A tragédia com a Chapecoense e a comoção mundial, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] O estádio cheio de torcedores do Atlético Nacional da Colômbia cantando em homenagem à Chapecoense foi de arrepiar. O Real Madrid com a camiseta “Somos Todos Chapecoense” também foi comovente. No país e no mundo, chocados com a perda das dezenas de vidas da delegação esportiva, assistimos a reações que foram muito além do imaginado.
No noticiário habitual estamos acostumados a notícias ruins sobre a humanidade: guerras, flagelos, injustiças, exploração de uns por outros, competições destrutivas, violência… Poucas vezes a bondade é notícia, a solidariedade, a generosidade, atos de empatia.
Pois o que se viu naquele estádio da Colômbia foi um gigantesco ato de “empatia coletiva” onde a torcida de um time fazia homenagem às vítimas do que viria a ser seu rival, cantando que a Chape era a campeã, louvando pessoas e as suas respectivas famílias de um outro time, de um outro país, com a mesma devoção como se estivessem homenageando a seus próprios jogadores e famílias.
Por todo o país e nas mais diversas praças de esportes do mundo foram feitas diversas homenagens expressando solidariedade e carinho com as vítimas. Num mundo cada vez mais cheio de conflitos e de intolerâncias – étnicas, religiosas, nacionais, ideológicas – esse episódio de empatia e solidariedade tem um significado imenso, de que ainda se pode falar em “humanidade” em um aspecto positivo, de valores morais elevados tais como a sensibilidade demonstrada, em tantos lugares do mundo, neste episódio.
Está na moda nas redes sociais criticar tudo e todos, falar mal da humanidade em contraste com falar bem dos outros animais, por exemplo. A empatia com a dor da Chapecoense não redime a humanidade, mas evidencia que também temos um lado amoroso, capaz de nos unir, mesmo que em situações excepcionais, já que no dia a dia estamos imersos em tantas óticas competitivas, em relação às demais pessoas.
Mas nem tudo são flores, há quem tenha feito uso perverso dessa tragédia. Foi o caso da Câmara dos Deputados, que aproveitou que todos os holofotes estavam na Chapecoense para aprovar um texto desfigurado do que seriam as “Medidas contra a corrupção”. A indignação foi tão grande que o Senado já rejeitou, no dia seguinte, um pedido de urgência de Renan Calheiros para aprovar o texto da Câmara.
Agindo na calada da noite, para fugir à pressão da opinião pública e deturpar as medidas contra a corrupção (de modo a inibir Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal), a Câmara provocou um “panelaço” na noite seguinte, em todo país. Os deputados, enfim, também “uniram o país”, mas na revolta contra eles.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade
in EcoDebate, 05/12/2016
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Montserrat, seria socialmente justo nao “deturpar” medidas que fragilizam o habeas corpus e outras garantias individuais e que concedem ainda mais privilegios a essa casta que se auto concede obscenos salarios?
As “garantias individuais” que os deputados visam preservar, nesse momento, são a própria impunidade, como a nação está percebendo. Mas é claro que esse assunto merece ser aprofundado num artigo próprio a respeito. Abraços
Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Os nossos representantes políticos, mas do que vontade própria, estão lá porque o povo quis, através do voto. Concordo com o combate à corrupção, apoio a Lavajato, mas imunidade total ao Judiciário é demais. Eles erram e feio, como todos os mortais. O STF está extrapolando as suas funções e não são absolutos. A didatura do judiciário é a pior delas (Rui Barbosa).