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Artigo

Ascensão e queda do BRICS, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

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[EcoDebate] O termo BRIC (tijolo em inglês) foi inventado, em 2001, pelo economista Jim O’ Neill, do banco de investimento Goldman Sachs, com o objetivo de orientar as empresas e os investidores mundiais como ganhar dinheiro com os grandes países “emergentes” do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China. Estes quatro países estão entre aqueles da comunidade internacional com maior território ou maior população.

O termo fez grande sucesso, especialmente no período do super ciclo das commodities, que possibilitou um crescimento da economia dos países “emergentes” em relação aos países “avançados” (para usar uma terminologia do FMI). Mas no acrônimo original não havia nenhum país da África, o que era politicamente incorreto. Então foi incluída a África do Sul (South Africa) e o termo BRIC ganhou uma letra a mais, se transformando em BRICS (que seriam os tijolos da nova economia global).

O incrível é que o termo BRICS, criado pelo setor financeiro internacional, virou uma sigla política que se transformou em um grupo político de países heterogêneos que se reúnem periodicamente e até criaram um banco, denominado NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 100 bilhões, que permitiria aos cinco países assistência mútua no advento de crises de liquidez. O grupo seria uma versão atualizada de líderes do Terceiro Mundo.

Contudo, observando os dados do FMI, nota-se que entre 1980 e 2020 os únicos países que ganham participação na economia internacional são China e Índia. Em 1980, a participação do PIB da China no PIB mundial (em poder de paridade de compra – ppp) era pouco mais de 2% e deve ficar perto de 20% em 2020. Nunca na história um país deu um salto de quase 10 vezes em quatro décadas. Mesmo considerando que a China já foi o país mais avançado do mundo até cerca de 3 séculos atrás, a situação era muito difícil antes das reformas de Deng Xiaoping de 1979. Com o grande salto recente, em valor de paridade de compra, a China se tornou a maior economia do mundo, superando os Estados Unidos.

A Índia era, antes do domínio inglês, a segunda maior economia do mundo. Mas já na época da Independência, em 1947, era uma economia fraca e muito pobre. Depois das reformas da década de 1990, a economia indiana acelerou e deve ultrapassar 8% do PIB mundial até 2020 (em ppp). No governo de Narendra Modi as taxas de crescimento econômico indiano ultrapassaram as taxas chinesas. Por volta de 2025 a população da Índia ultrapassará o volume da população chinesa.

Como pode ser visto no gráfico, a China e a Índia são realmente os dois países emergentes que ganham espaço na economia internacional. Em termos de renda per capita, a China já ultrapassou o Brasil e a Índia ainda está bem atrás. Já os demais países (Rússia, Brasil e África do Sul) estão perdendo posição relativa e possuem, atualmente, peso menor do que na década de 1980. Na verdade, do ponto de vista da participação na economia global, são países submergentes que perdem peso geo-econômico-político.

A Rússia apresenta sérias inseguranças jurídicas e institucionais e enfrenta as sanções do Ocidente ao país por sua atuação na Ucrânia e na anexação da Crimeia. Além disto, a queda do preço dos combustíveis fósseis tem derrubado o desempenho do país que é muito dependente da exportação de petróleo e gás.

A África do Sul, 20 anos pós-apartheid, tem enfrentado uma aguda crise econômica, denúncias de corrupção e muita violência, com milhares de imigrantes de países vizinhos, como Moçambique, Zimbabué e Malawi, entre outros, abandonando o país para fugir da fúria xenófoba dos sul-africanos. A onda de violência decorre da grave crise política por que passa a África do Sul, em que os seus cidadãos têm de dividir os poucos empregos existentes

O Brasil vive a sua mais longa e profunda recessão econômica e uma de suas crises políticas mais graves de todos os tempos. Dos quatro presidentes eleitos após a redemocratização da Nova República, dois sofreram processo de impeachment. O país caminha para uma segunda década perdida e pode enfrentar uma grande turbulência social.

 

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Para que o acrônimo BRICS fosse uma alternativa real à unipolaridade pretendida pela Casa Branca (EUA) e o G-7 (grupo das 7 maiores economias capitalistas centrais) seria necessário que todos os países do grupo continuassem mantendo altas taxas de crescimento, garantindo a inclusão social, a soberania nacional, a democracia e a saúde do meio ambiente. Mas com os problemas da Rússia, Brasil e África do Sul o grupo BRICS está mais para o binômio IC (Índia + China). Os dois grandes países, com um terço da população mundial e que possuem civilização milenar, tendem a tirar o atraso imposto e se tornarem protagonistas da economia internacional.

Do grupo BRICS, dois países estão em ascensão e são emergentes. Os outros três estão em queda relativa e são submergentes.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, 11/05/2016

[cite]

 

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