414 óbitos por milhão no Brasil. Em Myanmar, Camboja e Laos o controle da pandemia foi ainda mais efetivo.
Uma das explicações para o sucesso tailandês foi a efetividade de uma vasta rede de mais de um milhão de voluntários de saúde, que foram de porta em porta verificar temperaturas, distribuir conselhos de saúde pública e eliminar informações erradas. O Brasil também tem os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que poderiam atuar da mesma maneira. Mas infelizmente, não foi o que ocorreu.
A Tailândia e seus vizinhos são a demonstração de que o descontrole da pandemia não é um destino inevitável. Ao contrário, com sabedoria, esforço e sinergia entre o Poder Público e a Sociedade Civil a invasão do vírus foi detida. O Brasil – o segundo país mais atingido no mundo – está pagando o preço do descaso e da incompetência do governo Federal. A Tailândia evitou as baixas e já retomou a economia, enquanto o Brasil continua sofrendo uma crise na saúde e na economia.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/07/2020
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