Por uma pecuária sustentável, artigo de Vanderley Porfírio-da-Silva
Volta e meia surge uma discussão sobre se a pecuária brasileira pode ser mais sustentável. Essa discussão parte tanto de consumidores mais conscientes quanto dos indicativos da balança de exportações, e os países utilizam esse argumento para muitas vezes barrarem produtos brasileiros. Ambos utilizam informações sobre o impacto ambiental da pecuária para pressionar os produtores, uma vez que isso afeta diretamente a economia das cadeias produtivas vinculadas à pecuária, em especial carne, leite e seus derivados.
Além disso, sabe-se que o Brasil hoje tem muitas áreas com pastagens degradadas. Dados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento estimam que este número passe de 30 milhões hectares, em diferentes níveis de degradação, o equivalente a 30 milhões campos de futebol.
Contra isso, a pesquisa agropecuária tem trabalhado para possibilitar aos produtores rurais novas formas de produzir com geração de renda, redução de impacto ambiental e a possibilidade de manutenção do homem no campo, o famoso tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Hoje, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma dessas alternativas.
A ILPF pode ser entendida como uma nova forma de planejar a produção agropecuária. Não é algo novo, uma vez que muitos produtores já trabalhavam com este conceito, mas recentemente tais práticas passaram a ser melhor sistematizadas e um novo componente começa a ganhar destaque: a árvore. A inserção do componente arbóreo nas propriedades atende tanto a aspectos ambientais quanto produtivos. Na pecuária a pasto, a combinação intencional de árvores, pasto e gado, numa mesma área e ao mesmo tempo, tem se mostrado uma opção tecnológica para a produção animal; tecnicamente essa forma de combinar árvores com a pecuária é chamada de sistema silvipastoril.
Nas áreas de referência em que o sistema silvipastoril está implantado, são observados diversos benefícios, mas as premissas principais para a adoção do sistema são a conservação do solo e da água, itens fundamentais para uma pecuária sustentável.
O plantio de árvores em renques, mantendo um espaçamento adequado para o desenvolvimento das forrageiras entre os renques, auxilia na proteção do solo contra erosão, viabilizando a redução das perdas de matéria orgânica e nutrientes. As raízes das árvores também fragmentam as camadas compactadas do solo, favorecendo a infiltração da água no solo, o que minimiza as enxurradas para dentro dos riachos.
Outro aspecto importante é o bem-estar e conforto térmico animal. A presença de árvores adequadamente dispostas na pastagem pode proteger os animais contra as adversidades climáticas com reflexo positivo sobre a produtividade e saúde dos animais. E animais produtivos e saudáveis é o que se espera da pecuária ambientalmente adequada. Em algumas Unidades de Referência Tecnológica em propriedades rurais no estado do Paraná, por exemplo, dados indicam um aumento de produtividade no rebanho leiteiro. Pastagens adequadamente arborizadas possuem um microclima melhor, pois as árvores geram sombras que podem diminuir a radiação solar direta que atinge os animais em até 30%, dependendo da espécie florestal. Também por conta da sombra, podem diminuir a temperatura do ar. Nos trópicos, a temperatura sob a copa das árvores é cerca de 2 a 4°C menor que sob céu aberto, havendo relatos de reduções de até 9°C.
Com isso, o produtor tem a melhoria da imagem do negócio pecuário, o que é uma excelente oportunidade de marketing, atendendo a uma tendência mundial: a dos produtos ambientalmente adequados, socialmente benéficos e economicamente viáveis. E se as espécies arbóreas forem adequadamente escolhidas, o produtor terá a oportunidade de aumentar sua carteira de negócios com a produção de madeira para os mais diversos fins. Dependendo do desenho do sistema e da espécie florestal escolhida, poderá produzir madeira fina, utilizada para energia, moirões, sarrafos, construção civil; ou madeira nobre, com maior volume de madeira e destinada a serrarias e produção de móveis.
É um raciocínio simples: se temos um grande passivo de pastagens degradadas e 60 % do nosso consumo de madeira serrada ainda vem de florestas nativas, podemos entender que aí está uma grande oportunidade de negócio e de imagem para o setor. Será um investimento se o produtor souber planejar e executar corretamente a implantação e o manejo necessários para um sistema próspero e lucrativo.
Vanderley Porfírio-da-Silva é Pesquisador da Embrapa Florestas
Fonte: Embrapa Florestas
Publicado no Portal EcoDebate, 30/04/2015
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