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Transposição do Rio São Francisco não alivia falta d’água na zona rural

Mapa do projeto de transposição do rio São Francisco
Mapa do projeto de transposição do rio São Francisco

Projeto do governo não prevê sistema de bombeamento da água transposta para canais para levá-la ao interior dos municípios. Apesar de serem cortadas pelo São Francisco, cidades do semiárido de MG e BA sofrem com a estiagem e não têm acesso a água doce. Matéria de Eduardo Scolese, enviado especial à Serra do Ramalho (BA) e a Itacarambi (MG), da Folha de S.Paulo, 04/01/2009.

No semiárido, ter água no município não significa necessariamente usufruí-la, como revelam as realidades de Serra do Ramalho (BA) e de Itacarambi (MG). Esses municípios são cortados pelo rio São Francisco, mas habitantes da zona rural sofrem com a falta d”água.

No município baiano, a 859 km de Salvador, por exemplo, todos os dias moradores de diferentes povoados se organizam em filas para esperar uma água que nem sempre chega.

Outros, de localidades mais distantes, têm a situação mais complicada: como a água do São Francisco não chega nem de vez em quando, são obrigados a beber a água salgada (com calcário) dos poços artesianos.

Em Itacarambi (a 673 km de Belo Horizonte) a realidade é parecida. Comunidades da zona rural não recebem as águas do rio. “Teria de haver um investimento muito alto. A população não morre de sede, mas perde o gado e a produção no período de estiagem”, afirma a coordenadora local da Defesa Civil, Maria Oliveira.

Quando fala na transposição, o governo se refere à abertura de dois grandes canais para abastecer rios, açudes e adutoras nos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, onde vivem 12 milhões de pessoas. Não há, porém, nenhum plano traçado para tirar a água desses canais e levá-la para o interior dos municípios e do próprio Estado.

Os exemplos vistos em Serra do Ramalho e em Itacarambi indicam que, mesmo que essa água transposta passe dentro do município, ela não serve de nada, caso não tenha um sistema local de adutoras largas e com bombeamento possante para tirá-la dos canais e distribuí-la aos habitantes da sede e dos povoados.

O rio passa desde sempre por Serra do Ramalho e até hoje não há uma solução para a falta d”água para os moradores locais. No ano passado, por exemplo, o município também cortado pelo rio Corrente passou seis meses em estado de emergência por conta da estiagem.

Renice dos Santos, 40, casada e mãe de três filhos, vai pelo menos duas vezes por semana ao chafariz do povoado em que vive para encher quatro galões de água, dois com 50 litros e dois com 30 litros. “Eu chego às 7h, mais ou menos. Se a água não chegar na mangueira até as 10h, vamos todos embora, porque nesse dia não vem mais.”

A água só chega ao chafariz em que está Renice, caso não se esgote no caminho. Puxada do rio, ela abastece o centro da cidade, e o que sobra é distribuído para 14 dos 19 povoados, chamados de agrovilas.

A partir do centro, a água segue por uma tubulação menor. Distribuída em sequência, ela só chega ao chafariz da Agrovila 4, por exemplo, se não se esgotar na Agrovila 6, onde está Renice e o lavrador aposentado Geraldino Albuquerque, 79. “Só não venho pegar água todo o dia porque eu não aguento [o peso do galão de 30 litros, puxado num carrinho de mão.”

Não há tubulação para quatro das agrovilas. “Para eles não têm [distribuição]. O jeito pra eles é tomar água salgada mesmo”, afirma João Neto Silva, 45, diretor do órgão da prefeitura que distribui a água.

A água salgada, dizem, não é indicada nem mesmo para regar plantas. “A gente bebe do poço mesmo. [Políticos] prometem, mas nunca fazem nada”, diz Ilma dos Santos, 21, que vive na Agrovila 17, onde a água do São Francisco não chega.

Quem quer beber água doce nessa agrovila precisa pagar R$ 10 para um morador local que recolhe os galões do interessado e busca água todos os dias na Agrovila 6.

Serra do Ramalho foi criado nos 70, tendo como pioneiras as famílias desalojadas pela barragem de Sobradinho, no norte baiano. O município tem 2.668,30 km2, o equivalente à soma das áreas de São Paulo, Campinas e Guarulhos.

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A propaganda oficial de que 12 milhões de nordestinos terão água assegurada com a transposição de parte das águas do rio São Francisco não pode ser levada ao pé da letra, de acordo com a CPT (Comissão Pastoral da Terra).

“É uma contradição que denunciamos. No Vale do São Francisco há municípios que não têm sistema de abastecimento urbano”, diz Roberto Malvezzi, pesquisador da CPT.

Procurado, o Ministério da Integração Nacional informou que, até 2010, investirá R$ 300 milhões no programa Água para Todos, na implantação de projetos de abastecimento de água potável em Minas Gerais e em quatro Estados do Nordeste (AL, BA PE e SE).

* Matéria enviada por Telmo Heinen

[EcoDebate, 05/01/2009]

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3 thoughts on “Transposição do Rio São Francisco não alivia falta d’água na zona rural

  • alexandre douglas

    a china está fazendo a maior transposicao de agua no mundo, construindo a maior hidreletrica do mundo, a transposicao do rio sao francisco resolve o problema da falta de agua sim, em pleno seculo vinte um o nosso pais tem milhares de pessoas morrendo de sede, vamos produzir mais alimentos barateando os precos leida oferta e procura, vamos ter mais arvores e plantas diminuindo o efeito estufa, os governadores não fazem canais de irragocoes na BA, SE porque?

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