EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Créditos de Carbono e dignidade humana, artigo José Vicente Pimenta

Aterro Sanitário de Gramacho, RJ, em foto de arquivo ABr
Aterro Sanitário de Gramacho, RJ, em foto de arquivo ABr

Todos os economistas e ambientalistas sabem que o crescimento da economia industrial provoca a destruição da natureza e, como essa destruição tem sido muito grande, começou a colocar em risco o equilíbrio do ecossistema planetário. Foi pensando nisso que a ONU criou o sistema de créditos de carbono, cujo objetivo é recompensar economicamente aqueles países não industrializados que renunciam à industrialização para preservar a natureza.

Vender créditos de carbono provenientes de aterros sanitários e lixões é um desrespeito ao protocolo de Kyoto porque o aterro sanitário, longe de ser uma atividade limpa, é duplamente poluidora. Primeiro porque destruiu para sempre a natureza que havia no lugar em que foi construído e segundo porque, mesmo com uma usina de biogás, contamina o ar, a água e o solo no seu entorno.

As pessoas, no entanto aceitam, com certa tranqüilidade, como positivo o discurso dos créditos de carbono por dois motivos: a) as partículas de carbono são invisíveis a olho nu; b) o dinheiro proveniente dos seus créditos faz muita falta e se torna tentador.

Para compreender o problema da invisibilidade das partículas de carbono, basta observar os telhados das casas. Quando estão novos, são limpos e bonitos mas depois de alguns anos ficam sujos e feios porque as partículas invisíveis de carbono que flutuam no ar, vão, aos poucos, se acumulando sobre eles. O mesmo acontece com os nossos pulmões, depois de algum tempo respirando o ar contaminado por essas partículas, começam a ficar sujos e doentes.

Quanto ao dinheiro dos créditos de carbono, é o preço que os países industrializados aceitam pagar para jogar veneno no ar que respiramos. Esse dinheiro, também costuma ser invisível para a população pobre porque, apesar das promessas, a maior parte é destinada para a realização de projetos obscuros, mal explicados e sem nenhum controle social, como ocorreu no último leilão de créditos de carbono realizado em São Paulo, em que mais da metade do dinheiro foi destinada para “outros” investimentos.

Para os pobres sobram apenas o veneno e as migalhas de sempre; a pavimentação de alguma via; a construção ou manutenção de algum equipamento social e algumas guias pintadas. Coisas que são obrigações da prefeitura e direitos do cidadão, independentemente disso.

Em um mundo dominado pelo mercado, em que os donos do dinheiro pensam que podem comprar tudo e todos, é necessário dizer que na vida existem coisas que não tem preço. A nossa dignidade e a nossa saúde são duas delas.

Mas, para que o mal seja o menor, em São Mateus, esse dinheiro deve ser utilizado para descontaminar e restaurar o entorno do Aterro São João. Toda a área adjacente deve ser reflorestada com espécimes vegetais nativas, repovoada com os animais em extinção que habitam o local e depois aberto para visitação pública como acontece no Horto Florestal.

Além disso, a construção de um conjunto habitacional aliviaria a demanda reprimida que gera as ocupações sem infra-estrutura no Morro do Cruzeiro. Isso também é investir no MEIO AMBIENTE, urbano, no caso.

[EcoDebate, 01/12/2008]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.