O Trilema da Sustentabilidade, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“É impossível que esse modelo, tal como o conhecemos, mantenha de pé as três bases do tripé da sustentabilidade, que na verdade se transformou em um trilema”
(Martine e Alves, 2015)
[EcoDebate] Existe um mito que ronda o panorama internacional que é o conceito de desenvolvimento sustentável e o chamado tripé da sustentabilidade. Enquanto uma ideia um tanto quanto utópica, busca-se interpretar o desenvolvimento sustentável como sendo um processo de produção de bens e serviços “socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável”.
Mas na prática, o desenvolvimento sustentável não passa de um oxímoro e o tripé da sustentabilidade não é um tripé, mas um trilema. Trilema é um termo utilizado quando se tem uma proposição formada de três lemas contraditórios ou que reúnem uma escolha difícil entre três opções conflitantes.
O crescimento das atividades antrópicas está colocando cada vez mais pressão sobre o Planeta. Está ficando difícil conciliar crescimento econômico, bem-estar social e sustentabilidade ambiental. Aliás, está aumentando a ruptura entre os polos desse trilema. O pior é que quanto mais avança o modelo de produção e consumo hegemônico, maiores são os riscos globais de colapso, pois temos um “fluxo metabólico entrópico” que dissipa a energia e degrada o “capital natural” da Terra.
Ou seja, o “sistema de produção e consumo hegemônico” (capitalista de mercado ou capitalista de Estado) não consegue, ao mesmo tempo, ser socialmente justo e ambientalmente sustentável. Ou um ou outro. Por isto é impossível ao “modelo hegemônico”, tal como o conhecemos, manter de pé as três bases da sustentabilidade, que na verdade estão em constante conflito.
Até 2100 a população mundial deve atingir mais de 11 bilhões de habitantes. Se o “sistema econômico hegemônico” (modelo “Extrai-Produz-Descarta” com desigualdade social) conseguir incluir todas estas pessoas no padrão médio de consumo a demanda por recursos naturais será enorme e o impacto sobre a degradação do meio ambiente pode ser irreversível. Se a maioria destas pessoas ficarem de fora das “benesses” do capitalismo, haverá uma grande revolta social e uma grande disputa entre os povos do mundo, que vai fazer a crise migratória atual parecer um problema muito pequeno e quase insignificante.
O fato é que vivemos numa sociedade de risco que gera negatividades crescentes. É ilusão acreditar que a racionalidade e a tecnologia vão resolver todos os problemas. O sistema hegemônico só se sustenta em pé se atender os três pilares da sustentabilidade. Mas é praticamente impossível atender o tripé em um processo de continuo crescimento demoeconômico, em num Planeta finito. É preciso evitar a “orgia consumista”, nas palavras de Zygmunt Bauman, ou o “consumicídio” nas palavras de Josep Gali.
O desenvolvimento sustentável se tornou um oximoro e o tripé da sustentabilidade virou um trilema. A utopia dos ODS pode se transformar em distopia. Vejam os textos da REBEP que tratam deste assunto:
MARTINE, G. ALVES, JED. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé ou trilema da sustentabilidade? R. bras. Est. Pop. Rebep, n. 32, v. 3, Rio de Janeiro, 2015 (em português e em inglês)
MARTINE, G. Reviving or interring global governance on sustainability? Sachs, the UN and the SDGs. R. bras. Est. Pop. Rebep, n. 32, v. 3, Rio de Janeiro, 2015
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, 20/11/2015
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Não existe incompatibilidade entre sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social. O problema é a busca incessaante pelo desenvolvimento econômico infinito, em um planeta que é finito. É isto que levará o planeta Terra, em breve espaço de tempo, a um colapso total.
Parabenizo o autor do artigo, Doutor José Eustáquio Diniz Alves, pela apresentação clara e indiscutível da questão mais importante da atualidade.