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Pesquisa da Unifesp revela impacto da exposição ao mercúrio na memória de longa duração

 

contaminação por mercúrio

Pesquisa da Unifesp revela impacto da exposição ao mercúrio na memória de longa duração

Mercúrio, substância neurotóxica encontrada em agrotóxicos e em desastres ambientais, revela necessidade de maior preocupação com políticas públicas ligadas ao meio ambiente

Por Matheus Campos e Denis Dana

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com a Universidade Nacional Autônoma de Honduras, revelou os impactos nocivos que a exposição ao mercúrio tem sobre a saúde humana.

Tópico ainda pouco abordado no meio acadêmico, o estudo relaciona o metal, mesmo exposto em baixas concentrações, às consequências no comportamento e na memória de longa duração de roedores. A pesquisa foi publicada no periódico Environmental Science and Pollution Research.

“Os compostos de mercúrio conseguem atingir o cérebro e são de difícil eliminação, o que leva à bioacumulação desse metal e a alteração do funcionamento normal das células no sistema nervoso”, explica Carla Scorza, pesquisadora do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Unifesp.

O mercúrio é absorvido e acumulado gradativamente no organismo humano, e mesmo em baixas concentrações, representa uma grande ameaça à saúde humana, com grande impacto nas populações cuja dieta tem peixes como consumo principal. “Dejetos ricos em compostos de mercúrio, como os encontrados em desastres ambientais como o de Mariana (MG), ao atingirem os rios acabam por se acumular em peixes e outros animais desse ecossistema. Dessa forma, populações ribeirinhas, que têm na pesca sua principal fonte de alimentação, acabam mais expostas a esses metais”, explica Leandro F. Oliveira, pesquisador do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Unifesp.

O estudo teve início em 2015, ano em que houve o trágico rompimento da Barragem em Mariana (MG), o que fez com que a equipe de pesquisadores também observasse como os desastres ambientais deixam dejetos resultantes da mineração que aumentam a exposição dos seres humanos ao mercúrio.

“A contaminação do meio ambiente por mercúrio é motivo de preocupação. Além dos desastres ambientais, e aqui podemos citar não só esse de Mariana como também, mais recentemente, os incêndios na região Amazônica”, explica Carla Scorza. “Outra fonte perigosa de mercúrio está na agricultura, por meio dos agrotóxicos. Eles fazem com que cada vez mais pessoas vivenciem uma espécie de contaminação silenciosa, sob risco de sofrerem impactos no sistema nervoso”, complementa.

Na prática, o estudo revelou que a exposição crônica ao mercúrio por um período de 30 dias, prejudica a memória de longa duração de roedores, que é a capacidade de reter certa quantidade de informação por longo período de tempo. O metal também provoca mudanças no comportamento, ampliando quadros de ansiedade.

Testes em ratos

Para comprovar a relação entre o metal e o prejuízo à memória de longa duração, os pesquisadores fizeram testes em 22 ratos. Metade destes animais foi injetada com baixas doses de cloreto de mercúrio, no período de 30 dias, enquanto que os demais roedores receberam solução salina.

Todos os animais foram testados em um aparato (labirinto em cruz elevado) para avaliar a ansiedade e a memória. Os ratos que receberam mercúrio apresentaram aumento do comportamento tipo ansioso e prejuízo da memória de longa duração. As memórias derivam de alterações na transmissão sináptica entre os neurônios. Então, por meio de estudos da atividade eletrofisiológica no hipocampo, uma estrutura do cérebro localizada nos lobos temporais, os pesquisadores avaliaram a potenciação de longa duração, um fenômeno cerebral implicado na formação da memória, e verificaram que o mercúrio prejudica a plasticidade sináptica.

Por fim, os pesquisadores detectaram o aumento do estresse oxidativo no hipocampo dos ratos expostos ao metal tóxico, um evento deletério que pode causar a morte de células cerebrais nos animais.

Os autores concluíram que mesmo as baixas concentrações de mercúrio não devem ser subestimadas, uma vez que são capazes de prejudicar o funcionamento cerebral. Dessa forma, o grupo chama atenção para a importância do fortalecimento de políticas públicas ambientais, maior fiscalização e prevenção da contaminação, capaz de impactar, de forma irreversível, as populações expostas ao mercúrio e outros metais pesados tóxicos.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/02/2020

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