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Artigo

A casa sustentável é mais barata (básico de sobrevivência), por Carol Daemon

 

Na postagem Reciclagem de edifícios, uma leitora escreveu reclamando sobre os custos de construir-reformar uma casa para padrões sustentáveis. Fiquei surpresa, porque a idéia é exatamente o contrário, reduzir os custos e impacto ambiental, o que reduz os custos de todos nós a longo prazo.

Como a maioria das pessoas têm a visão de que o produto sustentável é como o orgânico da agricultura, melhores mas restritos a uma “minoria bio-chic”, assumo a partir de hoje o compromisso de publicar uma série de posts dando exemplos práticos de como tornar sua casa mais verde, ou até totalmente verde, gastando pouco e com muito estilo. Já que eu trabalho na área e gosto muito do que faço, vejo como inaceitável uma opção reciclada e marginal ser mais cara do que o convencional para as massas.

Em tempo, orgânicos também são para todos, vá numa Feira local e veja como pode até sair mais em conta do que o comprado no supermercado, eu falo melhor sobre isso na postagem Orgânicos podem ser mais baratos.

E mãos à obra:

01. Você não precisa comprar móveis caríssimos e assinados, produzidos em MDF oriundo de madeira reflorestada. O reflorestamento de eucalipto é um mito que devasta às áreas remanescentes de mata atlântica. Reciclagem é um tripé apoiado em pelo menos 3 conceitos: recusar, reutilizar e só então reciclar.
Compre móveis de segunda mão, em madeira de lei, nas centenas de lojas, feiras de rua, antiquários de todo o país e até em sites de leilão. Você terá um móvel melhor, mais resistente e que já consumiu sua cota de madeira, água e combustível fóssil na logística de transporte.
Aproveite para comprar as louças (inglesas), copos (de cristal), talheres (de prata), objetos de decoração, itens de colecionador, obras de arte e afins nesses locais – os vendedores sempre dão desconto.

02. Faça seu aquecedor solar em casa, o custo total da placa é menor do que sua conta mensal de gás. A Sociedade do Sol ensina em cursos e ainda disponibiliza uma apostila para download gratuito em seu site.

03. Reuse todas as águas cinzas da máquina de lavar roupa. O custo total desse “projetinho doméstico” não passa de R$30,00 e te faz reduzir o consumo de água doméstico em pelo menos 200lts por semana.

04. Adote de uma vêz por todas o sanitário de caixa acoplada em comunicação com a pia. Um sanitário novo custa R$150,00 e pode ter sua tubulação de pvc adaptada sem precisar quebrar a parede. 60 a 70% do consumo de água em residências é oriundo dos banheiros.

05. Se estiver construindo a própria casa, aproveite os leilões de demolição de casas antigas e compre todas as portas, janelas, sancas, rodameios e rodapés nesses locais. Caso não vá precisar de algum item, mas se apaixonou por aquela “porta antiga de fazenda”, leve a porta (janela) assim mesmo e a transforme num encosto de cama, base para mesa de jantar, biombo separador de ambiente, moldura para quadros-espelhos ou mesmo a pregue na parede fazendo dela um quadro imenso e tridimensional. Nesse leilões ou mesmo galpões de venda de demolição, você pode comprar vitrais, azulejos antigos, tudo em madeira e até algumas peças em gesso.

06. Já existem telhas e forros internos totalmente desenvolvidos em pet reciclado para substituir até compensado naval, prometo buscar um fornecedor e trazer a informação. Mas não compre telhas de amianto, por favor.

07. Se realmente estiver empolgado, tente fazer pelo menos 1 ecotinta caseira, caso contrário, priorize as tintas comerciais produzidas em base aquosa. Na hr de descartar, lembre que as latas de tinta não reciclam, são lixo cinza, e as transforme em vasos de planta. Um bom pretexto para começar outra boa prática ambiental doméstica, uma horta caseira.

08. Garrafas de vidro, especialmente as de vinho (azuis e verdes), viram lindos vitrais se encaixadas inteiras na alvenaria, como um tijolo de vidro. Basta o executante fazer um desenho interessante. Veja 02 exemplos usando garrafas em construção e decoração nas postagens Se essa rua fosse minhaMichael Reynolds, Garbage Warrior: a bioarquitetura do Novo MéxicoA vila colombiana totalmente construída em adobe com pet e garrafas de vidro.

