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Papel da organização social e ambiental nos assentamentos rurais, Parte 3/3 (Final), artigo de Roberto Naime

 

artigo

 

[EcoDebate] Álvaro Antônio Xavier de Andrade, Diego Camelo Moreira e Roseni Aparecida de Moura concluem reflexão sobre a significação da organização social e ambiental prévia num assentamento da reforma agrária. Todos os impactos ambientais que ocorrem são relevantes, mas práticas de queimadas ou “coivaras” são muito significativas.

O mais comentado de todos os impactos causados pelas queimadas é a emissão de gases do efeito estufa, principalmente do gás carbônico. Quando é decomposta em condições de presença de oxigênio, a matéria seca vegetal libera energia, gás carbônico, minerais e água, na proporção média de dois quilogramas de gás carbônico para cada quilograma de matéria seca.

A pecuária, em especial, contribui para a emissão de gases que intensificam o efeito estufa, principalmente o metano. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) “As Repercussões do Gado no Meio Ambiente”, a criação de animais é mais danosa ao clima do que os automóveis. Esse setor de criação de animais tem uma geração de gases de efeito estufa da ordem de 18%, uma porcentagem maior do que a dos transportes.

O gás metano é o segundo gás mais influente no efeito estufa e tem um potencial de aquecimento vinte vezes maior que o dióxido de carbono. Sua permanência na atmosfera está estimada em torno de dez anos.

O metano é produzido pelos bovinos por meio do seu processo de digestão. Segundo cientistas da Universidade de Nebraska (EUA), sua emissão pelos ruminantes bovinos pode contribuir com quase 20% do total liberado na atmosfera. Já a FAO alerta que a criação de animais contribui com 37% de todas as emissões de metano de origem antrópica.

Merece destaque também a degradação das pastagens, uma vez que sua recuperação exige a realização de adubação do solo ou foliar, e esta geralmente é feita utilizando adubos químicos que causam impactos à natureza.

A degradação de pastagens é um processo evolutivo de perda de vigor e produtividade forrageira, sem possibilidade de recuperação natural, que afeta a produção e o desempenho animal e culmina com a degradação do solo e dos recursos naturais em função dos manejos inadequados.

A produção do esterco também traz problemas ambientais. No relatório da FAO se afirma que 65% do óxido nitroso gerado pelas ações humanas provêm, em sua grande maioria, do esterco.

O óxido nitroso é um dos gases que influenciam no efeito estufa. Ele tem como uma das suas características a maior permanência na atmosfera, podendo chegar a 150 anos e a um poder aquecedor 296 vezes maior que o gás carbônico.

As atividades agropecuárias são responsáveis pelas maiores modificações causadas ao meio ambiente, que, quando realizadas de forma inadequada, causam impactos ambientais quase irreversíveis. De acordo com GONÇALVES (1990) as práticas agrícolas inadequadas contribuíram para a degradação de 562 milhões de hectares, aproximadamente 36% dos 1,5 bilhão de hectares agricultável do mundo.

Na visão do Direito Ambiental, o conceito de dano ambiental fica um pouco restrito.

O conceito de dano ambiental, decorrente de poluição ambiental pelo uso nocivo da propriedade e por condutas ou atividades lesivas ao meio ambiente, compreende todas as lesões ou ameaças de lesões prejudiciais à propriedade e ao patrimônio ambiental, com todos os recursos naturais ou culturais integrantes, degradados, descaracterizados ou destruídos, individualmente ou em conjunto.

A agropecuária envolve todas as atividades humanas de pecuária extensiva ou intensiva, criação das mais diversas espécies terrestres ou aquáticas e as atividades vinculadas com a agricultura dos mais variados tipos, desde as pequenas propriedades com o plantio de subsistência, passando pela agricultura familiar e chegando no agronegócio mais sofisticado com monoculturas extensas de exportação.

Qualquer que seja o enfoque da abordagem, são muitos os impactos ambientais produzidos pela agropecuária, uma atividade essencial para a sobrevivência humana. Temos muito que avançar no uso racional da água na agropecuária em geral. É necessária uma extensiva reformulação de conceitos de eficiência energética, aplicados nesta atividade. Concepções de preservação de matas ciliares, bacias e microbacias hidrográficas, canais de drenagem e conservação de solos precisam urgente consideração.

