Falta d’água em São Paulo muda cotidiano de famílias afetadas
A população reclama da falta d’água, mas o governo do Estado de São Paulo nega que exista racionamento. Entre a estiagem recorde e a falta de planejamento público para evitar o problema, a crise no abastecimento de água assusta quem mora na cidade e também quem pretendia se instalar na capital paulista.
Rhossane Lemos, colaboração especial para RFI
Desde o ano passado não chove o suficiente em São Paulo para repor o nível da água dos mananciais que abastecem a população. O sistema Cantareira, formado por 5 reservatórios, mais perece um deserto nos últimos dias. Ele garantia água para cerca de 9 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo e nessa segunda-feira (28) o volume útil não ultrapassava a marca dos 8%. A SABESP, fornecedora de água do estado, recorre ao volume morto, uma reserva técnica de água que é acionada em casos de urgência. A companhia também foi obrigada a buscar água em outros sistemas como o Alto Tietê e o Gurapiranga.
A população convive há mais de um mês com racionamentos que chegam a até 21 horas de corte. Na casa da diarista Rosa Cardoso, em Diadema, ABC Paulista, não tem água nos fins de semana. “Eles cortam a água na sexta-feira e voltam a ligar na madrugada de segunda. Na casa da minha filha é ainda pior, porque falta água durante a semana também”, conta ela. Para garantir o abastecimento, a Sabesp conta atualmente com outros sistemas de captação de água e espera as chuvas anunciadas pelo fenômeno climático El Niño.
Crise da água altera projetos de vida
O administrador de empresas Raymundo de Freitas Junior conta que o prédio onde mora já é ambientalmente responsável, e eles aproveitam, por exemplo, a água da chuva. Mas mesmo assim, se a crise no abastecimento de água se agravar, Raymundo considera a possibilidade de mudar de cidade.
“Pessoalmente eu fico chateado porque estamos nos sacrificando cada vez mais na utilização consciente da água tratada, mas 40% da água é desperdiçada em encanamentos. Para apurar uma denúncia de vazamento, por exemplo, a empresa demora de 20 a 22 horas. Então, em último caso eu me mudaria de São Paulo, porque não dá para viver sem água”, desabafa Freitas.
A fotógrafa Isabelli Neri e o artista plástico Ari Vicentini tinham planos de mudar de Curitiba para morar em São Paulo até o final desse ano. Lá, eles têm perspectivas profissionais mais interessantes por conta da região ser um centro cultural efervescente. Mas o casal decidiu adiar a mudança por medo de ter que enfrentar racionamentos com o filho pequeno. “Não posso dizer que vou mudar para São Paulo nessa semana ou no próximo mês, sabendo que logo posso passar por uma situação extremamente ruim. Eu não quero passar por situações assim com meu filho de dois anos. É preciso pensar na questão ambiental em São Paulo para resguardar a qualidade de vida do paulista”, afirma ela, temerosa.
Sabesp nega crise no abastecimento de água
A assessoria de imprensa da Sabesp enviou uma nota a Rádio França Internacional em que afirma não existir rodízio, racionamento ou restrição de consumo de água em nenhum dos 364 municípios operados pela empresa no Estado de São Paulo. Ainda segundo a nota, a Sabesp vai garantir o abastecimento de água na Região Metropolitana de São Paulo até meados de março de 2015. A empresa acredita que, com a volta do período chuvoso na região, que inicia em outubro, os níveis de armazenamento dos sistemas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo devem voltar à normalidade.
Matéria da RFI, reproduzida pelo EcoDebate, 01/08/2014
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