O tempo não é o clima. Entrevista com Jeremy Rifkin
Média global mensal e anual perto da superfície. Temperaturas entre 1850 e junho de 2008 em relação à temperatura média no período entre 1961 e 1990, com base nos dados das medições de temperatura do ar de estações meteorológicas. Fonte: HadCRUT.
Um Réveillon com um casaco pesado, alguns aeroportos fechados pela neve e logo o ataque dos ecocéticos: “O aquecimento global (global warming) está enfraquecendo”. Há verdadeiramente uma inversão de tendência? “Na literatura científica internacional, não existe sinal dessas dúvidas”, responde em seu escritório de Washington Jeremy Rifkin, presidente da Foundation on Economic Trends. “Talvez, na Itália, ainda exista alguém que confunda o tempo com o clima. Porém, o conceito é simples: tentarei repeti-lo. Para entender aonde o clima vai, deve-se observar os longos períodos, levar em consideração a sequência dos anos. E desse ponto de vista, o quadro é claro: os anos 80 foram os mais quentes da história da meteorologia, os 90 ganharam dos 80, e este início de século segue a tendência de elevação da temperatura”.
A reportagem é de Antonio Cianciullo, publicada no jornal La Repubblica, 13-01-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
* Mesmo com um Natal frio?
Bom, agora, falamos exatamente do tempo, isto é, da meteorologia que, entre outras coisas, está se comportando exatamente segundo as previsões dos cientistas da ONU: aumentam os eventos extremos. Nesse caso, na verdade, não se registrou nem ao menos um evento extremo. Não existe simplesmente uma progressão mecânica; não ocorre que cada Natal seja um pouco mais quente do que o anterior, ano após ano, de modo geométrico. Registram-se saltos tanto para cima quanto para baixo: o que conta é a tendência.
* E a tendência nos leva para qual direção?
A uma direção péssima. As previsões do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] já são preocupantes, mas James Hansen, o climatologista mais importante dos Estados Unidos, depois de uma longa pesquisa de campo anunciou um alarme que deve nos fazer refletir: parar a concentração do monóxido de carbono na atmosfera para 450 partes por milhão não é suficiente se queremos evitar um cenário catastrófico.
Já superamos as 380 partes, e permanecer na cota de 450 é considerado um objetivo ambicioso.
Hansen fez carotagens [técnica que permite remover porções de material no interior de uma broca tubular diamantada, por meio de perfurações] no fundo do oceano e reconstruiu o que ocorreu no passado, quando a concentração de monóxido de carbono aumentou muito velozmente. Se permanecermos na cota de 450, mesmo que por poucos meses, alcançaremos o tipping point, isto é, o limiar sem retorno, e a temperatura subirá rapidamente em seis graus: um salto que envolveria o fim da nossa civilização.
* Qual é o teto que não pode ser superado?
As 350 partes por milhão. Isto é, um valor inferior ao atual: devemos fazer com que se reduza a concentração de monóxido de carbono dando início a planos como o proposto pelo governo da Grã-Bretanha: investir em eficiência e em fontes renováveis para chegar a cortar as emissões de gases estufa em 80% até 2050.
* Investir com essa crise econômica?
A crise nos ajuda, porque o modelo da terceira revolução industrial, baseada na energia difusa, nas fontes renováveis e na eficiência, é a única possibilidade para dar novamente a partida no motor da economia.
* O plano de Obama sobre as energias renováveis.
Esse plano cobre só uma parte das possibilidades: falta uma visão coerente do conjunto. Não basta limitar-se a criar qualquer parte da economia que funcione: deve-se construir a infra-estrutura necessária à terceira revolução industrial, e, desse ponto de vista, o papel dos edifícios é determinante. Deveremos ter milhões de casas e de escritórios que, em vez de consumir energia, irão produzir usando o sol, o vento, a reciclagem dos dejetos. Deveremos nos mover com veículos com emissão zero, que usam hidrogênio obtido com energia renovável. Deveremos refinar a tecnologia das fontes renováveis usando também geotermia, marés, ondas. Só desse modo conseguiremos resolver juntas as três grandes crises que nos ameaçam: a crise das finanças globais, a crise da segurança energética e a crise das mudanças climáticas.
* Quem será o protagonista dessa revolução?
Do ponto de vista político, a União Européia tem muitas cartas na mão, porque a sua visão estratégica é centrada na qualidade de vida: aponta ao aumento da eficiência, à conciliação do mercado com a proteção social, a encontrar soluções que levem em conta a coletividade e não só o indivíduo. Do ponto de vista industrial, é necessário compensar os 20 anos passados acumulando dívidas e investindo pouco em inovação e pesquisa. Por isso, construímos a Mesa dos líderes de negócios da terceira revolução industrial. Centenas de pessoas já aderiram, entre presidentes e administradores delegados das mais importantes indústrias em nível global nos setores estratégicos: as fontes renováveis, a construção avançada, os transportes de baixo impacto ambiental, as redes inteligentes. Serão eles que demonstraram que hoje a cor dos negócios é verde.
(Ecodebate, 24/01/2009) publicado pelo IHU On-line, 22/01/2009 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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