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Desastre da Samarco: Impactos da tragédia da mineração irão se alastrar por anos

 

Por André Costa (Agência Fiocruz de Notícias/AFN)

A mesa de abertura do seminário O Desastre da Samarco: balanço de seis meses de impactos e ações, que aconteceu nos dias 5 e 6 de maio em Minas Gerais, destacou a importância de debater periodicamente acontecimentos como este, uma vez que os impactos costumam se alastrar por anos, exigindo permanente pesquisa e cobrança do poder público. O debate foi composto pelo pró-reitor de planejamento da Universidade Federal de Ouro preto (UFOP), Rodrigo Bianchi, pelo representante da Força Tarefa do Governo do Estado de Minas Gerais, Breno Longobucco, pelo prefeito de Mariana, Duarte Gonçalves Júnior, pelo coordenador no Brasil do Estratégia Internacional para a Redução de Desastres das Nações Unidades (UNISDR, na sigla em inglês), David Stevens, pela diretora da Fiocruz Minas, Zélia Profeta, e pelo vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel.

Mesa da abertura do evento debateu principais consequências da tragédia da mineração (foto: Peter Ilicciev)
 

 

“Desde o início da tragédia, a Fiocruz participa de uma série de atividades ligadas à tragédia, respeitando os valores e os princípios da instituição. Este evento reforça o compromisso da Fundação com essa situação. Ele nos lembra que temos que estar presentes para cuidar dessa ferida. Muitos dos efeitos de um evento avassalador como esse só serão sentidos nos próximos anos. Isso torna ainda mais importante estar aqui hoje para não esquecer”, disse Zélia.

Stevens, das Nações Unidas, destacou que desastres têm aumentado no Brasil, sejam eles deslizamentos, secas ou enchentes. Segundo o próprio, embora toda atividade humana implique em riscos, o que aconteceu não deve ser naturalizado, decorrendo antes da falta de ação do poder público para garantir que normas de segurança sejam cumpridas.

O representante da força-tarefa do Governo de Minas Gerais, Longobucco, por sua vez, falou brevemente sobre o que fez o governo estadual mineiro nestes seis meses. Segundo ele, o governo do estado publicou um decreto estabelecendo uma força-tarefa composta por seis órgãos de governo para realizar um diagnóstico dos danos, assim como para coordenar esforços para prevenir danos futuros. O diagnóstico, que propõe um sistema de gestão para prevenir desastres, contou com a colaboração de mais de 80 instituições do Brasil e do mundo, e pode ser consultado on-line.

Pesquisador da UFOP, Bianchi destacou que o conhecimento e a tecnologia devem sempre andar juntos, e que a separação entre estas áreas pode produzir desastres como o ocorrido em Mariana. Segundo ele, o rompimento da barragem apenas colocou na ordem do dia um questionamento profundo sobre o modelo de desenvolvimento do país. “Precisamos refletir sobre qual é o legado da mineração para a cidade, o estado, o país e o mundo. O rompimento da barragem apenas adiantou esta discussão em 50 anos”, apontou.

Debate apontou que desastres têm aumentado no Brasil, sejam eles deslizamentos, secas ou enchentes (foto: Peter Ilicciev)

 

Em seguida, o prefeito de Mariana teve uma das participações mais polêmicas no seminário. Tão logo pronunciou as primeiras palavras, dezenas de pessoas no auditório se levaram para exclamar, em coro: “Mariana não se cale, o crime é da Vale!”. Alguns dos presentes acrescentaram que Gonçalves Júnior teria cumplicidade no ocorrido, por leniência com as empresas de mineração.

O prefeito se defendeu, afirmando que vive situação “extremamente delicada”, uma vez que 89% da arrecadação do município de Mariana viria da mineração. Gonçalves disse que, como gestor público, tem a necessidade de manter programas sociais ligados à saúde e à educação, necessitando dos royalties da mineração, e acrescentou que a principal prioridade é garantir que a Samarco arque com o ressarcimento dos estragos.

Último participante da mesa de abertura, o vice-presidente da Fiocruz Valcler Rangel destacou que, enquanto instituição pública, a Fiocruz tem compromisso de trabalhar para a construção de políticas públicas inclusivas e participativas. Associando o rompimento da barragem à crise política que vive o país, Rangel afirmou que ambos os problemas podem ser entendidos como resultado das pressões do capital, às quais é necessário resistir. “Vivemos uma situação na qual temos muito medo: medo de perder o emprego e nossas fontes de recursos. Temos que saber como enfrentá-lo: é preciso coragem, e, além dela, de parcerias e alianças”, destacou. “Que estes dois dias de debate nos cause muito mal-estar, para podermos dar um salto de qualidade”, encerrou.

 

in EcoDebate, 13/05/2016

 

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