Pesquisa associa ocorrência de diarreia com vulnerabilidade social
Pesquisa pode ajudar o poder público a conhecer melhor a cidade e a direcionar os recursos de modo mais pontual
Por Valéria Dias, do Jornal da USP
Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP buscou relacionar a vulnerabilidade social do município de São Paulo e as internações por diarreia na rede pública com as áreas de inundação na cidade. A partir desses dados, a pesquisadora Doris Jimena Roncancio Benitez desenvolveu mapas que mostram como essas informações estão apresentadas na capital paulista.
A pesquisadora destaca que existe toda uma justificativa por trás do objetivo da pesquisa: as consequências das mudanças climáticas. “Segundo as modelagens climáticas, os eventos de precipitação chamados de extremos vão ser cada vez mais frequentes na cidade. Esse tema sempre tem muito eco na mídia, desde a visão dos danos diretos que podem ser causados ao meio ambiente, às nossas cidades e lares, até a perspectiva da saúde. As mudanças no meio ambiente podem trazer consequências sobre nós que também deveríamos conhecer para agirmos adequadamente”, aponta.
O estudo mostrou que as taxas mais altas de internação por diarreia no Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade de São Paulo coincidem com as áreas mais vulneráveis do município: as periferias das regiões leste e sul. Já nas áreas centrais, a taxa de vulnerabilidade é baixa. Entretanto, quase 60% do mapa foi considerado com vulnerabilidade média. “Entre esses extremos, há pontos mistos, com taxas altas e baixas, muito próximos uns aos outros. Nesses locais, a vulnerabilidade é média e é muito fragmentada. O poder público precisa estar atento a isso”, alerta a pesquisadora.
Doris Jimena conta que não houve uma diferença muito grande na comparação entre as épocas de chuva (outubro a abril) e as de seca (maio e setembro). “Então essa vulnerabilidade ocorre o ano todo. Portanto, se temos locais com vulnerabilidade alta, a situação é ainda pior”, destaca.
Por isso, as políticas públicas e o direcionamento de recursos precisam ser muito pontuais. É preciso ainda conhecer a cidade mais a fundo, com mais detalhes, principalmente nesta área mista de ocorrência da vulnerabilidade social
Mapas
O mapa da vulnerabilidade social foi construído segundo um índice desenvolvido a partir de uma metodologia estatística criada na Universidade da Carolina do Sul pela professora Susan Cutter. São levadas em conta variáveis que abrangem desde a situação social da população (renda, média de moradores por casa, nível de educação de chefe do lar, número de crianças, de idosos, etc.) como também as carências sanitárias e a capacidade de suportar uma situação de desastre (conexão à rede de água e elétrica, serviço de coleta de lixo, etc.). Esses dados foram retirados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Doris Jimena explica que, devido à precariedade de informações sobre os locais de inundação no município, foi preciso trabalhar com dados que mostrassem a influência das microbacias hidrográficas da cidade na probabilidade de ocorrência maior ou menor de inundação. “Desde o começo soubemos que ia ser difícil encontrar os locais exatos de inundações na cidade, com datas e áreas inundadas. Por isso, foi preciso trabalhar com as microbacias hidrográficas”, esclarece.
Mapa de vulnerabilidade social (clique para ampliar)
As taxas de internação por diagnóstico de diarreia do município foram obtidas em uma base de dados disponível no Centro de Estudos da Metrópole (CEM). Doris Jimena considerou a internação de crianças até cinco anos e de idosos acima de 60 anos, mas apenas para o SUS, nos anos de 2009 e 2010. Esses dados possibilitaram construir quatro mapas: dois para idosos (um levando em conta a estação seca, outro, a chuvosa) e dois para crianças (um para a estação seca, outro para a chuvosa). Os resultados da pesquisa foram obtidos a partir da comparação entre o mapa de vulnerabilidade com esses quatro mapas e a análise dos dados.
Ceped
A dissertação de mestrado Vulnerabilidade Social e ocorrência de doenças gastrointestinais associadas com inundações no Município de São Paulo foi realizada sob a orientação da professora Adelaide Cassia Nardocci e apresentada à FSP em maio de 2015.
O estudo está inserido em um projeto de pesquisa realizado no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped) da USP, um dos Núcleos de Apoio à Pesquisa (NAPs) da Universidade. O Ceped surgiu em 2013 a partir de uma iniciativa conjunta entre a USP e a Defesa Civil do Estado de São Paulo.
in EcoDebate, 17/05/2016
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