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Notícia

Represas que abastecem região metropolitana de São Paulo possuem substâncias como alumínio e chumbo

Billings tem poluentes até 100 vezes acima do limite – Dados são de estudo da USP; segundo Sabesp, poluição não representa risco à população, pois água é tratada antes do consumo

Estudo realizado por técnicos da USP (Universidade de São Paulo), a pedido do Ministério Público, detectou que as represas Billings e Guarapiranga têm poluentes, alguns deles potencialmente tóxicos e cancerígenos, acima do permitido pela legislação ambiental. Por Talita Bedinelli, colaboração para a Folha e José Eernesto Credendio, da Reportagem Local.

A água das duas represas ajuda no abastecimento dos municípios da região metropolitana de São Paulo e é utilizada como lazer, para pesca, nado ou vela.

Análises feitas de setembro de 2007 a maio de 2008 observaram que, das 95 substâncias examinadas, 25 estavam fora de conformidade em pelo menos 10% dos testes em um dos pontos de monitoramento.

Havia níveis altos de substâncias como alumínio, que pode estar associado ao mal de Alzheimer; cianetos, que podem causar perda de peso e danos à tireóide e ao sistema nervoso; clorofórmio, suspeito de ser cancerígeno; coliformes termotolerantes, que contêm vírus e bactérias; entre outras.

O poluente mais preocupante, diz o relatório, é o chumbo. Numa amostra da Billings, havia uma quantidade 100 vezes superior ao permitido. Outra, na Guarapiranga, detectou-o em quantidade 23 vezes maior do que o limite. O chumbo, em altos valores, pode causar anemia e problemas neurológicos.

Segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), as substâncias não representam risco à população, pois a água é tratada antes do consumo. A empresa diz que a poluição se concentra em pontos específicos, perto de manchas urbanas, e é causada por despejo de esgoto sem tratamento. Nas áreas usadas como lazer, perto de São Bernardo do Campo e Ribeirão Pires, há monitoramento diário e a água possui a qualidade exigida pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

As análises da água foram pedidas pelo Ministério Público porque o governo paulista pretende bombear a água dos rios Pinheiros e Tietê para a Billings. A água passaria por um processo de limpeza denominado flotação -tratamento com produtos químicos que levam a sujeira para a superfície.

O processo ajudaria a despoluir o Pinheiros e a aumentar a quantidade de água da represa, o que seria revertido em energia, segundo a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia). Dos 17 pontos de análise, 2 foram detalhados no relatório: um antes da flotação e outro depois. Segundo o estudo, as amostras após a flotação ainda detectaram poluentes em níveis acima do limite e isso é jogado na Billings.

O Ministério Público diz que ainda não se sabe se o sistema é falho, pois são necessários cálculos para avaliar se, após a adoção do projeto -o fluxo de água será cinco vezes maior que no período de testes- a poluição após a flotação será prejudicial ao reservatório.

* Invasão e esgoto poluem represas, diz Sabesp

Prefeitura de SP estima que 2 milhões de pessoas vivam em áreas irregulares em mananciais, onde não há tratamento de dejetos

Em Guarulhos, 100% do esgoto produzido não passa por tratamento; promotor alerta ainda para despejo clandestino por indústrias

A invasão de áreas de mananciais e a falta de tratamento de esgoto nos municípios que ficam à beira das represas Guarapiranga e Billings são os principais fatores de poluição dessas águas, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia). Por Talita Bedinelli, colaboração para a Folha e Marcio Pinho, da Reportagem Local

A Prefeitura de São Paulo estima que cerca de 2 milhões de pessoas vivam em ocupações irregulares nas áreas de bacia das represas.

Nenhuma delas tem tratamento de esgoto e os dejetos produzidos são despejados diretamente nas águas, por ligações clandestinas.

De acordo com a última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), essa é a realidade de 20% dos moradores da região metropolitana de São Paulo. Parte desse esgoto que não é coletado vai direto para os córregos que recortam as cidades, para os rios e para as represas.

De acordo com a Sabesp, em Guarulhos, por exemplo, 100% do esgoto produzido não passa por tratamento. Em São Bernardo, 5% são jogados na Billings.

