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As complexidades e a multivariância, artigo de Roberto Naime

 

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[EcoDebate] É bastante sinuoso e movediço, enveredar por temáticas controversas, sobre as quais não existem nem consensos, nem apropriações de fácil aceitação. Mas é necessário. Na medida em que no meio ambiente interferem vários fatores, que lembram multivariâncias. Poderia se manifestar que, as complexidades descendem de influências multifatoriais, sobre cenários emoldurados. Que então se tornam complexos.

Mas esta manifestação poderia ser considerada grosseira aproximação, e por isto não é expressa.

Complexidade é uma noção utilizada no por autores como Warren Weaver, Gaston Bachelard, Anthony Wilden e Edgar Morin A definição varia significativamente segundo a área de conhecimento. Trata-se de uma visão interdisciplinar acerca dos sistemas complexos considerados adaptativos. Ou seja, do comportamento emergente de muitos sistemas, da complexidade das redes, de apropriações da teoria do caos, do comportamento dos sistemas físicos distanciados do equilíbrio termodinâmico e das suas características de auto-organização. Qualquer lembrança com o vocábulo “ecossistema”, não é mera coincidência.

Esse movimento científico tem tido uma série de consequências não só tecnológicas, mas também filosóficas. O uso do termo complexidade é ainda instável e na literatura de divulgação ocorrem usos espúrios, significando não-linearidade.

A epistemologia da complexidade estuda a ciência dos sistemas complexos conforme assinalaria Ludwig Von Bertallannfy, e dos fenômenos emergentes associados. Trata-se de um termo rico de significados e que por isso, carrega ambiguidade, em razão da crescente tendência a negar os pressupostos de linearidade nos sistemas dinâmicos e a indagar mais profundamente o seu comportamento. Ecossistemas são dinâmicos e multi-fatoriais e por isso são complexos.

A fenomenologia já mostrou as insuficiências e ingenuidades do positivismo, da pretensão de se captar uma realidade “objetiva”, independente do olhar e dos pressupostos considerados. Em meados do século XX as ciências da terra, a ecologia, a cosmologia e outras formas de conhecimento começam a diálogo multi, inter e transdisciplinares, na tentativa de obter respostas mais adequadas para explicar a realidade observada.

A complexidade e suas implicações são as bases do denominado pensamento complexo, divulgado por autores como Edgar Morin, que concebe o mundo como um todo indissociável e propõe uma abordagem multidisciplinar e multir-referenciada para a construção do conhecimento. De forma contrária a esta concepção, se opõem a chamada causalidade linear.

Está se vendo que ou a realidade é linear como uma equação de reta cartesiana, ou é multifatorial e dinâmica, mais afeita à teoria das complexidades. Segundo Edgar Morin, a complexidade é o que é tecido em conjunto. E influência e sofre as consequências destes processos.

Por isso se fala tanto em autopoiese sistêmica quando não se observa possibilidade de mudança de paradigmas na sociedade. Autopoiese é um conceito sistêmico que significa a capacidade de um sistema de organizar de tal forma que o único produto resultante seja o próprio sistema tal como se encontra.

A proposta da complexidade é a abordagem transdisciplinar dos fenômenos, e a mudança de paradigma, abandonando o reducionismo que tem pautado a investigação científica em todos os campos, e dando lugar à criatividade e ao caos.

A noção de emergência está ligada à teoria dos sistemas. Um sistema constitui-se de partes interdependentes entre si, que interagem e sofrem transformações mutuas. Desse modo o sistema não será definível pela soma de suas partes, mas por uma propriedade que emerge deste seu funcionamento. O estudo em separado de cada parte do sistema não levará ao entendimento do todo, esta lógica se contrapõe ao método cartesiano analítico que postulava justamente ao contrário. É assim que operam os ecossistemas ou atua o princípio das propriedades emergentes de Liebig exposto por Eugene Odum.

Nesta perspectiva o todo é mais do que a soma das partes. Da organização de um sistema nascem padrões emergentes que podem retroagir sobre as partes. Por outro lado o todo é também menos que a soma das partes uma vez que tais propriedades emergentes possam também inibir determinadas qualidades das partes.

Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma saída é capaz de alterar a entrada que a gerou e portanto, a si própria. Se o sistema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto em uma malha de realimentação deve haver um certo retardo na resposta dinâmica. Esse retardo ocorre devido a uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo com variações bruscas na entrada. Isto é, ele deve possuir uma tendência de resistência a mudanças. O que significa que deve haver uma memória intrínseca e coletiva aos sistemas que podem sofrer realimentação.

Os manifestos de Ilya Prigogine talvez sejam as melhores fontes para entender rigorosamente o papel do caos e sua relação com a incerteza. As teorias do caos, popularizadas pelo “efeito borboleta”, que é apenas uma aliteração, uma analogia poética, uma alusão em que o bater de asas de uma borboleta no pacífico poderia causar um tufão em outro lugar distante do planeta é apenas uma alegoria estilística para a interpretação real do fenômeno. Estes fatos estão relacionadas à não-lineariedade e à sensibilidade às condições iniciais.

Logo, as relações deterministas, às vezes muito simples, podem gerar após muitas interações, divergências de trajetórias significativas partindo de condições iniciais muito próximas. É o que ocorre nos ecossistemas. É o que pode ocorrer com os transgênicos, sábio deputado Heinze.

Por isso, se afirma que há um comportamento caótico, já que não há padrão para determinar no longo prazo, ou após muitas interações, qual o comportamento da trajetória a partir de condições iniciais aproximadas. Porém, se do ponto de vista individual há o caos, muitas vezes há um padrão estatístico com relação à distribuição de probabilidade das trajetórias, o que permite alguma inteligibilidade e tratamento científico do caos.

Por isso nobre deputado Heinze, os esquifes de Benoit Mandelbrot, Edgar Morin, Ludwig Von Bertallanfy, Edward Lorenz e Ilya Prigogine se juntaram à noite de terror que Charles Darwin deve ter passado quando seu projeto foi aprovado e quando quase houve um afogamento coletivo com suas declarações de sapiência invulgar. Fritjof Capra compareceu ainda vivo.

Referência:
https://pt.wikipedia.org/?title=Complexidade

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/05/2018

 

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