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‘A imortalidade é matematicamente impossível’, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

artigo

 

[EcoDebate] Qualquer pessoa sabe que a morte é o destino inevitável de todo ser vivo. Todo nascimento termina em morte. Pode-se prolongar a duração da vida, mas não evitar a morte. Aliás, a morte é a renovação da vida.

Porém, o biogerontologista inglês, Aubrey de Grey, contesta esta verdade milenar. Para ele, o envelhecimento é uma doença que pode ser curada. De Gray afirma que, com o avanço da ciência e da tecnologia, em pouco tempo, qualquer pessoa que consiga evitar um acidente ou homicídio poderá viver, pelo menos, mil anos.

O cientista futurista Raymond Kurzweil vai mais longe e prevê a possibilidade de se alcançar a imortalidade. Ele escreveu o livro, “A medicina da imortalidade”, onde defende a ideia da miscigenação entre o ser humano e as máquinas, o que possibilitaria um aumento exponencial da longevidade. Para ele, a biotecnologia ofereceria os meios para alterar os genes, rejuvenescendo todos os tecidos e órgãos do corpo, transformando as células da pele em versões jovens de qualquer outro tipo de célula. A nanotecnologia e a robótica permitiriam superar os limites da biologia e substituir bionicamente partes do corpo com um substancial aperfeiçoamento do organismo. A imortalidade seria viabilizada pela “clonagem terapêutica” e por meio do desenvolvimento e aperfeiçoamento das próprias células, tecidos e até órgãos inteiros. Surgiria os transumanos imortais (Alves, 12/09/2017).

Todavia, a ideia do prolongamento indefinido da vida foi contestado em um artigo publicado na prestigiosa revista científica Nature (Dong, Milholland e Vijg, 05/10/2016). O estudo mostra que os avanços médicos têm aumentado a esperança de vida ao nascer, mas a longevidade quase sempre se esbarra no teto de 115 anos. Segundo os autores, para superar este limite seria preciso mudar toda a estrutura genética da espécie humana. Porém, o processo de envelhecimento é tão complexo que não seria possível mudar substancialmente as bases biológicas da constituição do ser humano.

Ironicamente, enquanto se discute a imortalidade, a expectativa de vida nos Estados Unidos caiu pelo segundo ano seguido. Em média, a esperança de vida ao nascer foi de 78,6 anos em 2016, uma queda de 0,1 ano em relação a 2015 e a 2014. As mulheres possuem esperança de vida de 81,1 anos contra 76,1 anos dos homens. Em 2016, 42.249 pessoas morreram por overdoses relacionadas com opióides, 28% a mais do que ocorreu em 2015, enquanto o número de mortes causadas por opióides sintéticos mais do que dobrou, chegando a 19.413.

Mais pessoas morreram de overdose de drogas nos EUA em 2016 do que morreram em toda a Guerra do Vietnã. Estes dados vindo de um país rico, são um balde de água fria no sonho da esperança de vida ilimitada e da imortalidade.

Artigo de Danny Dorling e Stuart Gietel-Basten (29/11/2017) mostra que também no Reino Unido há uma estagnação da esperança de vida. Os autores dizem: “The latest figures for the period 2014 to 2016 were published in September 2017. Women can now expect to live to 83.06 years and men to 79.40. For the first time in over a century, the health of people in England and Wales has stopped improving”.

Todavia, no plano teórico, a ciência deixava aberta a possibilidade da vida eterna, caso fosse possível encontrar uma maneira de fazer com que a seleção entre organismos fosse perfeita. Todavia, biólogos da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, asseguram ter demonstrado, matematicamente, que vencer o envelhecimento é impossível.

De acordo com artigo de Paul Nelson e Joanna Masel, publicado no “Proceedings of the National Academy of Sciences” (31/10/2017), o envelhecimento é inevitável e, do ponto de vista lógico,
teórico e matemático, não há escapatória. Eles criaram uma equação matemática que demonstra que, em um contexto de concorrência, ou se acumulam as células inativas ou proliferam as células cancerosas.

Os pesquisadores concluíram que o envelhecimento é uma “verdade incontroversa” e “uma propriedade intrínseca do ser multicelular”, pois, ou as células inativas se acumulam ou as células cancerosas se proliferam. Ou seja: não há como prolongar a vida indefinidamente.

Enfim, o conhecimento repassado de geração em geração e que faz parte da sabedoria popular agora é comprovado pela ciência: “a imortalidade é matematicamente impossível”.

Referências:

ALVES, JED. Seremos transumanos imortais? Colabora, RJ, 12/09/2017
http://projetocolabora.com.br/vida-sustentavel/seremos-transumanos-imortais/

Aubrey de Grey diz que podemos evitar envelhecer, TEDGlobal, july 2005
https://www.ted.com/talks/aubrey_de_grey_says_we_can_avoid_aging?language=pt-br

Danny Dorling; Stuart Gietel-Basten. Life expectancy in Britain has fallen so much that a million years of life could disappear by 2058 – why?, The conversation, November 29, 2017
http://theconversation.com/life-expectancy-in-britain-has-fallen-so-much-that-a-million-years-of-life-could-disappear-by-2058-why-88063?utm_source=facebook&utm_medium=facebookbutton

Paul Nelson and Joanna Masel. Intercellular competition and the inevitability of multicellular aging. PNAS 2017: 1618854114v1-201618854. October 30, 2017
http://www.pnas.org/content/early/2017/10/25/1618854114.full

Ray Kurzweil e Terry Grossman. A Medicina da Imortalidade, Aleph, 2006
http://www.buscape.com.br/a-medicina-da-imortalidade-2-ed-ray-kurzweil-8576570343

Xiao Dong, Brandon Milholland & Jan Vijg. Evidence for a limit to human lifespan, Nature, 05 October 2016
http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature19793.html

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/02/2018

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One thought on “‘A imortalidade é matematicamente impossível’, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • Para nós que gostamos de ciências assistimo-la em debate entre a matemática e a biologia decifrando o futuro humano, restando-nos apenas a expectativa pelos resultados. Dentro desse contexto, o biólogo Americano Richard Dawkins nos apresenta em uma de suas publicações “Deus, um delírio” uma interpretação biologicamente real para os ávidos por imortalidade ou ressurreição. O estudo aponta para o gene eterno que nos usa como sua máquina de sobrevivência. O gene não é ser pensante, é apenas um lutador pela sobrevivência onde somente os mais aptos se sobressaem. Ele reúne para sua máquina todas as características que lhe são benéficas, assim, antes do envelhecimento e morte, vai se duplicando e se armazenando em outras maquinas até a nova oportunidade de vitória em outra máquina para sua perpetuação. Como esse mesmo gene reúne sempre as mesmas características para a nova vida, pressupõem-se o retorno, a eternidade ou uma longevidade de centenas ou milhares de anos.

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