Monopólio ou multilateralismo? artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Num debate sobre Marketing entraram em jogo vaticínios de que o WhatsApp vai “matar” e suceder o Facebook como este fez com o Orkut, ou se haverá público para a utilização simultânea de diferentes redes sociais nos próximos anos. Uma tese é a dos monopólios sucessivos, a outra é a da diversidade de públicos para várias redes simultaneamente. Este debate vale para o século XXI como um todo: será um século com a marca do monopólio, ou do multilateralismo?
O monopólio americano do século XX será sucedido pelo chinês ou há esperanças de um mundo multilateral? O crescimento chinês foge do padrão, assim como o coreano aliás, e assusta pela invasão dos mercados mundiais com os seus produtos a baixo preço. Para isso utiliza uma política de produção agressiva que começa com uma mão de obra muito barata, quase escrava, e sem cuidados socioambientais que gerem custos. É uma cultura “espartana” onde a lógica do Estado monopolista se sobrepõe aos possíveis direitos da população.
Mas há gargalos na China: o envelhecimento da população e a transformação do perfil desta, que estaria se tornando mais propensa a reivindicar melhores condições de trabalho. A poluição já é um problema, assim como o esgotamento dos recursos hídricos. Quer dizer, há uma crise anunciada e por isso a China aprovou recentemente uma nova legislação ambiental, dando maiores poderes para seus órgãos ambientais, o que certamente vai impactar o custo de produção.
O imperialismo militarista, à la Bush, está em descrédito. Alemanha e Japão que sofreram sanções após a segunda guerra se beneficiaram por não poderem ter gastos militares e assim se focaram no crescimento econômico, que é hoje o maior fator de domínio global. O imperialismo do século XXI é comercial, mais que militar.
O capitalismo não tem pátria e o imperialismo não tem fronteiras: americanos e europeus em crise econômica e tidos como superados com a expansão asiática, se renovam fazendo parcerias comerciais com os próprios asiáticos. Para uma multinacional de origem americana ou européia, é mais lucrativo colocar fábricas lá na China, pagando menos pela mão de obra. Haverá influências, pressões recíprocas, das conquistas dos trabalhadores ocidentais sobre a sociedade chinesa? A questão é se direitos trabalhistas, qualidade de vida e condições socioambientais avançarão lá.
Até agora as multinacionais se sobrepõe aos países e apenas “democratizam a exploração” da mão de obra semi-escrava. Faltam os direitos humanos, falta a democratização da cidadania. Na área das tecnologias, americanos e europeus ainda estão à frente, apesar do vigor comercial asiático. Em liberdade para a inovação, então, ainda não há empresa no mundo comparável à Google.
No Brasil temos a crise da indústria calçadista devido à concorrência desleal, o que fez com que grandes empresas do setor também se mudassem para lá. Mas nesse caso a solução passa por agregar valor ao produto, quer dizer, ocupar o nicho da demanda por produtos com mais qualidade. Somos um país com economia primitiva, apesar de grande, dependente das “commodities”, quer dizer, matérias-primas sem valor agregado. Durante o século XX fomos dependentes do imperialismo comercial americano e agora passamos à dependência do chinês. O imperialismo chinês pode sobrevir ao americano, mas é possível que as conquistas sociais cidadãs do século XX influam no processo também, dando novo tom ao século XXI. Valorizemos o multiculturalismo, com suas possíveis qualidades, enquanto os chineses crescem.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 12/05/2014
[ O conteúdo do EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.