Quando a crise chegar, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] A verdadeira crise ainda não chegou. Os Estados ainda têm poder de interferir e salvar as empresas que lhes interessam. Outras falem e ponto final. O resultado sobre os pobres jamais foi problema para o capitalismo. No mundo contemporâneo apenas 1,7 bilhão de pessoas pertencem à sociedade de consumo. O restante, 4,3 bilhões, subvive com as sobras contabilizadas em centavos de dólares.
A crise verdadeira virá quando houver o encontro fatal da crise ambiental com a social. O problema fundamental da história humana não está apenas dentro da sociedade, mas na sua relação com o planeta na qual ela está inserida. Ambientalistas sérios nos têm alertado sobre o impasse intransponível do modelo civilizatório. É bom que se frise o “civilizatório”, porque não é um problema apenas do capitalismo, muito menos do neo-liberalismo, como querem certas esquerdas. O esgotamento dos bens naturais, o consumo para além da capacidade de reposição da natureza, a liberação de gases que modificam o clima, o conseqüente aquecimento global, vão modificar totalmente a sociedade humana e o planeta tal qual nós os conhecemos hoje.
O desmonte da história humana e a completa modificação das condições de vida no planeta não são sequer imagináveis.
Portanto, continuemos a nos divertir com a crise dos mercados – impossível deixar de rir -, mas saibamos que a verdadeira e fundamental crise ainda está para chegar. Então, nada será divertido.
Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, colaborador e articulista do EcoDebate
[EcoDebate, 25/10/2008]
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