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Organizações lutam contra escravidão infantil na Europa

Cartaz contra tráfico humano na Moldávia
Cartaz contra tráfico humano na Moldávia

Roubados, vendidos, abandonados pelos pais. Sobretudo no Leste europeu, muitos menores vivem como escravos. Com freqüência eles têm que ganhar dinheiro no rico Oeste. Uma série de iniciativas tenta ajudá-los.

O tráfico de crianças é um dos crimes mais detestáveis que existem. Na Europa, um dos principais países de origem desses modernos escravos menores de idade é a Romênia. Depois que o país tornou-se membro da União Européia (UE), em 2007, um grande número de adultos procurou oportunidades de ganhar dinheiro para além das fronteiras, deixando simplesmente seus filhos em casa.

A romena Elena Timofticiuc conhece a dura realidade destas crianças. Ela trabalha na organização ecumênica de ajuda humanitária AIDRom, em Bucareste, e tomou conhecimento de dados oficiais, segundo os quais, no final de 2007, existiam pelo menos 100 mil menores abandonados pelos pais na Romênia, na casa de parentes ou, simplesmente, no vizinho. Os pais partiram para trabalhar no estrangeiro. Estas crianças são vítimas em potencial de traficantes de seres humanos que as aliciam com falsas promessas.

Vendidas ou roubadas

Traficantes de seres humanos obrigam as crianças a pedir esmolas. Aos inocentes pais, foi dito que elas foram enviadas para uma colônia de férias no estrangeiro. Em vez disso, as crianças foram vendidas ou exploradas, não somente como pedintes, mas também como empregadas domésticas. Timofticiuc sabe de outros casos, em que crianças foram simplesmente seqüestradas. Outras são órfãs.

Mas existem também casos de pais ou parentes terem vendido seus filhos. Na Romênia, por esse motivo, Estado, Igreja e organizações investem no esclarecimento e prevenção. Em fevereiro de 2008, o governo romeno iniciou uma campanha nacional sob o lema: “Deixe as crianças serem crianças”. Organizações não governamentais trabalham diretamente com os menores, por exemplo, com peças de teatro baseadas nos diários de jovens vítimas de tráfico humano.

Falta de consciência do perigo para crianças ameaçadas

É muito eficaz quando crianças contam a outras da mesma idade que tudo é possível de acontecer, disse Timofticiuc. “Pois muitas crianças a quem tentamos esclarecer respondem: ‘Nada pode me acontecer. Eu falo inglês, falo alemão. Mesmo que eu seja levada por traficantes de seres humanos para o estrangeiro, posso procurar ajuda'”, explicou. Mas, segundo Timofticiuc, quando uma criança conta à outra da mesma idade o que lhe aconteceu, a mensagem é mais bem compreendida.

Na Europa, existem poucas iniciativas como as romenas. A organização católica de ajuda Caritas e seus parceiros querem mudar tal situação. Eles tentam mobilizar a sociedade civil e esclarecer sobre a verdadeira dimensão do crime.

Ratificar convenção contra tráfico humano e controlar

Em maio de 2005, o Conselho da Europa aprovou uma convenção contra o tráfico humano, visando três objetivos: impedir o tráfico humano, proteger os direitos humanos das vítimas e perseguir os traficantes de seres humanos.

“É absolutamente necessário que todos os Estados europeus ratifiquem e apliquem este acordo”, afirmou Geneviève Colas, responsável pelo tema tráfico humano na Caritas francesa. No momento, um mecanismo de controle está sendo implantado para vigiar se todos os países estão respeitando o acordo. O controle é urgentemente necessário, afirmou Colas.

O Conselho da Europa divulga a convenção através de um cartaz. O pôster mostra um foto de uma garota embrulhada em papel celofane como se fosse uma mercadoria na prateleira de um supermercado. Sobre o pacote, está escrito: “Humano, proibida a venda”.

Pedintes, ladrões, prostituídos

Segundo o Conselho da Europa, há tráfico de seres humanos em todos os seus 47 Estados-membros. As “crianças-mercadoria” provêm, em sua maioria, do Sudeste Europeu, onde a pobreza grassa. Os menores são explorados nos Estados ricos da Europa Ocidental. Os traficantes de seres humanos os utilizam como pedintes no metrô de Paris, ladrões na avenida Kurfürstendamm de Berlim ou os prostituem nas vias de Roma.

A política da União Européia, que dificulta cada vez mais a entrada legal de imigrantes que querem trabalhar, fomenta o tráfico humano, reclamam deputados europeus como Edit Bauer. A eslovaca tem grande preocupação de que seus três netos pequenos caiam nas mãos de traficantes de seres humanos. Bauer sabe do que está falando. Ela foi responsável por um relatório sobre o tema tráfico humano para o Parlamento Europeu.

Segundo especialistas, o comércio com seres humanos ocupa o terceiro lugar entre as atividades criminosas, comentou a deputada. Suas margens de lucro só perdem para o tráfico de drogas e de armas. Talvez, essa afirmação já seja ultrapassada, pois o tráfico humano é considerado um negócio de alto lucro e baixo risco. Por isso deve ocupar hoje, provavelmente, o segundo lugar entre as atividades criminosas de tráfico e algum dia ocupará o primeiro, afirmou Bauer. “Pois para os traficantes de drogas e de armas os riscos de serem pegos são mais elevados.”

Sonho de campanha por toda a Europa

Uma iniciativa sueca traz esperança a Edit Bauer. O governo de Estocolmo criou uma secretaria para combater o tráfico humano. Este seria um primeiro passo para uma maior proteção da vítima, acredita a política eslovaca, assim como outros especialistas. Iniciativas desta ordem faltam em toda a Europa.

O sonho da ativista romena Elena Timofticiuc é uma campanha de conscientização por toda a Europa, a fim de abrir os olhos de políticos e sociedade civil. “Não importa de onde vêm nossas crianças. Elas pertencem à Europa. Elas são o futuro do continente.”

Por Suzanne Krause (ca), da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, 16/12/2008

[EcoDebate, 17/12/2008]

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