O que é o Sínodo para a Amazônia? artigo de Ricardo Luiz da Silva Costa
[EcoDebate] A Amazônia Continental, também designada de Pan-Amazônia, essa gigantesca região fisiográfica da América do Sul, de incomensurável riqueza natural e cultural, compartilhada, além do Brasil com mais oito países, quais sejam, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Inglesa, Guiana Holandesa (Suriname), Guiana Francesa, Peru e Venezuela, desta feita, conta com as bençãos e graças providenciais da Igreja Católica, que, de uma forma proativa, adota a iniciativa de abraçar as causas ecológicas e socioambientais vinculadas aos problemas e desafios que afetam os diferentes níveis de vida existentes, nesse grandioso e complexo bioma natural do Planeta.
Assim surge essa idéia do Sínodo da Amazônia, sob a convocação e liderança do Papa Francisco, que remonta desde 2015 a partir de sua carta encíclica Laudato si , um genuíno tratado ecológico-filosófico, que versa sobre os cuidados que todos devemos ter em mente e coração, em relação ao que o Santo Padre nomina de Casa Comum, a Terra, recordando outro Francisco, o de Assis, que em seu cântico Laudato Si, mi Signore (1224) Cântico das criaturas , traduzido ao português, Louvado Sejas, meu Senhor, se referia a Terra, ora como irmã, ora como mãe, ao dizer “Louvado sejas, meu senhor, pela nossa irmã, a mãe Terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”.
Em 2017, o Papa Francisco anuncia e convoca a assembléia especial do sínodo dos bispos para debater e repercutir sobre o tema: “Novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral”, com foco especial para o contexto pan-amazônico, o Sínodo para a Amazônia, a ser realizado em outubro deste ano (2019), no Vaticano.
Em rigor, a síntese dessa encíclica papal, em nome de uma igreja universal, encerra como princípio norteador “a defesa da vida, da terra e das culturas” com enfoque central na concretização do pensamento defendido pela tese do Papa Francisco, de conversão pastoral e ecológica, tendo como premissa a concepção dialética de uma ecologia ntegral, a partir das realidades socioambientais degradantes, de águas, florestas, biodiversidade e povos originários, vivenciadas na região da Pan-Amazônia; ou seja, uma concepção teórica a ser implementada pela igreja que promova transformações radicais de sentimentos e comportamentos à nível de consciência individual, no seio da comunidade católica, sobretudo nos seus modos de pensar e agir em relação aos modos de produção e consumo de bens e serviços que afetam a vida, desde o ambiente natural de onde são extraídos, passando por aonde serão descartados, até o socioeconômico envolvido nesses processos, segundo regimes técnico-científicos sustentáveis, resilientes e responsáveis. E por fim, como tais tranformações repercutirão positivamente em condições de vida digna e feliz para os amazônidas, de todas as fácies da Amazônia, em especial daqueles segmentos mais esquecidos e vulneráveis da sociedade amazônida. Que eles sejam ouvidos e atendidos. Somente assim, conforme essa cosmovisão eclesial, ora defendida pelo Santo Padre, será possível atingir essas transformações com perspectiva integral. Segundo a qual, em referência a esse sínodo, diz o Papa, “a defesa da Terra não tem outra finalidade que a defesa da vida”.
Nesse desiderato, em janeiro de 2018, o Santo Padre, em viagem ao Peru, na cidade de Puerto Maldonado, fez questão de reunir para ouvir os povos indígenas da Amazônia, e naquela ocasião anunciava, entre as boas novas, que aquele encontro significava também, a primeira reunião, como conselho pré-sinodal, de uma série de reuniões preparatórias, a serem realizadas em diferentes localidades da pan-amazônia, com vistas à realização do Sínodo Especial para a Amazônia agendado para outubro deste ano, contando com a presença de bispos atuantes na região.
Desse modo, entre os dias 07 a 09 deste mês, a Arquidiocese de Manaus, em parceria com a ONG Fundação Amazônia Sustentável-FAS, realizou um seminário preparatório com vistas ao Sínodo da Amazônia, envolvendo a participação da sociedade civil, de organizações militares, e membros de igrejas, em que foram discutidos aspectos de cunho social, econômico e ecológico atuais da região, distribuídos em grupos temáticos de discussão, que a organização do seminário nominou de “Agenda de diálogos e encontros para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, versando sobre: tráfico de pessoas, abusos contra mulheres e crianças e a prostituição; proteção dos territórios indígenas; espiritualidade e cultivo de virtudes; proteção de rios e lagos; desmatamento e degradação florestal; obras de infraestrutura; mudanças climáticas e impacto econômico. E cujos resultados foram bastante ricos, no que se refere a qualidade de informações levantadas, tendo em vista as contribuições da Arquidiocese de Manaus para o grande encontro do Sínodo da Amazônia, no Vaticano.
A ideia é nobre, a iniciativa é oportuna e o intuito, além de estimulante, é regenerativo para a humanidade. Quer dizer, a Igreja Católica por intermédio de sua autoridade moral maior, o Santo Padre, propõe aos seus fiéis e as demais religiões do mundo uma nova visão e caminhada que destaca a natureza como expressão maior e mais perfeita da criação divina, incluindo a humanidade enquanto criatura, e coloca a Amazônia Continental como modelo natural representativo da gênese divina dos dias atuais, que, por isso é dever da humanidade administrar e zelar com todo desvelo e responsabilidade esse patrimônio universal, que pode ser finito e fatídico se não for bem administrado. Ademais, dispõe da estrutura organizacional e da capilaridade da Igreja para fazer chegar essa mensagem de reconciliação e regeneração do homem fiel com a natureza leal, em todos os lugares, nas cidades e nos campos; nos distritos e nas ocas indígenas.
À primeira vista, a proposta da Igreja é educativa, de promoção social em sua esfera de atuação, no sentido do esclarecimento e da sensibilização, enfim, de empoderamento dos fiéis em prol das causas justas e nobres da humanidade e da natureza, em defesa da vida e da sobrevivência das espécies, incluindo a humana.
Por enquanto, vislumbramos apenas sementes, ainda sendo lançadas, em solos de todos tipos e padrões, no entanto, tal como na parábola do semeador, esperamos que essas sementes caiam em terra fértil e logo germinem e frutifiquem em abundância.
Enquanto isso, seguimos aguardando o grande encontro do Sínodo Especial para a Amazônia, em outubro vindouro, para então, conferir seus desdobramentos.
1 Ricardo Luiz da Silva Costa, Engenheiro Florestal, Especialista em Gestão Ambiental e Florestal, Mestre em Gestão de Áreas Protegidas.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019
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