Pneumologista esclarece como crianças podem se prevenir contra gripe H1N1 (gripe Influenza tipo A)
Pneumologista esclarece como crianças podem se prevenir contra gripe H1N1 (gripe Influenza tipo A)
Por Suely Amarante (IFF/Fiocruz)
A gripe H1N1 consiste em uma doença causada por uma mutação do vírus da gripe. Também conhecida como gripe Influenza tipo A ou gripe suína, ela se tornou conhecida quando afetou grande parte da população mundial entre 2009 e 2010.
Os sintomas da gripe H1N1 são bem parecidos com os da gripe comum e a transmissão também ocorre da mesma forma.
O problema da gripe H1N1 é que ela pode levar a complicações de saúde muito graves, podendo ser fatal. O vírus vive por duas a oito horas em superfícies e lavar as mãos com frequência ajuda a reduzir as chances de contaminação.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Center for Deseases Control (CDC), o Centro de Controle de Doenças nos Estados Unidos, não há risco de esse vírus ser transmitido através da ingestão de carne de porco, porque ele será eliminado durante o cozimento em temperatura elevada (71º Celsius). O pneumologista e pesquisador do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Hisbello da Silva Campos esclarece algumas dúvidas sobre sintomas e prevenção da doença.
IFF/Fiocruz: Como a doença é transmitida?
Hisbello da Silva Campos: Acredita-se que o H1N1 possa ser transmitido da mesma maneira pela qual se transmite a gripe comum. Os vírus da influenza se disseminam de pessoa para pessoa, especialmente através de tosse ou espirros das pessoas infectadas. Algumas vezes, elas podem se infectar tocando objetos que estão contaminados com os vírus da influenza e depois tocando sua boca ou o nariz.
IFF/Fiocruz: As crianças estão mais propícias a sofrerem com essa doença? Por quê?
Hisbello da Silva Campos: Como as crianças pequenas convivem em ambientes fechados em parte significativa do tempo, a transmissão do vírus entre elas fica facilitada. Os bebês não amamentados ao seio são mais propensos a pegar a gripe do que os bebês que são amamentados. O risco de complicações da gripe H1N1 é maior em crianças menores.
IFF/Fiocruz: Crianças de creches, berçários e escolas estão mais suscetíveis à contaminação da doença? Explique.
Hisbello da Silva Campos: A aglomeração em berçários, creches ou salas de aula facilita a transmissão do vírus entre crianças vulneráveis. A melhor maneira de protegê-las contra influenza sazonal e potenciais complicações graves é a vacinação anual contra influenza, que é recomendada a partir do 6º mês de vida até cinco anos. Por essa razão, e principalmente em períodos frios, os cuidadores e professores devem estar conscientizados e capacitados para observar se, na creche ou escola, há crianças com tosse, febre e dor de garganta e informar aos pais quando apresentarem os sintomas sugestivos de gripe. Devem, também, notificar as autoridades de saúde caso observem um aumento do número de crianças doentes com gripe ou com absenteísmo pela mesma causa. O contato entre elas deve ser evitado. Recomenda-se que a criança doente fique em casa, a fim de evitar transmissão do problema, o seu retorno às atividades só deve acontecer 24 horas após o desaparecimento da febre.
As creches e escolas devem realizar a higienização dos brinquedos com água e sabão quando estiverem sujos. Deve-se utilizar lenço descartável para limpeza das secreções nasais e orais das crianças. Lenços ou fralda de pano, caso sejam utilizados, devem ser trocados diariamente. Deve-se lavar as mãos após contato com secreções nasais e orais dos pequenos, principalmente, quando estiver com suspeita de gripe.
IFF/Fiocruz: Como evitar a gripe H1N1?
Hisbello da Silva Campos: A prevenção da gripe H1N1 segue as mesmas regras da prevenção de qualquer tipo de gripe, que incluem: evitar manter contato muito próximo com uma pessoa que esteja infectada; lavar sempre as mãos com água e sabão e evitar levar as mãos ao rosto e, principalmente, à boca; sempre que possível, ter um frasco com álcool-gel para garantir que as mãos sempre estejam esterilizadas; manter hábitos saudáveis, alimentar-se bem e beber bastante água; não compartilhar utensílios de uso pessoal, como toalhas, copos, talheres e travesseiros; caso haja indicação, utilizar uma máscara para proteger-se de gotículas infectadas que possam estar no ar; evitar frequentar locais fechados ou com muitas pessoas.
