Alimentação: Ultraprocessados ganham espaço e somam 18,4% das calorias adquiridas em casa
Por Alerrandre Barros – Arte: Brisa Gil – IBGE
A disponibilidade de alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários processados nos domicílios brasileiros perdeu espaço para a comida processada e, sobretudo, a ultraprocessada, em 15 anos. A conclusão faz parte do módulo Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/2018, divulgada pelo IBGE.
Quando se compara a evolução da aquisição de alimentos das pesquisas realizadas pelo Instituto, observa-se que em 2002/2003, os alimentos ultraprocessados subiram de 12,6% para 16% das calorias totais em 2008/2009, e agora chegaram a 18,4% na última pesquisa, um aumento de cerca de seis pontos percentuais nesse período.
Já a evolução da aquisição de alimentos in natura ou minimamente processados era de 53,3% das calorias totais na POF 2002/2003, caindo para 50,4% em 2008/2009, e chegando agora a 49,5%. Esses dados refletem a disponibilidade domiciliar de alimentos calculada em calorias e não o consumo individual de alimentos, que ainda será divulgado pelo IBGE.
O Ministério da Saúde recomenda, no Guia Alimentar para a População Brasileira, que a alimentação no país deve ser baseada em uma grande variedade de alimentos in natura ou minimamente processados. Também orienta que ingredientes culinários processados e alimentos processados devem ser usados em pequenas quantidades nas preparações culinárias. O guia destaca, porém, que o consumo de alimentos ultraprocessados deve ser evitado, pois têm composição nutricional desbalanceada e favorecem o consumo excessivo de calorias.
Embora a aquisição dos ultraprocessados tenha aumentado continuamente no país, o analista da pesquisa, José Mauro de Freitas, observa uma desaceleração nessa tendência.
“Isso é visto no meio urbano e rural e em todas as regiões e estratos de renda, e pode ser o resultado de políticas públicas implementadas no período mais recente, com destaque para ações baseadas no guia, que recomenda incluir alimentos in natura ou minimamente processados em suas preparações culinárias e evitar alimentos ultraprocessados”, diz.
Cerca de metade das calorias adquiridas vem de alimentos in natura
Entre 2017 e 2018, período de realização da POF divulgada hoje, cerca de metade (49,5%) das calorias totais disponíveis para consumo nos domicílios brasileiros provinham de alimentos in natura ou minimamente processados. Já 22,3% vinha de ingredientes culinários processados, 9,8% de alimentos processados e 18,4% de alimentos ultraprocessados.
Dentre os alimentos in natura e minimamente processados, o arroz correspondia a 15,6% das calorias totais, vindo, a seguir o leite, com 5%, as carnes, com 4,6%, e o feijão, com 4,3%. Entre os ingredientes culinários processados mais adquiridos pelos brasileiros, o óleo vegetal correspondia a quase 11% das calorias totais, seguido pelo açúcar, com quase 10%.
Já no grupo dos alimentos processados, o de maior contribuição para as calorias totais foi o pão (6,7%), seguido de queijos (1,4%), carnes salgadas/secas/defumadas (0,7%) e bebidas alcoólicas fermentadas (0,7%). E dentre os alimentos ultraprocessados, destacaram-se frios e embutidos (2,5%), biscoitos e doces (2,1%), biscoitos salgados (1,8%), margarina (1,8%), bolos e tortas doces (1,5%), pães (1,3%), doces em geral (1,3%), bebidas adoçadas carbonatadas (1,2%) e o chocolate (1%).
Quanto maior a renda, maior a aquisição de ultraprocessados
A pesquisa mostra, também, que as famílias com rendimento maior adquiriam o dobro de alimentos ultraprocessados que as famílias com renda menor. Enquanto a disponibilidade desse tipo de alimento, que deveria ser evitado, era de 12,5% do total de calorias nos lares com rendimento mais baixo, nas casas com maior faixa de renda era o dobro, chegava a 24,7%.
Além da maior aquisição de ultraprocessados, as famílias com maior rendimento adquiriam mais alimentos processados que as com menor faixa de renda (11,1%, contra 8,4% das calorias totais). Por outro lado, as famílias com menor poder aquisitivo adquiriam mais alimentos in natura ou minimamente processados que as com maior renda (55,6% contra 44,2%). A aquisição de ingredientes culinários processados também era maior nas casas com os menores rendimentos.
Aquisição de ultraprocessados é o dobro no meio urbano
Na área rural das cidades a participação de alimentos in natura ou minimamente processados no total das calorias adquiridas foi maior que no meio urbano (57,9% e 47,7%, respectivamente), assim como a de ingredientes culinários processados (25,3% contra 21,7%). Por outro lado, tanto a participação de alimentos processados quanto a de alimentos ultraprocessados foi maior no meio urbano do que no meio rural (11,3% e 19,8% contra 5,5% e 10,7%).
“A oferta de ultraprocessados no campo é menor. Esses produtos estão nos mercados, que, por sua vez, estão concentrados na área urbana. Na área rural, ainda é muito comum a produção para consumo próprio. Ocorre também trocas de alimentos entre os produtores, daí a aquisição de produtos in natura ser maior nessas regiões”, explica José Mauro de Freitas Júnior.
Sul e Sudeste adquirem mais ultraprocessados que demais regiões
Já nas grandes regiões do país, a participação de alimentos ultraprocessados no total calórico da disponibilidade alimentar foi maior no Sul (22%) e no Sudeste (21,4%). Nessas duas regiões a participação de alimentos do tipo é maior do que no Centro-Oeste (16,6%), no Nordeste (14,4%) e no Norte (11,4%).
O contrário acontece entre os alimentos in natura ou minimamente processados, cujo total calórico da disponibilidade alimentar foi maior no Norte (58,2%) e no Nordeste (54,5%). Em seguida vem o Centro-Oeste (50,7%), o Sudeste (44,9%) e o Sul (47,3).
Os ingredientes culinários processados e de alimentos processados no total calórico apresentou menores variações, ficando, respectivamente, entre 20% e 25% e entre 8% e 10% em todas as regiões.
No grupo de alimentos in natura ou minimamente processados, a farinha de mandioca e peixes foram os destaques no Norte. O feijão e a farinha de milho e fubá no Nordeste. O arroz foi o item com maior participação no total calórico no Centro-Oeste, já no Sul, foi a farinha de trigo.
Entre os ingredientes culinários processados, destaque para a maior participação do óleo vegetal e da gordura animal no Centro-Oeste e do açúcar no Nordeste. No grupo de alimentos processados, destaca-se a maior participação de pães no Norte e Nordeste e de queijos no Sul e Sudeste.
No grupo de alimentos ultraprocessados, com exceção de biscoitos salgados, que são mais consumidos no Nordeste, e da margarina, que é mais consumida no Nordeste e Sudeste, os demais subgrupos seguem o padrão observado para o conjunto dos alimentos ultraprocessados: maior participação na disponibilidade calórica no Sul e Sudeste, seguida pelo Centro-Oeste e participação menor no Norte e Nordeste.
Do IBGE, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/04/2020
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