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Agropecuária está se tornando a principal fonte de emissões brasileiras. Entrevista com Rachel Biderman

 

Maura Campanili

Rachel Biderman, diretora Executiva do WRI Brasil
 

A produção agropecuária de baixo carbono é importante para que o Brasil cumpra suas metas de redução de emissões e colabora para que o produtor consiga adequação ambiental, mas pode ser também um caminho para abrir portas e aumentar a competitividade no mercado internacional, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Uma ferramenta que pode ajudar o produtor brasileiro a acessar esses benefícios é o Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol) Agropecuária, primeiro instrumento voluntário para medir emissões em propriedades rurais, cuja primeira versão foi lançada em primeira mão no Brasil, no final de maio. O instrumento foi desenvolvido por meio de uma parceria entre o WRI, a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), levando em consideração as condições brasileiras. Segundo Rachel Biderman, diretora Executiva do WRI Brasil, “ações desse tipo também ajudam a criar uma cultura de gestão, contribuindo para a solução do problema das mudanças climáticas”. Em entrevista para a Clima e Floresta, Rachel, que também é professora responsável por módulo de meio ambiente do MBA em Gestão da Sustentabilidade e coordenadora do curso de extensão da Fundação Getúlio Vargas de “Gestão para o Baixo Carbono”, explica porque é importante reduzir as emissões da agricultura no Brasil.

Clima e Floresta – Qual a importância do combate às emissões de gases de efeito estufa na agricultura brasileira?

Rachel Biderman – O Brasil cada vez mais se consolida como grande fonte de alimentos para o mundo. Ao mesmo tempo, estamos entre os maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do planeta. Considerando a redução das emissões em mudanças do uso da terra, devido à queda dos desmatamentos, a agropecuária está se tornando a principal fonte de emissões brasileiras e já representa 29,7% das emissões brutas brasileiras em CO2e.

Clima e Floresta – Como a agricultura emite GEE?

Biderman – O setor agropecuário gera emissões em função da fermentação entérica dos animais criados; do manejo de dejetos animais; do cultivo de arroz; da queima de resíduos agrícolas e dos solos agrícolas, estas decorrentes da fertilização nitrogenada e de organossolos cultivados. Há também emissões relativas a atividades associadas ao setor, que incluem a conversão de uso do solo – por exemplo, de florestas para pastagens ou de um tipo de lavoura em outro -, e outras relacionadas  à produção de energia.

Clima e Floresta – O que é o GHG Protocol Agrícola e como ele pode colaborar para diminuir as emissões?

Biderman – Trata-se de um conjunto de dois instrumentos principais: as Diretrizes e a Ferramenta de Cálculo de Emissões de GEE no setor Agropecuário.  Esses instrumentos permitem aos produtores rurais conhecer melhor o perfil das suas emissões de gases de efeito estufa e desenvolver planos de redução mitigando seus impactos sobre o clima. Esses instrumentos permitirão aos produtores rurais contribuir diretamente para o cumprimento dos objetivos do  Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e para que mecanismos financeiros adequados sejam alocados para essa atividade sustentável.

Clima e Floresta – A quem o GHG Protocol é destinado?

Biderman – Produtores rurais de qualquer porte.

Clima e Floresta – Pequenos agricultores, assentamentos rurais, populações tradicionais podem participar? Como?

Biderman – Os instrumentos se aplicam a qualquer tipo de produção agropecuária. O WRI Brasil organizará projeto para treinar empresas e interessados para o uso dessas ferramentas.

Clima e Floresta – Além da questão das emissões, há outros benefícios na adoção de uma agricultura de baixo carbono?

Biderman – As empresas que adotarem as diretrizes e ferramenta de cálculo do GHG Protocol terão algumas vantagens competitivas. Entre elas podemos citar: Entender riscos operacionais e de reputação; identificar oportunidades de redução de emissões; implantar metas de redução e monitorar a performance; melhorar a reputação e transparência através da divulgação pública de suas emissões de GEE; colher os frutos dos benefícios associados à redução de emissões, como conservação de energia, ampliação de produtividade, melhora na qualidade do solo e da água; preparar-se para regime de quotas e cumprimento legal; antecipar-se para um potencial mercado de carbono.

Entrevista na Clima e Floresta n° 58, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

EcoDebate, 01/07/2014


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