Despoluir Baía de Guanabara custaria R$ 20 bi e levaria 25 anos, diz secretário
O secretário do Ambiente do estado do Rio de Janeiro, André Correa, disse ontem (20) que não é possível deixar a Baía de Guanabara em condições adequadas em menos de 25 anos. Correa concedeu entrevista coletiva ao lado de uma ecobarreira no Rio Meriti e afirmou que a meta de “despoluir 80% da baía até a Olimpíada” era “muito ousada e mal colocada”, pelo que ele avaliou como um erro de comunicação.
“Qualquer pessoa que disser que essa baía estará em condições ambientalmente adequadas em menos de 25 ou 30 anos está mentindo. Não vamos fazer isso no curto prazo”, admitiu.
O secretário afirmou que apenas para resolver os problemas de despejo de esgoto na Baía de Guanabara seriam necessários mais R$ 20 bilhões para executar os planos municipais de saneamento das cidades que circulam a baía.
“Estamos falando apenas de esgoto. Só de universalizar e impedir que a carga orgânica chegue na baía”, disse ele, acrescentando que rejeitos industriais, resíduos sólidos e vazamento de óleo de navios também poluem a baía.
Correa informou que erros de planejamento e de comunicação fizeram com que o governo caísse em descrédito com a população sobre o tema. Ele lembrou que há 20 anos, quando o governo do estado obteve um empréstimo de R$ 2,5 bilhões, houve a promessa de que essa quantia seria suficiente para solucionar o problema, o que não ocorreu.
Depois, ao assumir compromissos olímpicos, o estado prometeu despoluir 80% da baía. “A gente colocou uma meta que era muito ousada, de ter a baía 80% despoluída e ninguém sabe explicar o que é esse 80%, se é de carga orgânica ou se não é. Ficou uma coisa muito mal colocada e que só contribuiu para esse descrédito original.”
Em crise, o governo do estado não tem, segundo o secretário, condições de arcar com os R$ 20 bilhões necessários. Para Correa, a única solução seria recorrer a parcerias público- privadas, o que também pode ser difícil pela situação econômica do país. “É a única saída que a gente tem. O estado não tem recursos para fazer isso”.
Para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, no entanto, o secretário afirmou que a qualidade da água não preocupa, porque as quatro raias de competição no interior da baía têm condições próprias para o contato humano.
“Isso não é mérito do governo. É a natureza que faz ali uma grande troca do mar”, disse. A partir de hoje, as condições da água serão medidas diariamente e divulgadas 48 horas depois, o que deve se estender até o fim da Paralimpíada.
A Secretaria Estadual do Ambiente informou que, mesmo na Marina da Glória, de onde saem os barcos dos velejadores, as intervenções feitas para os jogos conseguiram garantir que a água tenha boas condições.
Lixo flutuante
Ameaça ao desempenho dos competidores, o lixo flutuante tem sido combatido com 17 ecobarreiras e 13 ecobarcos. Cerca de 2,4 mil toneladas foram impedidas de chegar à baía em seis meses, com dez ecobarreiras instaladas e uma média mensal de 45 toneladas foi coletada pelos ecobarcos. Mesmo assim, André Correa afirmou que não é possível garantir que o lixo não cause problemas durante a competição.
“A probabilidade de isso acontecer é muito baixa, mas não seria leviano de garantir. Lixo zero não existe nem na Baía de Guanabara nem em qualquer baía do mundo”.
De acordo com o secretário, mudanças na governança, com maior comunicação entre os órgãos responsáveis pela baía, estão entre os legados dos jogos. Ele chamou atenção também para o destaque que o problema ambiental ganhou com a chegada da competição.
“Espero que, com o fim da Olimpíada, não pare essa cobrança.” Conforme André Correa, “a Baía de Guanabara virou a Geni [personagem escrito por Chico Buarque que era discriminada na Ópera do Malandro] e é culpa nossa, do governo. Como a gente sempre comunicou muito mal isso, acabou que os avanços ficaram obscurecidos”, concluiu.
Por Vinicius Lisboa, da Agência Brasil, in EcoDebate, 21/07/2016
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