Petrobras no fundo do poço profundo do pré-sal, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Uma das mitificações mais enganosas que surgiram na era do jeito petista de governar foi dizer que: “o pré-sal é o passaporte para o futuro do Brasil”. Foi com o marketing das promessas de riqueza das profundezas oceânicas que a candidatura Marina Silva foi desconstruída nas eleições de 2014, especialmente no Rio de Janeiro, pois os prefeitos, vereadores e afins ficaram com medo de perder as benesses dos royalties de uma “dádiva da natureza” que, por enquanto, ainda é uma miragem.
Com todo o respeito às opiniões divergentes, o pré-sal pode ser tudo, menos futuro. O uso do petróleo para alavancar a economia é coisa dos séculos XIX e XX, uma vez que o futuro pertence às energias renováveis. Já nas próximas décadas, o mundo precisa superar a dependência dos combustíveis fósseis por dois motivos: 1) estamos perto do Pico do Petróleo e os custos de extração dos hidrocarbonetos estão ficando muito caros; 2) o mundo precisa parar de emitir CO2, pois o efeito estufa está acelerando o aquecimento global provocando mudanças climáticas indesejadas que podem trazer danos irreversíveis ao Planeta.
A descoberta de indícios de petróleo no pré-sal foi anunciada pela Petrobras em 2006. Foi dito que o Brasil se tornaria exportador líquido de energia fóssil. Porém, oito anos depois das promessas mirabolantes, o Brasil continua importador de petróleo e derivados. Mesmo com a queda do preço do barril de petróleo no mercado mundial (de US$ 110 para menos de US$ 80), a Petrobras anuncia o aumento do preço da gasolina no país. Isto porque os investimentos no pré-sal não são rentáveis a este nível de preço no mercado internacional. Ou seja, os consumidores brasileiros vão pagar no presente, as promessas do paraíso futuro, paraíso este que pode ficar só no sonho (ou virar pesadelo). E o pior, este aumento de novembro é só o primeiro, pois outros aumentos virão, já que o rombo financeiro da empresa que já foi “orgulho nacional” é muito alto e não tem perspectivas de alívio.
A Petrobras está atolada em denúncias de corrupção e em dificuldades financeiras. A empresa se endividou (boa parte em moeda estrangeira) para bancar seu plano de investimento de mais de US$ 200 bilhões (além de algumas compras injustificáveis e investimentos caríssimos). Dizem que o “petróleo é nosso”, mas toda a produção do pré-sal vai ter que sair diretamente para pagar as dívidas com os credores internacionais, especialmente a China (país que está reprimarizando a economia brasileira, pois exporta produtos industrializados para nós e importa petróleo bruto e outras commodities tupiniquins). O Brasil está mergulhando em uma nova dependência internacional.
A Petrobras, com 0,9% das reservas mundiais de petróleo, tem valor de mercado de US$ 74,4 bilhões. A Exxon tem 0,8% e vale US$ 406 bi; a BP Corporation, com 0,9%, é cotada a US$ 129 bi; a PetroChina também tem 0,9% e vale US$ 232 bilhões. A PriceWaterhouseCoopers (PwC), auditora dos resultados financeiros da Petrobras, recusou-se a aprovar o balanço do terceiro trimestre de 2014 e exigiu mais investigações internas sobre o suposto esquema de desvio de dinheiro na estatal, segundo reportagem de O Estado de S.Paulo.
Na quinta feira – por coincidência, um dia 13 – a Petrobras informou que não apresentaria as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014 com o relatório de revisão dos seus auditores externos, no prazo previsto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em comunicado enviado à CVM, a empresa afirma que “a companhia não está pronta para divulgar as demonstrações contábeis referentes ao terceiro trimestre de 2014 nesta data”.
Na sexta-feira (14/11), a Polícia Federal (PF) deflagrou a sétima fase da Operação Lava Jato, cumprindo mandados de prisão e busca e apreensão em diversos Estados. Foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva, 14 de prisões temporárias e seis de condução coercitivas. Uma das pessoas detidas pelos 300 agentes federais envolvidos na operação é o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque.
É claro que todas estas denúncias de corrupção desmoralizam e desvalorizam a Petrobras. Porém, desde as descobertas do pré-sal, não só os maus resultados operacionais, mas também as expectativas negativas sobre o futuro fizeram as ações da Petrobras caírem de um valor acima de R$ 60,00, em 2008, para R$ 13,50 na primeira semana de novembro de 2014. No dia 14/11 a queda se aprofundou, com os papeis sendo negociados abaixo de R$ 13,00. O tombo foi espetacular, só não se sabe se chegou ao fundo do poço. O certo é que os problemas são abissais.
