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Seca e queimadas: Dia do Cerrado é celebrado em um dos meses mais críticos para região

 

queimada no Cerrado

 

Queimadas se intensificam no período de junho a outubro e se tornam preocupação recorrente num dos biomas mais ameaçado do Brasil

Em 11 de setembro é lembrado o Dia do Cerrado – segundo maior bioma da América do Sul – mas poucos são os motivos para comemorar. O período de seca no Cerrado brasileiro é histórico e ocorre com intensidade nesta época do ano, entre os meses de junho e outubro, quando os índices de chuvas reduzem tanto que podem chegar a zero. Por conta disso, a baixa umidade do ar, os ventos fortes e o calor dessa época provocam uma grande incidência de incêndios nas vegetações – as conhecidas queimadas -, que se alastram e ameaçam a biodiversidade local. Neste ano, o mês de agosto, tem apresentado índices de focos de incêndio menores que nos anos anteriores (12.146 em 2017, contra 13.501 em 2016 e 13089 em 2015), muito por conta das chuvas que têm sido mais frequentes nessa época do ano, mas que não eliminam a preocupação com o segundo bioma mais ameaçado do Brasil – atrás apenas da Mata Atlântica.

Além da destruição da vegetação e aos animais, as queimadas também ameaçam a população, pelos riscos à saúde, redução da qualidade do ar e aumentando a incidência de doenças respiratórias; além de gerar problemas com infraestrutura, como queda no fornecimento de energia elétrica, perdas em propriedades rurais e visibilidade ruim em rodovias.

Vale ressaltar que não é somente o fogo natural que oferece perigo. Os focos de incêndio em vegetação são provocados também por ações do homem (diretas ou indiretas). “O uso das queimadas na agropecuária é comum na região do Cerrado. Produtores rurais utilizam o fogo como manejo da terra, principalmente na época de seca, o que se não for feito com muito cuidado oferece grande risco à biodiversidade e às pessoas”, afirma Leide Takahashi, gerente de Projetos Ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. As queimadas acidentais também se configuram como um grave problema e são causadas por faíscas de fogueiras, bitucas de cigarro ou até mesmo vidros e latas de bebida, dispensadas nas margens das rodovias, que servem de “combustível” para o avanço rápido do fogo já formado.

Por causas naturais, os incêndios nesse bioma eram iniciados justamente em épocas de chuva, quando os raios atingiam a vegetação. No entanto, dados coletados desde 1998 pelo Programa de Monitoramento de Queimadas do INPE mostram que, atualmente, durante a estação seca, é que são registrados os maiores índices de focos de calor na região de abrangência do Cerrado, indo contra essa tendência natural de ocorrência do fogo, que seria no início da estação chuvosa. Neste ano, até o mês de agosto, foram registrados 66 mil focos de queimadas no Brasil, sendo 35% delas somente no Cerrado.

Para lutar contra o fogo, anualmente, os gestores das Unidades de Conservação – que são áreas legalmente protegidas destinadas à proteção da natureza – investem em parcerias, oferecendo geração de conhecimento para a população e treinamentos de capacitação para funcionários e para a comunidade. É o caso da operação Cerrado Vivo 2017, lançada pelo Corpo de Bombeiros de Goiás, que, além de combater as queimadas, tem como objetivo promover ações preventivas e educativas junto à população. Essas iniciativas são realizadas semanalmente com palestras nas escolas, além de treinamentos de combate a incêndios com os trabalhadores rurais.

De acordo com Pedro Develey, diretor da SAVE Brasil (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, a região sofre com um desmatamento maior do que a Amazônia e tem pouca área protegida. “Mesmo unindo forças em ações e parcerias, o Cerrado é o bioma com menor porcentagem de Unidades de Conservação, tanto de proteção integral, com apenas 2,9% de seu território, quanto de uso sustentável, com 5,2%; e a implementação dessas áreas é a melhor ferramenta para garantir a qualidade e perpetuidade da biodiversidade local”, avalia o biólogo que também alerta: “estamos destruindo e colocando em risco espécies que ainda nem conhecemos”.

Somando esforços

Com mais de oito mil hectares, a Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO), a 420 km de Brasília, é uma das Unidades de Conservação do Cerrado que recebeu em 2017 a capacitação em combate a incêndios florestais, ministrada pelo Corpo de Bombeiros de Goiás.

Criada em 2007 pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a Reserva fica próxima ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e realiza um trabalho consistente na prevenção e combate ao fogo, tanto dentro quanto no entorno da Reserva

“Em 2011, a Reserva teve cerca de 60% de sua área tomada pelo fogo por conta de um grande incêndio, o que nos fez intensificar os esforços de combate e prevenção ao fogo”, reforça Leide Takahashi. Algumas das iniciativas tomadas dentro da Reserva foram o reforço da brigada de incêndio, a retirada de vegetação rasteira em linhas para evitar a passagem do fogo durante um incêndio – conhecidos como aceiros – e a instalação de caixas d’água em diversos pontos estratégicos da reserva.

A equipe da Reserva também elabora anualmente um zoneamento das áreas de alto risco de incêndio, mapeamento que orienta todas as ações de prevenção e auxilia no planejamento das ações de combate em campo. “Essas ações têm colaborado para que as áreas queimadas não ultrapassem cerca de 20% da área total,nos últimos cinco anos”, destaca Leide.

Fora da Reserva, a Fundação Grupo Boticário participa da Coalizão do Fogo da Chapada dos Veadeiros – grupo que reúne instituições preocupadas com os impactos do fogo na região. A instituição também realiza capacitações sobre prevenção ao fogo e articula junto com o Poder Público a criação e mobilização de coordenações da Defesa Civil nos municípios da região (Alto Paraiso de Goiás e Cavalcante). Ainda, para elaboração de um zoneamento de risco de incêndio para toda a região, trabalha em cooperação com Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Corpo de Bombeiros de Goiás, Associação de Proprietários de RPPNs de Goiás e do Distrito Federal, Universidade de Brasília, Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMDEMA), de Alto Paraíso de Goiás e ONG Rede Integrada Verde.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/09/2017

 

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