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Notícia

Como super-predadores, os humanos causam adaptações em suas presas, por Henrique Cortez

Pesca do salmão, em foto de Andrew Hendry
Pesca do salmão, em foto de Andrew Hendry

[EcoDebate] Agentes da seleção natural, incluindo os predadores, continuamente reformulam as características observáveis das populações predadas. Humanos predadores, como os pescadores e caçadores, porém, normalmente caçam/pescam animais adultos em idade reprodutiva, em proporções maiores do que os outros predadores e isto está, rapidamente, levando a alterações nas populações predadas.

É o que afirma o estudo “Human predators outpace other agents of trait change in the wild“, de Chris T. Darimont, Stephanie M. Carlson, Michael T. Kinnison, Paul C. Paquet, Thomas E. Reimchen, and Christopher C. Wilmers, publicada na revista online Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Ao combinar os dados de estudos publicados anteriormente, relativos a 40 sistemas de caça/pesca usados por humanos (peixes, ungulados, invertebrados e plantas), Chris Darimont et al. Fizeram uma comparação das taxas de variação fenotípica em populações predadas por humanos, em relação aos os sistemas naturais, procurando por traços mudança e quais sistemas experimentaram outros distúrbios eventualmente causados por humanos.

Globalmente, as taxas de mudança nas populações ultrapassou as mudanças devidas a agentes naturais por quase 300% e outros agentes antropogênicos em 50%.

A caça/pesca comercial nos sistemas naturais apresentou o maior efeito, segundo os autores. Os organismos predados por humanos mostram algumas das mais rápidas mudanças, em escala nunca observada em populações selvagens, oferecendo novos insights sobre quão rapidamente os organismos são capazes de de se adaptar e mudar.

As características morfológicas declinaram em quase 20% e a sua capacidade reprodutiva foi reduzida em quase 25%. Estes fatores tem grande impacto em uma população animal ou vegetal, com potencial de causar danos irreparáveis para populações, sistemas de caça/pesca e aos ecossistemas associados, dizem os autores.

Segundo Darimont. “Como predadores, os humanos são uma força dominante evolutiva.”

As conclusões do estudo também aumentam, dramaticamente, a compreensão científica da capacidade dos organismos para mudar. “Essas mudanças ocorrem também nas nossas vidas“, disse Darimont. “Caça e pesca comercial tem a capacidade de despertar a capacidade latente de organismos para mudar rapidamente.”

Algumas alterações observadas representam alterações genéticas subjacentes, transmitidas de uma geração para a seguinte. Por exemplo, a evolução pode favorecer pequenos peixes que, devido ao tamanho menor do que a média da espécie-alvo, passam através das malhas das redes de pesca.

Aqueles indivíduos menores são mais susceptíveis de sobreviver, reproduzir, e passar os genes para os descendentes, explica Darimont. Em contrapartida, algumas mudanças prováveis não envolvem alterações genéticas, por um processo denominado plasticidade, no qual as adaptações podem apenas se referir à reprodução e à abundância ou escassez de alimentos. Essas mudanças plásticas podem ser facilmente revertidas com o correto manejo da exploração, mas este não é, provavelmente, é o caso de alterações genéticas.

A pesca comercial, por exemplo, tem devastado as populações do bacalhau do Atlântico na costa leste do Canadá, onde bacalhau iniciava sua maturidade reprodutiva aos seis anos de idade. Eles agora se reproduzem em uma média de idade de cinco anos, uma mudança que ocorreu em menos de duas décadas.

Os autores também alertam que os resultados do estudo são um indicativo sobre a viabilidade comercial das indústrias, que enfrentarão sérios problemas no futuro, tanto pela redução dos estoques como pelas mudanças nas características das espécies coletadas.

O artigo “Human predators outpace other agents of trait change in the wild” está disponível para livre e integral acesso. Para acessar o artigo clique aqui.

Abaixo transcrevemos o abstract:

Human predators outpace other agents of trait change in the wild
Published online before print January 12, 2009, doi: 10.1073/pnas.0809235106

Abstract
The observable traits of wild populations are continually shaped and reshaped by the environment and numerous agents of natural selection, including predators. In stark contrast with most predators, humans now typically exploit high proportions of prey populations and target large, reproductive-aged adults. Consequently, organisms subject to consistent and strong ‘harvest selection’ by fishers, hunters, and plant harvesters may be expected to show particularly rapid and dramatic changes in phenotype. However, a comparison of the rate at which phenotypic changes in exploited taxa occurs relative to other systems has never been undertaken. Here, we show that average phenotypic changes in 40 human-harvested systems are much more rapid than changes reported in studies examining not only natural (n = 20 systems) but also other human-driven (n = 25 systems) perturbations in the wild, outpacing them by >300% and 50%, respectively. Accordingly, harvested organisms show some of the most abrupt trait changes ever observed in wild populations, providing a new appreciation for how fast phenotypes are capable of changing. These changes, which include average declines of almost 20% in size-related traits and shifts in life history traits of nearly 25%, are most rapid in commercially exploited systems and, thus, have profound conservation and economic implications. Specifically, the widespread potential for transitively rapid and large effects on size- or life history-mediated ecological dynamics might imperil populations, industries, and ecosystems.

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate, com informações de Jennifer McNulty, University of California – Santa Cruz, 15/01/2009]

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