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Seca no Norte de Minas Gerais: A situação dos rios é reflexo da falta de chuvas e da ação predatória de parte dos agricultores junto às encostas

Monte Azul (MG) - Encontro dos rios Pazeú-Tremendal Foto: Valter Campanato/ABr
Monte Azul (MG) – Encontro dos rios Pazeú-Tremendal Foto: Valter Campanato/ABr

Monte Azul (MG) – O visitante que se aproxima do distrito de Pajeú, na zona rural de Monte Azul, norte de Minas Gerais, se depara nesses dias com uma cena em princípio inusitada, mas que tem se tornado comum nos últimos períodos de seca.

Trata-se de um encontro entre dois rios – Pajeú e Tremedal – completamente secos, o que obriga moradores da região a dividirem a água distribuída por carros-pipa com os animais.

A situação dos rios é reflexo, além da falta de chuvas, da ação predatória de parte dos agricultores junto às encostas. “Fazem muito desmatamento na beira da serra. Tiram madeira para vender, para ter espaço para plantar um rocinha na beira do rio”, descreveu Aristeu Oliveira, 42 anos, todos eles vividos na região.

As chuvas que começaram a cair esta semana, após seis meses de estiagem, terão de ser intensas nas próximas semanas para que os rios encham antes do final do ano.

Um pouco à frente, a senhora Laudir Cardoso, 57 anos, trabalha em uma pequena plantação de algodão e mandioca, visivelmente esturricada. Ele retira as mudas estragadas e planta novas à espera de efeitos positivos com a volta das águas. “Perdemos metade da produção. Nossa plantação de mandioca, vai demorar agora mais dois anos para colher”, reclamou.

Com uma roça voltada a apenas para consumo próprio, Laudir complementa a aposentadoria de um salário mínimo com R$ 62,00 recebidos do programa Bolsa Família. Dos 8 filhos, apenas 2 permanecem em Monte Azul, pois os demais reforçam as estatísticas da emigração constante na região. “Não tinha serviço ordenado aqui e foram embora [para o interior de São Paulo] tentar algo melhor”, contou.

À medida em que se avança pela zona rural do município com área total de 991,57 quilômetros quadrados, mais cicatrizes da seca surgem expostas. Dezenas de casas em situação precária estão abandonadas. Em pastos ralos, vacas magras e algumas mortas.

Segundo relato de moradores, uma família que possui duas boas vacas leiteiras pode se sentir privilegiada, pois conseguirá tirar delas o necessário para uma alimentação digna. Cada uma dá em média de 8 a 10 litros de leite por dia, vendidos a R$ 1,00 cada para laticínios. Num mês tira-se em torno de R$ 600 reais, desconta-se um custo de aproximadamente R$ 200,00, e o restante “ dá para fazer a feira”.

Ao analisar o agravamento da pobreza na região, Aristeu Oliveira, que já foi vereador, recordou com ar saudosista que há 25 anos, quando ainda chovia, segundo ele, de setembro a março, a vida era melhor. Para ele, a água diminuiu e o comportamento das pessoas também mudou. “O algodão dava um bom dinheirinho e não tinha essa crise. Ninguém ligava para essas modinhas de roupas, por exemplo. Bastava ter duas calças e duas camisas para trabalhar e mais uma roupa bonita para o São João”.

Monte Azul (MG) - Ponte sobre o leito seco dos rios Pajeú e Tremedal Foto: Valter Campanato/ABr
Monte Azul (MG) – Ponte sobre o leito seco dos rios Pajeú e Tremedal Foto: Valter Campanato/ABr

De acordo com os dados oficiais o município de Monte Azul, a 530 quilômetros de Belo Horizonte, reúne em torno de 24 mil habitantes, 52% deles vivendo na área rural. Segundo o chefe de gabinete da prefeitura, Francisco de Assis, com a seca dos últimos seis meses 60 comunidades rurais, onde vivem quase 8 mil pessoas, ficaram na dependência dos caminhões-pipa.

Matéria de Marco Antônio Soalheiro, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/11/2008.

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