População, economia e déficit ambiental da Ásia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“É certamente nossa responsabilidade fazer tudo que estiver ao nosso alcance para criar
um planeta que forneça um lar, não somente para nós, mas para toda a vida na Terra”
Sir David Attenborough
[EcoDebate] A Ásia é o continente mais populoso do mundo. Em 1950, a população da Ásia era de 1,4 bilhão de habitantes, representando 55,4% da população mundial de 2,5 bilhões de habitantes. Em 2017, a população da Ásia chegou a 4,5 bilhões, representando 59,7% dos 7,5 bilhões de habitantes do globo. Neste período, o continente asiático ganhou participação no total internacional.
Mas como o ritmo de crescimento asiático está se desacelerando, a população da Ásia deve atingir um pico de 5,3 bilhões de habitantes em 2055, representando 52,6% da população global nesta mesma data. Para o final do século, a população asiática deve cair para 4,8 bilhões de habitantes, representando 42,7% da população mundial de 11,2 bilhões de habitantes em 2100.
Em termos de densidade demográfica, a Ásia tinha 45,2 habitantes por quilômetro quadrado (hab/km2) em 1950, enquanto a densidade do mundo era de 19,5 hab/km2. Em 2017, a densidade demográfica da Ásia foi de 145 hab/km2, contra 58 hab/km2 do mundo. Para 2055, o ano do ponto de mutação do crescimento para o decrescimento da população asiática, a densidade demográfica será de 170 hab/km2 contra 77 hab/km2. No final do século, a densidade demográfica da Ásia será de 154 hab/km2, contra 86 hab/km2 no mundo.
A perda de posição relativa da Ásia se deve ao alto crescimento do continente africano no século XXI. Em 2017, o volume de 4,5 bilhões de habitantes da Ásia era 3,6 vezes o volume de 1,3 bilhão de habitantes da África, em 2100 deverá haver praticamente um empate populacional com a Ásia tendo 4,8 bilhões contra 4,5 bilhões na África. Em 2017, a densidade demográfica da Ásia era de 145 hab/km2 contra 42,4 hab/km2 na África. Mas em 2100, a densidade será de 154 hab/km2 na Ásia contra 151 hab/km2 na África e de 183 hab/km2 na África Subsaariana.
Em termos econômicos, o continente asiático tem apresentado crescimento bem superior ao restante do mundo, conforme mostram os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1980, o Produto Interno Bruto (PIB) da Ásia era de US$ 1,2 trilhões (em poder de paridade de compra – ppp), representando 9% do PIB mundial. Em 2017, o PIB da Ásia já tinha passado para US$ 41,2 trilhões, representando 32,5% do PIB mundial. Para 2022, os números devem ser PIB de US$ 62,2 trilhões, representando 37% do PIB global, conforme mostra o gráfico abaixo.
O resultado de todo o crescimento populacional e econômico é um tremendo déficit ecológico, conforme mostram os dados da Footprint Network, apresentados no gráfico abaixo. No início da década de 1960 o continente asiático possuía superávit ecológico. Contudo, a Pegada Ecológica cresceu muito mais rápido do que a Biocapacidade, chegando a 9,956 bilhões de hectares globais (gha) contra 3,283 bilhões de gha. Portanto, o déficit ecológico chegou a 6,673 gha em 2013.
Em termos per capita, a Biocapacidade da Ásia caiu de 1,06 gha em 1961 para 0,77 gha em 2013, sendo que, no mesmo período, a Pegada Ecológica subiu de 0,98 gha para 2,32 gha. Nota-se que a Pegada Ecológica per capita da Ásia em 2013 era menor do que a Pegada mundial de 2,87 gha. Porém, o déficit asiático é muito maior, o que se deve não ao padrão de consumo, mas sim ao tamanho da população em relação à Biocapacidade.
O crescimento demoeconômico da Ásia é insustentável. No máximo que se pode fazer próximos 40 anos é equacionar o crescimento demográfico e econômico sem agravar ainda mais o déficit ambiental. Não será uma tarefa fácil diante de tantos problemas ecológicos como desertificação, degradação das fontes de água e dos ecossistemas, ondas letais de calor, aumento do nível dos mares, poluição do ar, etc.
Para a segunda metade do século XXI, o decrescimento demográfico poderá ajudar na sustentabilidade se também houver decrescimento econômico das atividades mais degradadoras do meio ambiente. Será preciso uma grande revolução tecnológica (mudança da matriz energética, maior eficiência produtiva, etc.) e a adoção do modelo de Simplicidade Voluntária para reduzir o consumo conspícuo e colocar a Pegada Ecológica em equilíbrio com a Biocapacidade.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/07/2018
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