Um país, três olhares, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Os candidatos são Aécio, Dilma e Marina, mas seus modos de olhar o mundo foram “inventados” por Smith, Gramsci e Castells, entre outros predecessores.
Quem apoia Aécio confia nos mercados, deseja um “Estado mínimo” e é a favor de privatizações, ideias que remontam à consagrada obra de Adam Smith no século XVIII e sua crença na “mão invisível do mercado”, ou seja, que estes se regulam sozinhos e portanto não requerem a interferência do Estado na Economia. Esse olhar sobre o mundo você encontra com alguma sutileza na Rede Globo e nenhuma na Revista Veja, abertamente anti-petista. A figura de um heróico Presidente liberal chegou a ser protagonizado na Globo por um ator com fisionomia que lembra a do próprio Aécio, na minissérie “O Brado Retumbante”.
Quem apoia Dilma confia no papel decisivo do Estado na sociedade, cuja hegemonia é disputada entre as classes socioeconômicas, com a mediação do governo. Essa concepção de governo de esquerda representa um conjunto de forças heterogêneas entre si, mas com a estratégia de Antonio Gramsci de disputa por todos os espaços possíveis, em todas as áreas do Estado, da sociedade e da cultura. As alianças com setores conservadores são consideradas um ônus estratégico para manutenção no poder com a finalidade de desenvolver as políticas públicas de interesse da classe trabalhadora, num avanço gradativo de busca da hegemonia de classe. Você encontra essa forma de ver o mundo na internet, na Rede Brasil Atual, mantida pela CUT paulista e reproduzida por milhares de blogueiros, portanto uma verdadeira Rede Globo Gramsciniana. Pode ver na revista Carta Capital e no livro de André Singer sobre “Os sentidos do Lulismo”, que explica não só as alianças do governo como também a mudança da primeira para a “segunda alma” do PT.
Quem apoia Marina se identifica com uma nova visão de mundo que vê “o descolamento das bordas do centro” do poder político, ou seja, o sentimento de exclusão de amplos setores da sociedade dos processos políticos realizados em seu nome, na “democracia representativa”. Com o stalinismo criando uma nova casta, a burocracia estatal – na Rússia, China e outros países – o Estado substituiu o capitalista privado (Capitalismo de Estado), com um trabalhador do estado “socialista” chinês vivendo em condições piores que a dos americanos. Proudhon já contestara Marx (confira “Burocracia e Autogestão”, de F. C. Prestes Motta) e mais recentemente Noam Chomsky apontou que no século XXI temos todos os recursos técnicos e materiais para a construção de uma democracia liberta das instituições autoritárias, sejam estatais ou privadas. Marina chama de “ativismo autoral” o protagonismo pessoal e de muitos “núcleos vivos” da sociedade na luta pela mais ampla cidadania, o que Manuel Castells descreve em “Redes da indignação e da esperança”. O site do partido Rede Sustentabilidade mostra seus Estatutos inovadores como instrumentos para uma nova política.
Não há uma revista nacional impressa, há livros de professores da USP sobre os novos desafios do século XXI, tais como “Mundo em Transe”, do economista José Eli da Veiga, sobre a sustentabilidade, e a “História do Brasil” de Bóris Fausto com capítulos sobre clima, energia e as polêmicas entre Dilma e Marina. Em contraste com Smith, do século XVIII, e com Gramsci, do início do século XX, o projeto de desenvolvimento sustentável também crítica a chamada “velha política” do autoritarismo tanto da direita quanto da esquerda tradicional, tidas como incapazes de responder aos desafios do futuro
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 17/09/2014
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Acreditava que este portal era neutro com relação ás políticas partidárias, já que não é, sinto-me no direito de divergir da opinião do Dr. Monsserat Martins. Acredito que não temos três olhares e sim dois. Marina Silva e Aécio, privatistas e diretamente influenciados pelo mercado. Dilma Rousseff, também influenciado pelo mercado, porém preserva as políticas públicas. os direitos constitucionais, o estado laico, o direitos humanos ás crenças e sexualidade. Os dois citados não se preocupam como deviriam e
gostaríamos, nas questões ambientais, porém um deles nos conhecemos e sabemos como lidar. O pior é o olhar errático de que se diz sonhática. O Brasil já passou por políticos com maravilhosas retóricas e vazios de conteúdo. Não deu certo, fórmulas do colonizador de fora também já foram usadas e só nos serviu para dilapidar o que é direito dos brasileiros.
Prezada Debora Wanderley,
O Portal EcoDebate não possui qualquer vínculo ou relação político partidária. Mas, por princípio editorial, não restringimos a liberdade de expressão e, consequentemente, o direito de opinião.
O articulista, Montserrat Martins, assim como você, exerceu o seu direito de opinião, expondo o que pensa aos(às) leitores(as) e submetendo-se ao livre debate.
Em não havendo práticas abusivas, violação dos direitos de outros, ou como define a Justiça Federal, “qualquer cidadão tem o direito de emitir opinião e formular críticas, desde que não atinja o campo delimitado do direito de outrem”, não há porque criar restrições à liberdade de expressão. É assim que a mídia independente funciona.
Atenciosamente
Henrique Cortez
editor
Falta fazer a leitura de Luciana Genro que tem uma outra visão do mundo!
Acreditar no ponto de vista da Dilma é um direito da Debora, quanto a não querer ver diferenças entre Marina e Aécio é forçar a barra, no caso, usando a estratégia eleitoral da Dilma em distorcer Marina para tentar desmoralizá-la politicamente, estratégia com fins puramente eleitorais.
Admito que errei, o projeto de Marina Silva é pior que o de Aécio Neves, do ponto de vista do povo, igual a mim que sou assalariada, não de empresários, industriais, banqueiros e investidores. Este não é o ponto de vista de Dilma não, é o que os mercados mostram. Quando as pesquisas apontam crescimento de Marina Silva a bolsa dispara.
Debora, vc só está esquecendo que o governo Dilma é tão ruim e usa tanto a máquina pública, agora perseguindo funcionários do IBGE, que quando o ibope dela aumenta o que dispara é o coração dos funcionários, de medo da perseguição.