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Países religiosos tendem a ser menos inovadores, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

 

Países religiosos tendem a ser menos inovadores, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

“A religião é o ópio do povo”
Karl Marx

 

inovação e religiosidade

 

[EcoDebate] As disjunções entre religião e ciência fazem parte da modernidade. Segundo Auguste Comte (1798-1857), toda sociedade passa cronologicamente por três estágios sucessivos na forma de pensar. No primeiro, o teológico, os fenômenos naturais e sociais eram explicados, predominantemente, pela religião e pela ação das forças divinas. No segundo, o metafísico, o pensamento filosófico se dava pela reflexão sobre a essência e o significado abstrato dos fenômenos. Por terceiro e mais avançado estágio, as explicações sociais e naturais seriam construídas por meio da observação cientifica dos fenômenos, da elaboração de hipóteses e da formulação de leis universais. Prevaleceria a racionalidade e o método científico.

De acordo com o artigo publicado no National Bureau of Economic Research, os países mais religiosos tendem a ser menos inovadores. Ou seja, mais religião significa menos ciência. O artigo “Frutos proibidos: a economia política da ciência, da religião e do crescimento”, Roland Benabou de Princeton e Davide Ticche e Andrea Vindigni, do Instituto IMT de Estudos Avançados, encontram uma forte correlação negativa entre a inovação, medida pelo registro de patentes e a religiosidade , medido pela parcela da população que se auto identifica como religiosa.

Os autores não chegam a afirmar que a religião causa um déficit de inovação científica. No entanto, eles afirmam que os modelos de governo teocráticos, nos quais os líderes políticos são fortemente influenciados por instituições religiosas, podem fornecer um canal de visão anticíclica para influenciar a política pública. Como exemplos, eles citam a proibição da impressão no Império Otomano e a controvertida decisão do ex-presidente americano George W. Bush de limitar o financiamento do governo federal da pesquisa com células-tronco.

O gráfico acima compara inovação e religiosidade e mostra uma relação negativa importante entre níveis de religiosidade e a inovação em si (medida pelo número de patentes per capita). A conexão “mais religiosidade, menos inovação” permanece forte mesmo controlando por outras variáveis como renda, acesso à educação e legislação de patentes.

Talvez prevaleça de fato a máxima marxista: “A religião é o ópio do povo”. Isto porque a ciência não combina com os dogmas de qualquer tipo e como disse outro filósofo alemão, Kant, se referindo às características do Iluminismo e da defesa da racionalidade e da maturidade intelectual: “O Iluminismo é a saída do ser humano da sua menoridade de que ele próprio é culpado”.

O Estado laico garante a liberdade religiosa, mas esta liberdade de crença não deve vir no sentido de coibir as atividades científicas.

Os dogmas não devem prevalecer sobre a racionalidade e a metodologia científica.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

Referência:
Roland Bénabou, Davide Ticchi, Andrea Vindigni. Forbidden Fruits: The Political Economy of Science, Religion, and Growth, NBER Working Paper No. 21105, Issued in April 2015
http://nber.org/papers/w21105

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/10/2018

[cite]

 

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