Um dos bairros de Diadema também despeja todos os dejetos que produz na represa -o município não informou qual a população desse local.

Algumas vezes, mesmo quando há coleta de esgoto, não há tratamento. Segundo a Sabesp, até julho deste ano, o esgoto de cerca de 1 milhão de habitantes era jogado pela empresa diretamente no rio Pinheiros e nas represas Billings e Guarapiranga, pois não havia como levar os dejetos para uma estação de tratamento.

O problema foi solucionado, diz a empresa, com a construção de uma estação em Barueri.

Indústrias

“O que essas cidades despejam de esgoto nos rios ainda é assustador”, diz o promotor de meio ambiente da capital, José Eduardo Ismael Lutti.

“Somam-se ainda a isso o que indústrias lançam clandestinamente nos rios, porque é mais barato do que tratar”, ressalta Lutti.

Segundo ele, os índices de chumbo localizados nas represas podem ser oriundos de uma ligação clandestina industrial.

Qualidade melhor

A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, que faz monitoramentos da qualidade da água da represa e lança relatórios anuais, diz que há dez anos o chumbo é percebido na Billings.

Mas, de acordo com o órgão, a qualidade da água melhorou desde 1992, quando a água do rio Pinheiros era jogada, sem tratamento, na represa.

A Sabesp afirma que a qualidade vem melhorando, já que o avanço da população clandestina no entorno das represas tem estacionado nos últimos anos.

A Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo não informou o número de novas ocupações nos últimos anos e afirmou que está regularizando a situação desses moradores e instalando redes coletoras de esgoto.

* Secretaria municipal diz que faz obras para controlar poluição

A Secretaria Municipal da Habitação de São Paulo afirmou ontem que o Programa Mananciais realiza obras de urbanização e construção de unidades habitacionais na área da Billings para “melhorar e controlar a poluição dos aqüíferos que abastecem a capital”.

De acordo com informações prestadas pela secretaria, a poluição resulta do recebimento do esgoto de casas da região.

“Prefeitura, governo do Estado e Sabesp, por meio do Programa Mananciais, constroem as redes de coleta de esgoto ao longo dos córregos. Essa rede é levada para um tronco coletor, que, por sua vez, leva seu conteúdo para a estação elevatória de esgotos, em Barueri, onde as águas passam por tratamento. […] A poluição é retirada, e a água tratada é lançada no rio Tietê”, informou a pasta.

Barueri

Segundo a Sabesp, o esgoto de um milhão de pessoas passou a ser coletado em julho e tratado em Barueri (30 km de São Paulo).

A prefeitura disse ainda que 24.750 famílias foram beneficiadas pela primeira fase do programa (até dezembro do ano passado).

Na segunda fase, já iniciada, a previsão é a construção de 7.726 unidades habitacionais, em áreas situadas entre as bacias Billings e Guarapiranga.

A poluição das represas de São Paulo também é alimentada por municípios da região metropolitana.

O bairro Jardim Eldorado, em Diadema, colabora diretamente com despejos na Billings. A prefeitura não respondeu às solicitações da Folha ontem para explicar possíveis trabalhos na área.

Outro município, Guarulhos, não trata hoje seu esgoto. O destino quase sempre é o rio Tietê, por meio de córregos.

A prefeitura informou que está em andamento a primeira etapa de obras do programa de tratamento de esgoto de Guarulhos. Até 2010 serão investidos R$ 249,3 milhões, parte com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A previsão da Sabesp é que a água do Tietê, que hoje não chega às represas, possa ser levada à Billings.

Matérias de Talita Bedinelli, José Eernesto Credendio e Marcio Pinho, na Folha de S.Paulo, 08/11/2008.

Nota do EcoDebate: sobre a poluição na represa Billings, em São Paulo, sugerimos que leiam, também: “A poluição já retirou 240 milhões de m3 de água da Represa Billings”
http://www.ecodebate.com.br/index.php/2008/09/29/a-poluicao-ja-retirou-240-milhoes-de-m3-de-agua-da-represa-billings/

[EcoDebate, 10/11/2008]

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