09. Telhado verde, o Instituto IPEMA e a Rede Permear dão cursos muitas vezes gratuitos.

10. Coletar água da chuva é mais fácil do que parece, toda laje é naturalmente inclinada para facilitar o escoamento da chuva, basta instalar uma calha e na saída da calha, uma cisterna.

11. Retalhos, cortinas, toalhas de renda e afins. Você pode usar até lona de caminhão higienizada para forrar uma cama box velha e existem centenas de cooperativas reaproveitando retalhos, colchas parcialmente rasgadas, toalhas de renda parcialmente manchadas vendidas em brechó e até sacos de café para fazer cortinas, almofadas, forrar cadeiras e poltronas. Os tecidos são limpos, tingidos e cortados, parecendo novos. Um dos grandes problemas de nosso tempo é que tudo vem com muita embalagem e o artesanato local inclui socialmente a população desempregada quando reaproveita essas embalagens. O melhor exemplo brasileiro, na minha opinião, é a Tem quem queira, cooperativa de presidiários que reaproveita outdoors para fazer bolsas exclusivas, os detentos já saem da carceragem com outra expectativa profissional. Você pode usar o exemplo deles e fazer do outdoor descartado um papel de parede alternativo para uma única parede numa sala toda branca.
Lembro sempre também da mãe de uma amiga de infância que, deprimida e cheia com os 2 filhos rapazes e adolescentes, arrancou a rede da varanda (eles colocavam o pé sujo em cima) e a transformou numa cortina longa que dispensava blackout.

12. Tente enxergar tudo que encontrar com outros olhos. Para quem pensa “verde” até caixote de feira, gaveta, lata de tinta usada e pote de geleia podem ser reutilizados e virar móveis interessantes. Visitar uma Ecovila pode te ajudar a exercitar esse olhar e ainda te colocar em contato com pessoas incríveis. A cadeira de ecodesign assinada e feita em tiras de pneu de bicicleta retorcidas que hoje é sonho de consumo, já foi apenas isso: alguém que enxergou o lixo de forma diferente e deu um destino àquilo.

Para encerrar, eu não tenho nada contra o badalado ecodesign, mas faço do mesmo uma opção de luxo para ocasiões especiais, até porque acredito que a sustentabilidade tem que ser para todos. Se você pode pagar o triplo do valor do sofá das Casas Bahia num sofá em ecodesign assinado e peça única, vá em frente, as peças são lindas e a vida é uma só (até que provem o contrário). Mas sustentável mesmo é o sofá da casa da vovó depois de reformado, lembre-se antes de passar o cartão na loja.

Continua:
A casa sustentável é mais barata – parte 02 (casas contêiner)
A casa sustentável é mais barata – parte 03 (material de demolição)
A casa sustentável é mais barata – parte 04 (ecotintas)
A casa sustentável é mais barata – parte 05 (eletrodomésticos vintage)
A casa sustentável é mais barata – parte 06 (captação de águas pluviais)
A casa sustentável é mais barata – parte 07 (pallets e reels)
A casa sustentável é mais barata – parte 08 (cursos e certificações)
A casa sustentável é mais barata – parte 09 (lavanderia)
A casa sustentável é mais barata – parte 10 (ecotijolos e concreto reciclado de entulho)
A casa sustentável é mais barata – parte 11 (irrigação por gotejamento)
A casa sustentável é mais barata – parte 12 (faxina e controle de pragas)
A casa sustentável é mais barata – parte 13 (recycled boat house)
A casa sustentável é mais barata – parte 14 (dormitórios tubulares)
A casa sustentável é mais barata – parte 15 (aquecedor solar de baixo custo a R$35,00)
A casa sustentável é mais barata – parte 16 (piscinas naturais)
A casa sustentável é mais barata – parte 17 (fornos solares a R$17,00)
A casa sustentável é mais barata – parte 18 (estantes)
A casa sustentável é mais barata – parte 19 (construções com portas e janelas)
A casa sustentável é mais barata – parte 20 (reuso de águas cinzas do banho para o sanitário)
A casa sustentável é mais barata – parte 21 (espiral de ervas, torres e pirâmides de cultivo)

 

Carolina Daemon Oliveira Pereira
Supervisora certificada em Segurança, Meio Ambiente e Saúde de plataformas de petróleo. Mergulhadora, fotógrafa e voluntária. Cozinheira e permacultora autodidata. Responsável por 3 vira-latas resgatados.

** Artigo indicado pela Autora e originalmente publicado em seu blogue pessoal.

 

in EcoDebate, 06/01/2017

 

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