Correção pelo avesso, artigo de Daniel Clemente
[EcoDebate] Em 2002, a administração governamental dos EUA então presidida por George W Bush, enfrentava ondas de incêndios florestais no estado de Oregon, localizado as margens do oceano pacífico. Com a sabedoria herdada de “Bush Pai”, logo “Bush Filho” tomou a iniciativa e formulou uma incrível medida para conter os incêndios que devastavam as já reduzidas reservas de mata virgem do país, propôs o corte das árvores antes que pegassem fogo. Segundo suas próprias palavras, “se permitimos uma concentração excessiva de árvores e cair um raio teremos um incêndio enorme“. O plano de Bush Filho também ressaltava a retirada de matas fechadas e de arbustos, que “colaboram para o avanço das chamas”. Portanto, a culpa dos incêndios nas florestas passou a ser a existência das florestas.
Uma garota de 15 anos engravidou após ser vítima de estupro cometido por seu padrasto no ano de 2010. Com a intenção de esconder o crime, o estuprador tratou de matar e enterrar o corpo do bebê. As autoridades das Maldivas, um arquipélago formado por mais de mil ilhas no Oceano Índico, logo tomou conhecimento da brutalidade e prendeu o homem bruto para responder por seus atos em julgamento. Mas a vitima, a menina pré-adolescente, recebeu sua punição quase de imediato, foi condenada a receber 100 chibatadas por manter relações sexuais fora do casamento. Para a justiça islâmica das Maldivas, o corpo feminino nasce com uma cavidade pecadora, e somente o órgão genital masculino pode corrigir as impurezas provenientes e inerentes à mulher.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), fundação pública federal vinculada a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República Federativa do Brasil, divulgou uma pesquisa no mês de março de 2014 que vergonhosamente 26% dos brasileiros consideram o estupro uma medida corretiva para as mulheres que usam roupas reveladoras de seu corpo, vestindo-se de modo provocante aos desejos masculinos. O moralismo primitivo pune o corpo, condena o prazer, extermina a beleza feminina, diferencia os gêneros para exercer os direitos, e o ato criminoso do estupro passa a ser compreendido e não reprimido.
A difusão de valores sociais é veiculada pelas redes de comunicação. A escolarização brasileira, primeira instituição de divulgação em massa no Brasil, encontra-se em estado terminal, com os piores índices possíveis nas avaliações internacionais. Porém, a educação em massa no Brasil continua a exercer um papel fundamental para a manutenção da seriedade e o fim da alegria, assim disse Rubem Alves em sua obra Pimentas: “Escola é máquina de destruir crianças. Nas escolas, as crianças são transformadas em adultos. É isso que todos os pais querem, que seus filhos sejam adultos produtivos. O destino de uma criança é conseguir entrar no mercado de trabalho”. Seguindo essa lógica, quem mais aprende na teoria menos sabe na prática.
No Brasil e em outras partes do mundo, o errado vira regra e o certo é condenado, a esquerda está na direita e a direita vampira, as elites esbaldam consumo e os subalternos ostentam suas migalhas. Não existem regras, somente interesses, é um mundo líquido, onde a regra é se modelar conforme o recipiente.
Daniel Clemente
Professor de História e Sociologia
Colégio Adventista de Santos
Pós Graduação PUC-SP
in EcoDebate, 22/09/2015
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A História da “evolução” humana é decepsionante: sempre prevalesceram os interesses individuais e de grupos sobre os interesses de toda a espécie. Prova disso são as guerras, as invasões – chamadas de descobrimentos – e a partilha do planeta Terra em mais de duzentos Estados nacionais.