A vacinação é uma estratégia de prevenção da gripe H1N1. Ela é capaz de promover imunidade durante o período de maior circulação dos vírus influenza reduzindo o risco de formas graves da doença. No geral, a detecção de anticorpos protetores se dá entre duas a três semanas após a vacinação e, em média, confere proteção de seis a doze meses, sendo que o pico máximo de anticorpos ocorre após quatro a seis semanas da vacinação.
IFF/Fiocruz: A criança pode ser vacinada se tiver gripada?
Hisbello da Silva Campos: São poucas as restrições à vacinação. Entre elas, febre alta (acima de 39ºC) e doenças ou remédios que alterem a imunidade. Se a resistência do organismo estiver baixa, há risco de a vacina causar a doença que deveria evitar. Um resfriado sem febre ou uma diarreia leve não representam obstáculos à vacinação. A vacina está contraindicada apenas para bebês com menos de seis meses de vida, pessoas com febre, com doença neurológica ou que tenham alergia ao ovo, à neomicina ou às substâncias timerosal, presente no Merthiolate.
Os corticosteroides, se usados em doses elevadas e por períodos prolongados, podem reduzir a capacidade do nosso sistema de defesa. Por isso, a vacinação nessa situação, deve ser orientada por médicos. Entretanto, se a criança está tomando corticoides há menos de sete dias, pode ser vacinada. Spray nasal ou pomada não interferem na imunidade. A aplicação será adiada apenas se o uso do medicamento for prolongado ou em dose elevada. O uso de antibióticos não é motivo para não tomar a vacina, desde que a criança esteja bem.
IFF/Fiocruz: Qual o tratamento da gripe H1N1? Como saber se o quadro é grave e quando devo procurar um serviço de emergência?
Hisbello da Silva Campos: O tratamento da gripe H1N1 é feito principalmente com o objetivo de aliviar os sintomas e ajudar o corpo a se recuperar mais rápido. Uma vez com gripe, deve-se procurar ajuda do médico sempre, pois esta doença pode causar complicações graves como pneumonia e morte. O médico irá avaliar e definir o tratamento adequado que, normalmente envolve o uso de medicamentos e de cuidados em casa, como beber bastante água para prevenir a desidratação, descansar e evitar o contato com outras pessoas, a fim de evitar a transmissão.
É importante saber reconhecer os sinais de gravidade nas crianças gripadas para evitar complicações graves. Nos pequenos, os sinais indicadores de atendimento médico de emergência incluem: respiração rápida ou dificuldade para respirar; pele azulada (cianose) ou acinzentada; ingestão insuficiente de líquidos; vômito acentuado ou persistente; a criança não acorda ou não apresenta sinais de interação (fica apática); irritabilidade; os sintomas da gripe melhoram, mas depois retornam acompanhados de febre e a tosse piora.
IFF/Fiocruz: A mãe que estiver com a gripe H1N1 pode continuar amamentando o seu bebê?
Hisbello da Silva Campos: As mães podem continuar amamentando. Mulheres que estão grávidas ou que amamentam podem tomar a vacina normalmente, independentemente da idade gestacional. No entanto, a aplicação da vacina só deve ser feita após a autorização do obstetra.
IFF/Fiocruz: Quanto tempo dura o período de contágio da doença?
Hisbello da Silva Campos: O período de incubação do vírus é de três a cinco dias, quando começa a manifestação dos sintomas. Porém, também é possível que uma pessoa tenha a doença de uma forma assintomática, sem apresentar nenhuma reação. Durante o período de incubação ou em casos de infecções assintomáticas, o paciente também pode transmitir a doença. O período de transmissão do vírus em crianças é de até 14 dias, enquanto que nos adultos é de até sete dias. A doença pode começar a ser transmitida até um dia antes do início do surgimento dos sintomas. O período de maior risco de contágio é quando há sintomas, sobretudo febre.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/07/2018
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