O Bacuri e a Vida nos Cerrados, artigo de Amanda Freire
[The Bacuri and Life in the Cerrado, article by Amanda Freire]
O Bacuri é uma das grandes arvores que compõe o imenso patrimônio que nos pertence, em quanto humanidade e em quanto brasileiros. Sua beleza e magnificência se inserem com graça nas paisagens amazônicas e do cerrado. Sua distribuição geográfica é ampla, mas vendo sem ameaçada pela continua mudança no uso das terras. Isso porque o Bacuri, de um lado, não é mais que um magnificente obstáculo aos olhos de vidro de quem vê na terra um simples pano de fundo para produzi e comercializar monoculturas visando ao puro lucro.
De outro lado, o nosso lado, o Bacuri, dentro do seu contexto natural, representa um pilar dos sistemas extrativistas das populações tradicionais de áreas amazônicas e especialmente na área do Cerrado que nos interessa. O bacuri que nos vemos é um bacuri-pilar de um sistema harmônico natureza-homem, em forma de um círculo contínuo e ininterrupto, que junto á Babaçu e á Jussara, oferece renda e nutrimento ás populações rurais. Um pilar que produz durante 3 meses ao ano frutos que se dividem em grandes e pequenos, frutos que homens e mulheres recolhem do solo, junto ao solo. Frutos que são revendidos a intermediários, atravessadores, com destino Belém ou Teresina. Frutos que são revendidos inteiros ou em massa, dependendo de como a comunidade estruturou seu trabalho entre homens e mulheres e de como se deu sua inserção junto aos intermediários. A demanda é alta, o utilizo variado.
O bacuri que nos vemos é, portanto um pilar de um sistema no qual as comunidades interagem com o meio ambiente de forma simbiótica. A dependência é mutua, uma espécie se baseia na outra para sua continuidade e reprodução. As comunidades ao longo do tempo, graças á essa relação aprofundada e estrita com as riquezas que extrai das florestas, desenvolveram conhecimento e estratégias para melhor aproveitá-las. Por isso colhem só os bacuris do chão, e não do galho como novatos vindo de fora querem fazer. Não estão ainda maduros, o tempo deles não chegou. É preciso saber esperar: a natureza, assim como o homem, tem seus tempos. Não respeitá-los pode levar a esterilidade da terra e da vida, destino triste, que é preciso tentar impedir, de todas as formas que foram possíveis.
Amanda Freire, cientista política e assessora do Fórum Carajás
[EcoDebate, 07/11/2008]
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