Plantio direto ajuda no seqüestro de CO2
[Tillage help in CO2 reducing]
Segundo cálculos realizados por universidade no Reino Unido, é possível reduzir danos do efeito estufa em até seis bilhões de toneladas de CO2-equivalente, valendo-se da agricultura mundial
Desenvolver novas espécies de culturas para que resistam às mudanças climáticas é a alternativa apontada por especialistas como a melhor maneira de “mitigar” os impactos provocados pelo aquecimento global. Iniciativas como essa podem contribuir para que a agricultura, até agora uma emissora em potencial de gases de efeito estufa, passe a ser um grande “sumidouro de carbono”. Por Rosangela Capozoli, do Valor Econômico, 28/10/2008.
A tese faz parte do estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”, realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a Universidade de Campinas (Unicamp).
“Um dos objetivos desse trabalho é desenvolver novas variedades para que, quando os efeitos das mudanças climáticas se acentuarem, o Brasil já terá a questão resolvida, ou pelo menos encaminhada”, diz Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Segundo cálculos realizados pela equipe de pesquisadores coordenada por Pete Smith, da Universidade de Aberdeen (Reino Unido), é possível reduzir os danos do efeito estufa em até seis bilhões de toneladas de CO2-equivalente, valendo-se da agricultura mundial. De acordo com Smith, que é um dos autores do capítulo de agricultura do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), seria possível negociar cerca de 70% desse volume no mercado de carbono a US$ 100 a tonelada.
“Com um ambiente mais rico em dióxido de carbono (efeito fertilizante do CO2) as plantas tendem a ser mais resistentes e esse benefício ainda não foi explorado”, acrescenta Pedro da Silva Leite, diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e membro do IPCC.
Segundo ele, não são apenas os brasileiros que estão interessados nesses benefícios, mas também os EUA e a Europa estão atentos a eles. O relatório demonstra ainda que medidas de seqüestro de carbono no solo, associadas a menores emissões de metano e de óxido nitroso seriam capazes de “mitigar quase 100% das emissões diretas do setor agropecuário”.
Eduardo Assad, chefe geral da Embrapa Informática e Agropecuária e coordenador desse estudo, diz que várias pesquisas conduzidas em unidades da Embrapa, nas empresas estaduais de pesquisa e em universidades brasileiras vêm buscando soluções nesse sentido. “A Embrapa criou até mesmo uma plataforma de pesquisa e desenvolvimento para coordenar as ações de todas as unidades nessa área”, informa Assad.
Segundo ele, há uma variedade de práticas agrícolas já conhecidas capazes de reduzir as emissões de carbono do setor e elevar o seqüestro do gás da atmosfera. Integração entre pecuária e lavoura, uso de sistemas agroflorestais e o incentivo ao plantio direto são alguns dos exemplos citados por Assad. A idéia, explica, é “melhorar o manejo das culturas e das áreas de pasto”.
A pesquisa aponta que “as culturas consorciadas, por exemplo, evitam que a terra fique nua em alguns períodos, o que diminui os riscos de erosão e aumenta a quantidade de carbono no solo”. Uma vez conhecidos os limites impostos pela alteração do ciclo hidrológico, de acordo com os pesquisadores da Embrapa e da Unicamp, “é possível também estabelecer novas estratégias regionais de manejo de água, já que no novo zoneamento de riscos serão quantificadas as novas necessidades hídricas das culturas diante das mudanças climáticas”.
Assad acrescenta ainda que algumas pesquisas da Embrapa Meio Ambiente, “ainda em andamento, investigam formas de diminuir as emissões de metano pelo gado”. “Já se identificou que pastagens plantadas em solo de melhor qualidade resultam em menos emissão de metano para cada quilo de carne produzida, mas está sendo testada também a introdução de leguminosas forrageiras em pastagens extensivas. Outros trabalhos visam a transformação do metano contido nos dejetos animais em biogás”.
Boas práticas de manejo do solo, segundo conclusões do estudo, também “contribuem para o seqüestro de carbono. A mais usada é a do plantio direto, que promove o cultivo sobre a palha deixada no solo pela cultura anterior, sem a necessidade de remoção do solo.
[EcoDebate, 30/10/2008]
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