Crescimento da eólica depende das linhas de transmissão, diz especialista
A expansão das linhas de transmissão pode interromper o crescimento do setor de energia eólica no Brasil se não for solucionada, em pouco tempo, o problema dos pontos de conexão, disse o engenheiro de aeronáutica e autor do Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, Odilon Camargo. “Os pontos de conexão vão ser o gargalo para a expansão da eólica. Se não tiverem as linhas adequadamente conectando o Nordeste com o Sudeste, vai atrasar o desenvolvimento da eólica”, disse em entrevista à Agência Brasil.
Segundo o engenheiro, a energia eólica produzida no Nordeste é a mais barata do país. Ele citou, como exemplo, o Texas, nos Estados Unidos, onde foi identificada uma área com potencial de expansão da energia renovável competitiva e, de acordo com Camargo, foi montada uma linha de transmissão para conectar os parques eólicos. “Então linha de transmissão será o grande incentivador. Mas, pode ser o gargalo se não existir. Mas, havendo as linhas, vai baratear a energia para nós consumidores”, explicou.
O especialista informou que o atraso das linhas tem acontecido em outros países como a Índia e a China, mas, no Brasil, fica mais evidente diante da rapidez de montagem de um projeto de energia eólica, porque o ritmo de desenvolvimento de um projeto de transmissão é bem mais lento.
Odilon Camargo disse ainda que o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro mostrou uma situação privilegiada de qualidade e quantidade de ventos no interior do país e, a partir dos leilões de energia, os projetos começaram a ser desenvolvidos nessa região, ao contrário dos iniciais que se localizavam no litoral. “Os principais desenvolvimentos têm se dado no interior, onde tem terra mais barata, muito mais terra disponível, menos problemas ambientais, não tem maresia e mais perto da conexão [com linhas de transmissão]. Todas essas vantagens”.
Um estudo feito pelo engenheiro indica que no espaço de 30 anos a energia afluente nos reservatórios tem variado muito por causa da quantidade de chuva, e essa situação não se repete com os ventos. “Nós estamos passado por três anos muito ruins de chuva e de energia afluente nos reservatórios. A energia eólica não muda ou vai variar no máximo 10%, dependendo do local. Ao passo que na hidráulica varia 80%”, disse.
Camargo elaborou ainda atlas eólicos para os estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, da Bahia, de Alagoas, do Rio Grande do Norte e Ceará, para levantar o potencial dos ventos. Segundo ele, o desenvolvimento dos projetos de eólica no Nordeste, além de reduzir o preço da energia, melhorou a qualidade de vida da população que passou a contar com mais emprego e renda. “Regiões que não tinham nada, especialmente no meio da Caatinga, a produtividade da terra muito baixa, os parques eólicos trouxeram um salto [econômico]”.
O governador da Bahia, Rui Costa, disse que este cenário vem ocorrendo no estado, que tem atualmente 40% da geração nacional e é líder no Brasil. Por isso, junto com a energia solar, a eólica é um projeto prioritário para o estado. Segundo ele, com outros governadores da região, está buscando financiamento no Banco do Nordeste (BNB). Costa informou que o pedido já foi encaminhado à presidenta Dilma Rousseff.
O engenheiro Odilon Camargo e o governador Rui Costa participaram do Brazil Windpower 2015, encontro que reuniu investidores e especialistas do setor de energia eólica, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio.
Por Cristina Indio do Brasil, da Agência Brasil, in EcoDebate, 08/09/2015
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