Os primeiros-ministros da Itália e da Polônia ameaçam vetar acordo europeu sobre mudança climática
Os primeiros-ministros da Itália e da Polônia ameaçaram bloquear o acordo sobre mudança climática ao qual a União Européia (UE) quer chegar até o final do ano. O italiano Silvio Berlusconi e o polonês Donald Tusk criticaram às medidas como “ridículas” e disseram que vão vetar as propostas de redução da emissão de gases do efeito estufa para evitar conseqüências negativas em suas economias. Matéria da Agência EFE, em Bruxelas.
A UE se comprometeu ao triplo objetivo conhecido como “20-20-20”, que consiste em conseguir até 2020 uma redução das emissões de dióxido de carbono de 20%, um corte também de 20% no consumo energético e que 20% da energia venha de fontes renováveis.
“Estou preparado para vetá-lo e a Polônia estaria conosco”, assegurou Berlusconi, em entrevista coletiva concedida no final do primeiro dia do Conselho Europeu em Bruxelas.
Em sua opinião, cumprir os objetivos ambientais da UE em 2020 sairia caro às empresas, pois só na Itália custaria 25 bilhões de euros, segundo os dados fornecidos por representantes da indústria em um encontro anterior a esta cúpula.
“Nestes momentos de crise, não podemos seguir em frente como Dom Quixotes, enquanto países como China e Estados Unidos são contra”, resumiu Berlusconi, acrescentando que a preocupação italiana é compartilhada por países como França, Alemanha e Polônia.
O discurso de Berlusconi coloca em questão se a França, país que preside a UE este semestre, conseguirá aprovar as medidas sobre mudança climática e energia até o final do ano, como está previsto.
Questionado sobre a ameaça italiana, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que conhece bem Berlusconi e que, apesar de inicialmente defender com paixão suas convicções, “no final da conversa sempre faz prevalecer o interesse europeu”.
Polônia
Tusk também usou os efeitos negativos na economia para justificar seu veto ao acordo. Segundo ele, o veto é válido somente às medidas “como estão apresentadas hoje” por considerar que prejudicariam a economia polonesa, que gera eletricidade principalmente através do carvão.
Ao fim do primeiro dia da cúpula realizada em Bruxelas pelos chefes de Estado e do Governo da UE, Tusk assegurou que a proposta é “perigosa” para seu país. Cerca de 95% da energia produzida na Polônia procede de centrais térmicas alimentadas por carvão, uma fonte energética que seria afetada pelas medidas negociadas pelo bloco.
Por isso, o governo de Varsóvia defende que a entrada destas instalações no sistema de leilão de permissões para emitir dióxido de carbono proposto por Bruxelas só seja aplicada em parte do setor a partir de 2013 e não a todo, como pede a proposta francesa.
A França propõe que a taxa de leilões no âmbito energético seja, em geral, de 100% a partir de 2013, e só prevê concordar revogações de amplitude e duração limitadas quando forem justificadas por “situações específicas”, relacionadas a “uma integração insuficiente no mercado europeu da eletricidade”.
Tusk afirmou ainda que a Itália e a República Tcheca estão dispostas a se unir à Polônia e a outros sete países do Leste Europeu (Bulgária, Estônia, Eslováquia, Hungria, Letônia, Lituânia e Romênia) que se opõem às medidas propostas pela Comissão Européia (CE, braço executivo da UE).
Concretamente, pedem ao bloco que considere o impacto econômico da crise financeira e que reduza os objetivos fixados contra a mudança climática.
A falta de apoio destas nações poderia atrasar a adoção do pacote, apesar de Sarkozy ter transformado o assunto em uma de suas prioridades e desejar um acordo até o fim do ano.
Ao fim do primeiro dia da cúpula, a delegação polonesa teve que cancelar a entrevista coletiva de Tusk e improvisar um encontro com a imprensa à saída do edifício do Conselho, onde ocorrem as cúpulas, devido à “incômoda” situação gerada pela presença do presidente polonês, Lech Kaczynski, informaram fontes do governo.
A Constituição polonesa atribui ao primeiro-ministro e não ao presidente a máxima autoridade em assuntos de política externa, mas, mesmo assim, Kaczynski decidiu ir por conta própria e sem credenciamento ao Conselho Europeu.
“Teria sido incômodo colocá-los na mesma mesa, ou que disputassem a cadeira”, acrescentaram as mesmas fontes. Kaczynski, que se dirigiu primeiro à imprensa ao deixar a reunião, assegurou que não tinha havido “nenhum problema”.
Matéria da Agência EFE, publicada pelo UOL Notícias, 15/10/2008 – 20h28.
[EcoDebate, 16/10/2008]
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