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Notícia

Síndrome do Colapso das Colônias das abelhas é pesquisada pela APTA

 

Agência é referência brasileira nas pesquisas com patógenos das abelhas –possível causa de colapsos, enfraquecimentos e queda de produtividade das colmeias

 

abelha morta

 

No mundo todo, pesquisas têm sido conduzidas com o objetivo de explicar as causas do fenômeno designado Colony Collapse Disorder – CCD (Síndrome do Colapso das Colônias), que afeta as abelhas. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), realiza estudos na área de sanidade apícola, a fim de entender o problema desde 2006, quando a pesquisadora, Érica Weinstein Teixeira realizou pós-doutorado na United States Department of Agriculture (USDA). A APTA conta com o único laboratório especializado em sanidade apícola do País e realiza análises moleculares, dentre outras, para fins de pesquisa. Uma das linhas de pesquisa visa a identificação de patógenos e parasitas considerados também como possíveis responsáveis pela síndrome CCD.

De acordo com Érica, a CCD tem causas multifatoriais. A síndrome tem características próprias e pode ser reconhecida apenas após sua ocorrência, por meio de um conjunto de sintomas, como a rápida perda de abelhas operárias adultas, evidenciada pelo enfraquecimento ou morte da colônia com excesso de crias, quando comparado à população adulta. Outro sintoma é a ausência de crias mortas dentro ou fora da colmeia e inexistência de invasão imediata da colmeia por pragas como as traças da cera. “O fato de a rainha permanecer na colônia, com poucas abelhas jovens, além de crias e alimento estocado, caracteriza uma situação totalmente antinatural para o que se conhece da biologia desses insetos sociais. As abelhas vivem em família, com divisão de tarefas e diferentes castas”, afirma a pesquisadora da APTA.

Além da atividade apícola gerar produtos como mel, pólen, própolis, geleia real e cera, as abelhas são consideradas os principais agentes polinizadores em ambientes naturais e agrícolas. Esse serviço ecossistêmico é considerado essencial para a manutenção das populações selvagens de plantas e imprescindível para a produção de alguns alimentos nos ambientes agrícolas, como maçã, melão e laranja. A síndrome CCD atinge diversos países, principalmente os Estados Unidos. Na Europa, os relatos são esporádicos, assim como em outros continentes. Existem alguns casos suspeitos de CCD no Sudeste brasileiro.

“É preciso ter em mente as características específicas da síndrome, para que não seja confundida com outros tipos de colapsos, como enxameações, abandonos devido a intempéries, falta de recursos no campo, além de colapsos causados por doenças ou intoxicações ou mesmo por manejo ineficiente”, explica Érica.

Em trabalho recente, a pesquisadora da APTA, concluiu que o fungo Nosema ceranae está no Brasil há pelo menos 30 anos. Pesquisadores do exterior acreditavam que esse fungo era novo e um dos grandes responsáveis pela síndrome CCD. “Mostramos que ele não é recente e que não é a principal causa da síndrome.Atualmente, lidamos com a CCD considerando seu caráter multifatorial, no qual vários fatores podem estar atuando ao mesmo tempo, deixando as abelhas mais vulneráveis e debilitando seus mecanismos de defesas”, afirma. Dentre esses diversos fatores, estão agrotóxicos, patógenos, parasitas, má nutrição das abelhas, genética e mudanças climáticas.

Érica explica que a adoção de técnicas moleculares, associadas às tradicionais, em virtude da rapidez, praticidade e sensibilidade, apesar do custo que envolve, pode proporcionar ação mais eficaz e rápida dos agentes da defesa agropecuária animal, com a possibilidade de diagnóstico precoce, antes mesmo do aparecimento de sinais clínicos. “O uso dessas técnicas pode representar eficiente estratégia para impedir ou dificultar a entrada de novos agentes no território nacional e sua dispersão”, diz.

Assim como em outros setores de produção, a entrada de novos patógenos representa ameaça ao plantel nacional, com consequências graves para todo o setor. “Os problemas sanitários que vêm sendo observados, estão afetando a produção apícola e, em determinadas regiões, a polinização das culturas, fatos que colocam em risco a competitividade do Brasil no mercado externo”, afirma a pesquisadora da APTA.

Para Érica, esse cenário de perdas tem ocasionado fortes prejuízos aos apicultores, havendo relatos individuais de vultosas perdas anuais na produção de mel em função desta anormalidade, considerando também outros produtos que, assim como o mel, são exportados ou comercializados em território nacional. Outro prejuízo importante está na atividade de polinização e, portanto, produção de alimentos, o que confere ainda maior amplitude ao problema. “Não são apenas as abelhas melíferas as afetadas, mas os polinizadores de maneira geral, incluindo as abelhas silvestres, também expostas a esta gama de fatores estressantes. Evitar tais perdas é a garantia de permitir que esses insetos exerçam sua importante função ecológica e econômica”, afirma. As abelhas são responsáveis por pelo menos um terço da produção mundial de alimentos e 30% da produção brasileira, que somam US$ 45 bilhões ano no País.