Mas a questão não é apenas de gestão e de fraturas internas na direção da empresa. Os altos custos da exploração dos hidrocarbonetos são evidentes. As jazidas de petróleo da camada pré-sal estão distantes do litoral, abaixo de 2.000 metros d’água, 2.000 metros da camada de sal, 3.000 metros de pós e pré-sal e poços a mais de 7.000 metros de profundidade. O custo de extração é altíssimo. Os riscos financeiro e ambiental também. O fato é que o petróleo barato já foi extraído e queimado e os novos campos requerem muitos recursos e a Energia Retornada sobre a Energia Investida (EROEI) muitas vezes não compensa a exploração.
Quanto mais “pro-fundo” está o petróleo mais “pro-alto” vão os preços dos combustíveis. Assim, vamos torcer para que as promessas do “Brasil do Futuro” não fiquem atoladas no fundo do poço do fundo do mar. Enquanto isto, os consumidores brasileiros devem se preparar para novos e seguidos aumentos do preço da gasolina e do diesel, que, por sua vez, vão impactar também no preço dos fretes e no aumento do custo dos alimentos.
O preço do litro de gasolina no Rio de Janeiro está acima de R$ 3,00 em novembro de 2014. Com uma renda per capita muito mais elevada que a brasileira, a população do Canadá paga o equivalente a R$ 2,45 por litro e os cidadãos dos Estados Unidos pagam R$ 1,87 por litro de gasolina. Desta forma, dizer que a gasolina brasileira está barata e defasada é piada. O povo brasileiro já paga caro pelos combustíveis e o custo vai aumentar ainda mais, pois dificilmente a “riqueza” do pré-sal vai mudar esta pobre realidade.
Portanto, parece que as despesas para se obter o passaporte para a estrada que leva ao futuro vão ser cada vez mais caras e vão pesar no bolso dos 200 milhões de brasileiros.
Referências:
ALVES, JED. Ascensão e queda da civilização dos combustíveis fósseis. EcoDebate, RJ, 02/04/2014
ALVES, JED. Petróleo do pré-sal: “ouro em pó” ou “ouro de tolo”? EcoDebate, RJ, 11/04/2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, 19/11/2014
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Estamos falidos? O Brasil está falido?
É preocupante a situação da Petrobras.
Se o pré-sal for um fracasso o Brasil vai ficar em uma situação muito difícil.
Muitos aumentos da gasolina virão e não vai ser fácil pagar toda essa dívida da maior empresa da vergonha nacional.
Parabéns pelo artigo.
Saudações, Leo
Olá Joma e Leo,
Considero que a situação da Petrobras e do Brasil é muito dificil. O valor da Petrobras (na bolsa) é de US$ 76 bilhões, mas tem uma dívida em torno de US 200 bilhões.
O Brasil tem déficit em transações correntes de mais de US$ 80 bilhões por ano. Isto quer dizer que dependemos de capital externo e a nossa economia está ficando a cada dia menos nacionalizada e mais dependente dos fluxo de capitais internacionais.
Quando a taxa de juros subir nos EUA teremos sérias dificuldades para financiar a dívida do Brasil e das empresas públicas brasileiras.
O Brasil (junto com a Petrobras) pode ter que voltar a “passar o chapéu” no FMI dentre de pouco tempo.
Estou muito pessimista com a situação nacional e internacional. A economia não vai bem e a ecologia vai pior ainda.
É triste!
Abs, JE
Estava lendo sobre fontes renováveis e vi que o desenvolvimento de carros com celúlas de combustível movidos por hidrogênio (reentemente a Toyota desenvolveu um modelo que o utiliza), tem como desvantagem a elevada pureza que a corrente de alimentação do hidrogênio deve ter para não contaminar o catalisador, o elevado custo em comparação com as fontes de energia convencionais, além do desinteresse das indústrias de combustíveis fósseis e dos países industrializados. A ideia da diversificação das fontes de energia não está bem propagada na economia.
Além do agravamento dos problemas econômicos e ambientais, que teremos a curto prazo, e que não podemos avaliar aonde nos vão levar, ainda temos de conviver com o jogo de esconde-esconde praticado pelos Estados-nações, os quais só falam do futura com se falassem de uma linda história de amor, com um “e foram felizes para sempre”, para finalizar.
Parabéns ao autor, José Eustáquio Diniz Alves, pela excelente qualidade do artigo.