Certificação e gestão ambiental voluntária de florestas, artigo de Roberto Naime
© WWF-Brasil/Bruno Taitson
[EcoDebate] Sempre que a gente lê a palavra “voluntária” lembra imediatamente das normas das sério ISO (International Organization for Standardization ou Organização Internacional de Padronização) que no Brasil é representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Isto porque todos os procedimentos e o ingresso no processo de certificação, seja de qualidade (série 9000), seja de meio ambiente (série 14000) ou de qualquer outra finalidade, sempre são ingressos livres e voluntários. A organização tem que perceber vantagens operacionais e/ou institucionais para a certificação que pretende obter. E por isso toda adesão é voluntária ou seja não é obrigatória.
As normas em geral são baseadas no chamado ciclo PDCA, bastante conhecido nas empresas. É uma sigla, que significa em inglês “plan-do-check-act”, ou seja planejar, fazer, checar e agir, numa linguagem e terminologia muito conhecidas como ferramentas de gestão.
Na área de gestão florestal no Brasil, existe um caso muito interessante, mas que não tem merecido o destaque e a repercussão que merece, muito provavelmente tragado pela dura realidade devida a incúria e incapacidade governamentais em todas as esferas de responder adequadamente ao desafio da preservação ambiental, principalmente na área florestal.
O sucesso do selo verde como mecanismo voluntário para valorizar o conteúdo ambiental dos produtos produzidos e comercializados na área dependente de madeiras, é evidente na experiência brasileira com a certificação florestal tanto em nível empresarial, quanto comunitário.
A certificação florestal da origem da madeira usada para a construção de móveis e artefatos é feita pelo “Forest Stewardship Council” (FSC), cuja tradução não literal equivale em português ao Conselho de Manejo Florestal. O FSC tem sede em Bonn na Alemanha.
O Conselho de Manejo Florestal é uma organização internacional e respeitada, que certifica produtos com a finalidade de promover o manejo responsável das florestas do mundo.
O movimento com o propósito da certificação florestal é um fenômeno impulsionado pelo consumidor visando maior competitividade no contexto da sustentabilidade global.
A disseminação deste conceito, principalmente entre consumidores europeus pode ser considerado um fenômeno da nova economia e do novo consumidor. Na aquisição de produtos que necessitem madeira na sua matéria prima, o consumidor exige a certificação ambiental, que garante que as madeiras provêm de reflorestamentos ou manejos florestais e não de desmatamentos irregulares, que contribuam para o efeito estufa ou aquecimento global.
A disposição do consumidor em pagar por produtos florestais de origem sustentável representa um incentivo nessa direção, uma vez que essas normas atingiram o status de uma convenção de mercado.
O enorme volume de madeira que entra no mercado brasileiro, oriundo da extração ilegal na Amazônia, atua como uma barreira para a expansão do manejo florestal certificado, incentivando a atividade predatório que tem inúmeras vantagens competitivas econômicas com a madeira certificada. Na medida em que as políticas públicas de controle e fiscalização do desmatamento pudessem alcançar melhores resultados, a certificação voluntária ganharia evidente impulso.
Enquanto houver a regulamentação e crescente exaustão das reservas florestas de acesso livre ou predatório, a área certificada deverá crescer. A certificação voluntária é uma maneira mais barata do que o controle regulatório governamental para internalizar os custos ambientais do benefício global.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Publicado no Portal EcoDebate, 02/12/2014
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