Nos assentamentos rurais da reforma agrária, esta situação molda cenário equivalente.

Seguindo uma abordagem distinta, a noção de meio ambiente pode ser entendida como o palco das relações entre o homem e a natureza, no curso do processo produtivo. A dinâmica do desenvolvimento das forças produtivas e da relação de produção provocará conflitos sociais e impactos ambientais, determinados na apropriação da natureza pela sociedade.

A luta pela terra atua como transformadora da realidade agrária brasileira. Como principal resultado dessa luta, os assentamentos rurais significam a reivindicação de uma demanda histórica da sociedade brasileira.

A implantação e desenvolvimento de assentamentos representam um processo dinâmico na produção de novos agentes e novas formas com as quais esses agentes se relacionam com o espaço, formando a “paisagem” na busca de melhorar suas condições de vida.

Mesmo assim, ainda são relevantes os impactos ambientais gerados pelo uso indiscriminado dos agrotóxicos, atingindo a rede de drenagem superficial e os impactos produzidos pelos efluentes não tratados de criações intensivas de aves e suínos.

Detalhar qualquer item se torna muito exaustivo e técnico e foge da idéia de trazer umas noções básicas de percepção ambiental e diretrizes para compreender o conjunto das questões ambientais. Mas é fácil sem dúvida, imaginar e avaliar a extensão do assunto.

É necessário despertar a população do campo envolvida nas atividades agropecuárias para as questões ambientais, buscando conscientizá-las. Juntos com extensionistas locais, devem se buscar formas para que a atividade e a exploração dos recursos naturais sejam geridas de forma menos impactante, além de alternativas que possibilitem a recuperação das áreas já degradadas.

É preciso que o aumento da produtividade se dê de forma menos impactante, com o melhor aproveitamento das áreas já cultivadas e não apenas com o incremento de novas áreas, gerando, assim, mais impactos na natureza.

Outro fator importante às famílias assentadas é o fortalecimento da sua organização social. Nesse sentido, as associações e as cooperativas são de extrema importância já que possibilitam às famílias, de forma conjunta, buscar o apoio de entidades e facilitar o escoamento da produção, dentre muitas outras alternativas.

Evidentemente que a atividade agropecuária e os assentamentos da reforma agrária são fundamentais para a sobrevivência da espécie humana, mais importante ainda em nosso país, que é eminentemente primário. Mas é necessário além de ressaltar as boas iniciativas que já ocorrem, aprofundas o trabalho de trazer sustentabilidade econômica e ambiental para as populações que vivem da atividade de lavoura e pecuária.

Referências:

Formas de garantir água nas secas/ Embrapa Informação Tecnológica; Embrapa Semi-Árido. – Brasilia, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. 49p.: Il. – (ABC da Agricultura Familiar, 13).

GONÇALVES, Carlos Walter. Os (des)caminhos do meio ambiente/ Carlos Walter Porto Gonçalves, 2ª Ed., São Paulo: Contexto, 1990.

PANACHUKI, Elói. Infiltração de água no solo e erosão hídrica, sob chuva simulada, em sistema de integração agricultura-pecuária. (dissertação) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Campus de Dourados Programa de Pós-graduação em Agronomia, 2003.

RIBEIRO, Manoel Bomfim. A Potencialidade do Semiárido Brasileiro. Fubrás 2007.

VICENZI, Edna Hoppe – Proposta de manejo sustentável na bovinocultura: “O caso da Fazenda Confidência”, Cotejipe/BA/ Edna Hoppe Vicenzi – Barreiras: UNYAHNA, 2004. Monografia (Pós-Graduação em Gestão Ambiental)

https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/scripts/verArtigo.php?codigo=31&acao=exibir

Nota da Redação: Sugerimos que leiam, também, as partes anteriores deste artigo, clicando no link abaixo

Papel da organização social e ambiental nos assentamentos rurais, Parte 1/3

Papel da organização social e ambiental nos assentamentos rurais, Parte 2/3

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/07/2017

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