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Notícia

Estudo afirma que a privatização e as reformas econômicas ‘elevaram mortalidade em ex-países comunistas’

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Estudo liga alta mortalidade em ex-países comunistas a privatizações – Um estudo britânico sugere que o drástico aumento da mortalidade masculina no início dos anos 90 em vários países que pertenciam à antiga União Soviética ou à sua esfera de influência está ligado às reformas e à rápida privatização em massa de empresas estatais que se seguiram ao colapso do comunismo.

Os pesquisadores ressaltam que as reformas provocaram um aumento rápido do desemprego e disseram que suas conclusões devem servir como alerta para outras nações que estejam começando a abraçar reformas amplas de mercado. * Matéria da BBC Brasil, 15 de janeiro, 2009 – 08h23 GMT (06h23 Brasília), com informações complementares do EcoDebate.

Foram examinadas as taxas de mortalidade entre homens com idade para trabalhar (15—59 anos) nas nações pós-comunistas do Leste Europeu e da antiga União Soviética, entre 1989 e 2002. Os pesquisadores concluíram que até um milhão destes homens morreram em virtude do choque econômico das políticas de privatização em massa.

Depois do colapso do velho regime soviético em meados da década de 90, pelo menos 25% das empresas estatais de grande porte foram transferidas para os setor privado em apenas dois anos.

O estudou, liderado pelo sociólogo David Stuckler, da Universidade de Oxford, associou o programa de privatizações a um aumento de 12,8% nos óbitos.

A análise relaciona este aumento no número de mortes a uma elevação de 56% na taxa de desemprego no mesmo período.

Estudos anteriores apontaram causas imediatas do aumento da mortalidade na região, como o alcoolismo e o desemprego. Também foi levantada a questão do impacto das privatizações sobre os sistemas de assistência médica e saúde.

Apoio social

Mas alguns países com uma boa rede de apoio social enfrentaram melhor as transformações bruscas, de acordo com os pesquisadores.

Em lugares onde 45% ou mais da população eram membros de pelo menos uma organização social, como igreja ou sindicato, a privatização em massa não levou a um aumento da mortalidade.

Rússia, Cazaquistão, Letônia, Lituânia e Estônia foram as mais afetadas, com uma triplicação do desemprego e um aumento de 42% nas mortes entre a população masculina no período de 1991 a 1994.

A população dos países ex-comunistas que adotaram um ritmo mais lento de mudanças, introduzindo gradativamente as condições de mercado livre e o desenvolvendo instituições apropriadas, se adaptou melhor. Albânia, Croácia, República Tcheca, Polônia e Eslovênia, que tiveram um aumento de apenas 2% no desemprego, viram a taxa de mortalidade da população masculina diminuir 10%.

“Deve ser tomado mais cuidado quando políticas macroeconômicas buscam transformar radicalmente a economia sem considerar o impacto potencial na saúde da população”, disse Stuckler.

O estudo foi divulgado na revista científica The Lancet.

Nota do EcoDebate: o artigo “Mass privatisation and the post-communist mortality crisis: a cross-national analysis“, publicada na revista online The Lancet, Early Online Publication, 15 January 2009, doi:10.1016/S0140-6736(09)60005-2, apenas está disponível para assinantes ou mediante pagamento.

Abaixo transcrevemos o abstract:

Summary

Background
During the early-1990s, adult mortality rates rose in most post-communist European countries. Substantial differences across countries and over time remain unexplained. Although previous studies have suggested that the pace of economic transition was a key driver of increased mortality rates, to our knowledge no study has empirically assessed the role of specific components of transition policies. We investigated whether mass privatisation can account for differences in adult mortality rates in such countries.

Methods
We used multivariate longitudinal regression to analyse age-standardised mortality rates in working-age men (15—59 years) in post-communist countries of eastern Europe and the former Soviet Union from 1989 to 2002. We defined mass privatisation programmes as transferring at least 25% of large state-owned enterprises to the private sector within 2 years with the use of vouchers and give-aways to firm insiders. To isolate the effect of mass privatisation, we used models to control for price and trade liberalisation, income change, initial country conditions, structural predispositions to higher mortality, and other potential confounders.

Findings
Mass privatisation programmes were associated with an increase in short-term adult male mortality rates of 12·8% (95% CI 7·9—17·7; p<0·0001), with similar results for the alternative privatisation indices from the European Bank for Reconstruction and Development (7·8% [95% CI 2·8—13·0]). One mediating factor could be male unemployment rates, which were increased substantially by mass privatisation (56·3% [28·3—84·3]; p<0·0001). Each 1% increase in the percentage of population who were members of at least one social organisation decreased the association of privatisation with mortality by 0·27%; when more than 45% of a population was a member of at least one social organisation, privatisation was no longer significantly associated with increased mortality rates (3·4% [95% CI ?5·4 to 12·3]; p=0·44).

Interpretation
Rapid mass privatisation as an economic transition strategy was a crucial determinant of differences in adult mortality trends in post-communist countries; the effect of privatisation was reduced if social capital was high. These findings might be relevant to other countries in which similar policies are being considered.

Funding
None.

[EcoDebate, 15/01/2009]

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