Vale do Javari: Ação com médicos dos EUA é atitude de desespero, diz líder indígena do Amazonas
Segundo o Conselho Indigenista do Vale do Javari (Civaja), 20 médicos dos Estados Unidos aceitaram o convite feito pelo Civaja para prestar socorro humanitário aos povos da Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas. O líder indígena Beto Marubo informou pelo telefone que o coordenador do Civaja Clóvis Rufino Marubo pediu autorização à Polícia Federal (PF) em Tabatinga para a entrada dos estrangeiros em território brasileiro, mas que a autorização foi negada, pois eles não possuíam o visto necessário para entrar e trabalhar no país, o que caracterizaria prática ilegal da medicina. Por Beth Begonha, Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
O grupo decidiu então que montaria uma estrutura de atendimento no lado peruano, na margem oposta de onde se situa a cidade de Atalaia do Norte, última antes da entrada em território indígena. O Rio Javari delimita a fronteira entre os dois países. Segundo Beto Marubo, essa é uma medida de desepero.
O líder reconhece que a operação com os norte-americanos é controversa. Já houve polêmica envolvendo coleta de sangue de indígenas brasileiros e venda de amostras pela internet por um laboratório localizado nos Estados Unidos.
Ele afirma desconhecer o nome da organização à qual esses médicos seriam vinculados, bem como os procedimentos previstos para serem executados por eles, e reconhece: “Essa é uma atitude de desespero, que ocorre em função de tudo que os nossos parentes vêm passando. Sabemos que essa situação é dúbia, e, dentro dessa perspectiva, pode ser até perigosa para os nossos povos. Nem todos apóiam, mas já há lideranças mais antigas nas aldeias que afirmam não acreditar mais no governo brasileiro e pedem que se levem esses médicos até lá.”
De acordo com Beto, hoje apenas um médico cuida da saúde indígena dos mais de 3 mil índios do Vale do Javari, há menos de 20 profissionais de saúde na área e não há um único barco da Funasa funcionando. “Essa é uma forma de chamar a atenção do Brasil para a gravidade da nossa situação e para o desespero de nossos povos.” A Funasa confirma que todos os seus barcos para o local se encontram em manutenção.
Procurada pela reportagem, a Fundação Nacional do Índio (Funai) respondeu, por intermédio de sua assessoria, que o grupo de estrangeiros não tem autorização para entrar em terra indígena, e que só se pronunciaria sobre a situação posteriormente.
O diretor de Saúde Indígena da Funasa, Wanderlei Guenka, se disse preocupado com o acesso desses médicos aos índios, e afirmou ter acionado o coordenador Regional da Funasa do Estado do Amazonas, Narciso Barbosa, para que verifique a situação em Atalaia do Norte.
Guenka afirmou que a situação de saúde dos povos que vivem no Vale do Javari é gravíssima, e que a Funasa, sozinha, não é capaz de realizar as medidas necessárias para o atendimento da população.