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Animais que caçam, artigo de Efraim Rodrigues

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[EcoDebate] Conheço bem este sentimento de “– Eu sou demais !” Até falei dele na semana passada. Não há como escapar de senti-lo quando fazemos a coisa certa, acertamos na mosca. Há pessoas, geralmente homens, que são capazes de sair de casa, são capazes até de sair de seu continente para atirar em animais e sentirem-se assim.

A grande sensação da internet nesta semana foi o caso do cara que pagou 50 mil dólares para matar um leão. Enquanto a justiça decide se é legal ou não, ele está sendo achincalhado. Nem se sabe em que canto anda, mas certamente menos acuado que o animal que matou.

Os caçadores gostam de falar em “fair chase”, que seria aquela caça feita com armas não muito avançadas. Ou seja, seria feio usar rifles de precisão, por exemplo, e seria bonito usar armas básicas como arco e flecha. Cecil foi alvejado com uma flecha e ainda conseguiu manter-se por 40 horas, até levar um tiro.

O fair chase só faria sentido para mim, se fosse para estar em pé de igualdade com o animal, ou seja; tanto você pode pega-lo quanto ser pego. Caçador de fato é aquele que arrisca seu belo traseirinho para trazer proteína animal para sua família. Esse aí é só um dentista armado.

Faz décadas que ouço o argumento que a caça traz recursos, cria empregos e injeta recursos nas unidades de conservação. Sempre argumentei que era um dinheiro que por mais que pudesse viabilizar boas iniciativas, causava o desserviço de estimular a morte. Como que uma unidade de conservação-que serve para resguardar a vida- pode viver às custas da morte?

Apesar de compartilhar o ódio de toda internet com o assassino, trata-se de ambientalismo fácil. Afinal, a África é bem longe e ninguém convive com leões. É fácil postar uns impropérios e seguir com a vidinha do mesmo jeito.

Quantos estão dispostos a reduzir suas emissões de carbono? Quantos pensam na origem das matérias primas que consomem?

Esta falação toda não mudará a situação em curto prazo, mas pode provocar a catarse necessária para transformar a caça esportiva de imoral mas legal, em imoral e ilegal.

Principalmente espero que ninguém faça nada de mal, fisicamente, a este dentista. Maltratar animais é para caçadores esportivos.

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, JICA e Vale, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores e Ecologia da Restauração, finalista do 56º Prêmio Jabuti 2014. Nos fins de semana ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico.

in EcoDebate, 03/08/2015

[cite]


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One thought on “Animais que caçam, artigo de Efraim Rodrigues

  • Maria Inês Grin

    Ótimo Efraim!

Fechado para comentários.