Apesar de novos esforços contra a poluição, chineses devem respirar ar de má qualidade até 2030
Frequentemente cobertas por uma nuvem de poluição, cidades da China vêm chamando a atenção nos últimos anos por seus preocupantes indicadores da má qualidade do ar. A guerra contra a poluição foi lançada esse ano pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e está entra as principais metas do governo para 2014.
Luiza Duarte, correspondente da RFI Brasil em Pequim
A segunda maior economia do mundo prometeu combater seu principal inimigo, fruto do crescimento industrial, assim como combateu a pobreza. Nas últimas semanas, foram anunciados novos esforços que incluem a redução do número de veículos, fechamento de usinas e até a proibição gradual do uso do carvão, para melhorar o ar do país.
Apenas nove das 161 grandes cidades chinesas atingiram os padrões de qualidade do ar do país, no primeiro semestre deste ano, de acordo com as últimas estatísticas do Ministério chinês do Meio Ambiente.
Os piores índices foram registrados na região metropolitana de Pequim e Tianjin, no norte do país. Nesses locais o ar foi considerado “altamente poluído” em 20% dos dias.
Em julho, a autoridade para o meio ambiente da capital chinesa publicou um relatório que revela que os cerca de 20 milhões de habitantes de Pequim estão condenados a respirar um ar prejudicial à saúde pelo menos até 2030. A capital só terá um ar dentro do padrão tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 16 anos, no mínimo. A cidade possui duas vezes e meia mais partículas finas, as mais perigosas para o nosso organismo, do que prevê a norma internacional, de acordo com dados de 2013.
Nos últimos seis anos, a Embaixada americana em Pequim controlou a qualidade do ar em 2.028 dias. Em apenas 25 deles o ar foi classificado como “bom”.
O ex-ministro chinês da Saúde declarou que a má qualidade do ar é responsável por entre 350 mil e 500 mil mortes prematuras por ano na China. Crianças e idosos são as principais vítimas.
Iniciativas para melhorar o ar
Desde o dia 6 de agosto, data da abertura do encontro de Cooperação Econômica Ásia Pacífico (APEC) em Pequim – e durante os 16 dias de duração do fórum que reúne 21 países – a China retirou das ruas 70% dos carros do governo. O objetivo é melhorar o índice de poluição e o trânsito.
A iniciativa é um teste para a conferência principal da APEC, prevista para acontecer em novembro na capital. Em maio, a China prometeu tirar de circulação 5 milhões de carros poluentes, sendo 330 mil deles apenas em Pequim. Veículos e fábricas são os principais inimigos do ar puro.
O governo também estuda a implantação de um novo plano urbano até o final do ano, onde a criação de “corredores de ar” será o ponto central. Essas “vias de ar” seriam largas extensões de terra cobertas de vegetação e abertas na direção dos ventos dominantes de Pequim, para ajudar a dispersar os poluentes e o ar quente. No entanto, as autoridades já admitiram que este será um trabalho difícil, pois a metrópole tem mais de seis anéis viários e não resta muito espaço no centro de Pequim.
Outra medida anunciada na última semana foi a proibição gradual até 2020 do uso de carvão na cidade. Hoje, o produto garante mais de 25% do consumo de energia em Pequim e representa 80% da matriz energética chinesa. Usinas de energia a carvão serão fechadas nos seis distritos que formam a região metropolitana. Os sistemas de aquecimento de algumas residências que ainda usam o material terão que se adaptar e começar a usar energia elétrica ou gás natural.
Para ajudar a enfrentar os dias mais difíceis, as autoridades já recorrem ao uso de um canhão de água, que circula nas ruas para limpar o ar da fumaça e de outros poluentes.
Proteção
A população chinesa não tem muita escolha para fugir desse tipo de poluição e tenta se proteger como pode. Poucas pessoas se arriscam a sair sem uma máscara. Nas casas, muitos optam por usar purificadores de ar. Alguns sites monitoram em tempo real o índice de poluição nos bairros e podem ser consultados.
As atividades ao ar livre, como a prática de esportes, por exemplo, são desaconselhadas pelo governo nos dias em que a concentração de poluentes é muito elevada.
EcoDebate, 11/08/2014
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