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Artigo

Saberes Ambientais, artigo de Roberto Naime

 

 

[EcoDebate] Valney Dias Rigonato elabora reflexão afirmando que os saberes ambientais enquanto fenômeno social são uma possibilidade de revalorizar o contexto socioambiental da agricultura familiar diante da erosão da biodiversidade e do conhecimento popular promovida pela modernização da agricultura ocorrida nas últimas décadas.

Nesta perspectiva, (LEFF, 2004, p. 62) colabora ao afirmar que o saber ambiental reconhece as identidades dos povos, suas cosmologias e seus saberes tradicionais como parte de suas formas culturais de apropriação de seu patrimônio de recursos naturais (LEFF, 2004, p. 62).

Saberes, que não ganharam novos significados sociais e políticos diante do empobrecimento, da precarização das relações sociais de trabalho e da degradação ambiental da agricultura familiar.

O que se nota é uma precarização da educação tanto no campo como na cidade que dificulta a construção da cidadania ativa em relação a sustentabilidade socioambiental.

Diante da forte tendência de institucionalização neste século da cultura ecológica (ALMEIDA, 2003), é preciso redimensionar a partir dos conhecimentos tradicionais e escolares, práxis de sustentabilidade socioambientais das populações do campo brasileiro.

Tais aspectos tornam-se mais desafiantes no território brasileiro, marcado pela desregulamentação das escolas rurais, da pouca presença das escolas do campo e da eficácia das políticas públicas educacionais voltadas para a agricultura familiar.

É preciso valorizar o convívio em comunidade, as técnicas próprias da pequena produção agrícola ou agricultura familiar, que se caracterizam por respeitar a lógica da natureza e a cultura popular, que nos permite conhecer e conviver com nossas raízes.

Também a medicina alternativa praticada por meio do uso das plantas e pelas mãos das benzedeiras e o aprofundamento do papel da espiritualidade, expressa na crença popular, como fator central na vida das comunidades.

Além disso, é necessário incrementar a valorização das representações sociais dos estilos e dos modos de vidas, enquanto possibilidades de resignificar a inter-relação das populações do campo que promovem a agricultura familiar com as singularidades da cultura tradicional.

É recomendável que se promova uma alfabetização geoecológica aliada as saberes ambientais dos grupos sociais, para que no ato de cultivar “os gramados” da vida possam transbordar a equidade socioambiental na agricultura familiar.

Devido à falta de eficácia das políticas públicas as escolas rurais e formação inicial e continuada para formadores do campo encontram-se desestruturadas e até mesmo comprometidas.
Existem experiências alternativas que já germinaram bons frutos, inclusive dos movimentos sociais do campo. Entretanto, neste início do século XXI, há modelos hegemônicos de educação ambiental que permeiam os cursos de formação de professores.

De forma geral, todos precisam valorizar as relações sociais, culturais, ambientais e étnicas para assegurar a luta e a cidadania ativa das pessoas e grupos sociais que desenvolvem a agricultura familiar no território brasileiro.

Cabe frisar que qualquer que seja a proposta de sustentabilidade socioambiental precisa, no mínimo, valorizar a autonomia, os conhecimentos populares, a tradição, os costumes e os modos de vida das populações do campo diante das singularidades e das pluralidades geoecológicas deste país continente.

Referências

ALMEIDA, M. G. de Cultura Ecológica e biodiversidade. Mercator: revista de Geografia da UFC. Fortaleza, CE, ano 01, n 03, jun/jul, 2003. p.71-82

BRASIL. Anuário do Censo Agropecuário. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. 2006.

CALVINO, I. Palomar. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

DUARTE, L.M. G.; THEODORO, S. H. (Orgs) Dilemas do Cerrado: entre o ecologicamente (in)correto e socialmente (in)justo. Brasília-DF, UNB, 2005.

FERNANDES, B. M. Questão agrária, pesquisa e MST. São Paulo: Cortez. 2001.

LEFF, E. Aventuras da epistemologia ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes. Tradução de Gloria Maria Vargas. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

MENCONÇA, M. R.; JUNIOR, T. A. A discussão agricultura camponesa x agricultura familiar e as perspectivas políticas para a reforma agrária. In: Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005. Universidade de São Paulo.

SILVA, J. G. da O novo rural brasileiro. 2. ed. rev. Campinas, SP: UNICAMP. Instituto de Economia, 1999.

STROPASOLAS, V. L. Os desafios da sucessão geracional na agricultura familiar. Agriculturas. v. 8 n.1 março de 2011.

VEIGA, José Eli da . Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se supõe.. In: Ivo M. THEIS. (Org.). Santa Cruz do Sul, SC: EDUNISC, 2008,

WOORTMAM, E. F. e WOORTMAN, K. O trabalho da terra – A lógica e a simbólica da lavoura camponesa. Brasília-DF: UnB, 1997.

http://coleciona.mma.gov.br/wp-content/uploads/bsk-pdf-manager/36_Insustentabilidade-Socioambiental-da-AF-no-Cerrado-Valney-Dias-Rigonato.pdf

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/07/2017

[cite]

 

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