“Por orientação do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, buscamos sempre produzir conservando o ambiente. Os produtos apícolas são importantes fonte de renda aos nossos produtores e a polinização realizada pelas abelhas, é imprescindível para o ambiente e agricultura”, afirma o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim.

Laboratório de Sanidade Apícola

Na última década, a APTA tem sido referência brasileira nas pesquisas com patógenos das abelhas – uma possível causa da síndrome CCD. As pesquisas da Agência, conduzidas no Polo Regional do Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba, interior paulista, são voltadas para o diagnóstico de vírus, fungos, bactérias e parasitas que acometem as abelhas Apis mellifera africanizadas, biótipo predominante no País.

No Laboratório de Sanidade Apícola da APTA, são realizadas análises tradicionais e moleculares para fins de pesquisa. Com elas é possível extrair o DNA e o RNA total das abelhas e, a partir daí, identificar o DNA e o RNA dos patógenos ou parasitas presentes e as possíveis variações de genótipos, que levam a diferenças em termos de virulência e formas das doenças se instalarem. “Com o avanço dos conhecimentos moleculares e finalização do genoma das abelhas A. mellifera, é possível entender melhor de que forma o organismo das abelhas se defende das ameaças. Outro ponto importante é a diferenciação das espécies. Com as análises básicas, como as microscópicas, acreditava-se tratar apenas de uma espécie do fungo Nosema, por exemplo, já que era possível apenas observar a presença ou ausência de estruturas morfológicas como esporos”, explica Érica. A pesquisadora da APTA é responsável pelos primeiros resultados genética-moleculares de patógenos de abelhas do Brasil.

Influência dos patógenos nas abelhas

A pesquisadora da APTA explica que as abelhas doentes, assim como qualquer outro animal, produzem menos. As abelhas melíferas africanizadas são mais resistentes e tolerantes a patógenos e parasitas do que as europeias. Um clássico exemplo é o ácaro Varroa destructor, atualmente o principal problema sanitário da apicultura mundial, mas que, embora presente em mais de 95% dos apiários brasileiros, não causam prejuízos devido à perda de produção ou mesmo colapsos em abelhas africanizadas, quando comparado ao que ocorre com as europeias, segundo estudos já realizados no país.

As abelhas africanizadas, presentes na totalidade do território brasileiro, apresentam variabilidade genética importante em termos de recursos a serem explorados em programas de melhoramento, visando obtenção de linhagens mais resistentes. “É nisso que programas nacionais devem investir, mantendo assim os produtos por elas produzidos livres de resíduos de medicamentos, o que não é mais possível na grande maioria dos países onde a atividade apícola é bem desenvolvida”, explica Érica. A pesquisadora da APTA afirma ainda a necessidade de se garantir a manutenção da resistência e tolerância naturais desse biótipo.

Pesquisas nesse sentido têm sido ampliadas para verificar se abandonos anormais, enfraquecimentos e colapsos têm a ver com a interação dos agrotóxicos e patógenos, alterando o equilíbrio pré-existente e levando à maior vulnerabilidade das abelhas.

Érica alerta que no Brasil não é permitido o uso de nenhum tipo de medicamento para tratamento das abelhas. Os acaricidas e antibióticos, por exemplo, não são liberados, pois o uso pode causar a resistência das populações de ácaros já existentes, ou mesmo de bactérias, dentre outros patógenos. Os produtos químicos também podem deixar resíduos nos produtos apícolas, colocando em risco característica tão enaltecida pelo mercado, devido à isenção garantida de resíduos. “Nossos produtos, inclusive, são utilizados para diluir produtos obtidos em outros países que utilizam tais medicamentos de forma generalizada e que, consequentemente, apresentam contaminações acima das permitidas”, comenta.

Transferência

Além das pesquisas, Érica treinou centenas de fiscais agropecuários do serviço oficial de defesa agropecuária de diferentes Estados para prepará-los, tecnicamente, na área de Sanidade Apícola, para identificação de eventuais anormalidades, colheita e transporte de amostrar para o diagnóstico em laboratório.

Os participantes receberam informações necessárias para se tornarem multiplicadores dos conhecimentos nos Estados em que atuam. Os treinamentos tiveram o objetivo de capacitar profissionais dos Sistemas Estaduais de Saúde Animal. Os treinamentos foram realizados em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Ceará e Goiás.

O projeto, finalizado em 2013 e coordenado pela APTA, teve apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto teve colaboração da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade de Viçosa (UFV), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e United States Department of Agriculture (USDA).

Por Fernanda Domiciano e Carla Gomes

 

in EcoDebate, 22/10/2015


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