Relacionamentos humanos carentes de espontaneidade e simplicidade, artigo de Gilmar Passos
[EcoDebate] Hoje, a prevalência em tudo aquilo que o ser humano se relaciona é influenciada fortemente por fatores econômicos ou eróticos. Esses dois mecanismos dominam as aproximações de pessoas e conduzem as relações delas. Das aproximações, elas dão passo adiante sejam como amigos, namorados, casados ou em outro tipo de relação pessoal. O problema é grave quando esses mecanismos influentes são sem limites, pois causam relacionamentos doentios.
Os fatores econômicos que temos na atualidade são bastante carregados de elementos que induzem o consumo sem controle. Por causa disso, há pessoas que vivem sem limites e impregnadas em consumir, numa situação tão caótica que podem entrar em colapso, caso não seja alcançado o/os objeto/os de consumo que no momento desejam.
No geral, a sociedade adquiriu a mentalidade doentia de satisfação ou de felicidade através do consumo e isso traz consequências graves para a convivência das pessoas. Para as pessoas, as consequências são paranóicas. Significando dizer com isso que há muitas buscas de relacionamentos humanos motivadas pela ideia de consumo, o que gera algo como consumo de pessoas. Como tudo o que é consumido perde o seu valor logo em seguida, acontece o mesmo com as pessoas que mantêm laços motivados por essa ideia.
Outra consequência trágica é a erotização de coisas elementares da vida humana. Vivemos em campo minado pela erotização, onde as músicas lideram como mecanismo simplista e popular de incentivo a prática erótica. Segue as revistas, livros e filmes e propagandas. No Brasil a predominância das novelas faz grande divulgação e incentivo ao erotismo.
Com a erotização, as relações ficam incrementadas com dispositivos que podem incendiar a qualquer momento as pessoas e produzir grandes efeitos positivos ou negativos na vida dos seres humanos. Quando isso se vive numa situação de construção de história, cria responsabilidade, compromisso e liberdade. No entanto, quando é vivido numa situação fora dos valores humanos, negando sua construção criativa, perde o sentido de responsabilidade, compromisso e liberdade e coloca as pessoas em ânsia de desejo e insatisfação egoísta.
Com um olhar silencioso e sensível a realidade, percebe-se que os relacionamentos entre seres humanos, entre eles e os animais e outras coisas mais, em grande parte, são incentivados pelo consumismo e erotismo, isso é destruidor. Talvez, é por isso que muitas pessoas têm poucos amigos, ou se sentem sozinhas enquanto estão cercadas por pessoas.
Quando numa relação humana a predominância for esses dois elementos vistos e vividos fora da liberdade humana e da sinceridade antropológica, as aproximações humanas ficam cheias de satisfação egoísta, sem escrúpulos. Numa situação tão precária em que as pessoas envolvidas reduzem a vida humana ao consumo desenfreado e ao prazer sem limites, cria na sociedade a mentalidade de descartar as pessoas quando os desejos pessoais do momento forem realizados. Descartam-se a família, os filhos, os amigos, os namorados…
As amizades neste sistema doentio ficam inexistentes. Por isso, vemos constantemente as pessoas se aproximarem umas das outras, tornarem-se “amigas” e rapidamente serem incentivadas às praticas de relações e prazeres sexuais. Há pessoas que não sabemos se são amigas no sentido puro da palavra ou se vivem amizades de cunho erótico. Contudo, é salutar sabermos que há pessoas que acreditam em amizades puras e lutam por ela.
Os muitos casos amorosos curtos e sem compromisso, as traições, tão frequentes e divulgadas em nossos dias, são frutos desse desajuste humano. Além do mais, tudo isso nos leva a perceber a frieza, a superficialidade com que estão sendo vividas as pessoas. Elas estão presas a cultura melancólica e destrutiva e ficam distantes da construção de vida e dos relacionamentos saudáveis e honestos. Precisamos de coragem para ser diferentes e levarmos adiante essa ideia.
Estamos presos a uma cultura destrutiva com grande carga de consumismo erotismo nos relacionamentos. Libertar-se disso, é uma questão de criatividade e humanidade. Que não fiquemos presos, mas ensaiemos os primeiros passos de liberdade e em seguida avancemos com força e coragem de vencer a destruição que estamos prestes a viver caso negligenciarmos nossa humanidade.
O consumismo e a erotização roubaram a espontaneidade e a simplicidade de muitos seres humanos e colocou muitos seres prestes ao abismo. Precisamos ressignificar nosso jeito de pensar e viver, para isso é preciso simplicidade. A simplicidade quebra o orgulho e as fantasias e devolve a verdade sobre os fatos e sobre a realidade da vida.
A simplicidade vem ser aquele jeito natural de viver, sem cobrança e numa sintonia lúdica de entretenimento, respeito, cuidado e responsabilidade. É a forma mais barata de se viver e a que produz mais efeito significativo na vida de qualquer ser humano. Que aprendamos a viver do jeito simples para nos relacionarmos de modo saudável, honesto e sincero.
Gilmar Passos. Padre da Diocese de Estância em Sergipe. Exerce seu ministério sacerdotal em Santa Luzia do Itanhi. É membro da Academia Estanciana de Letra
EcoDebate, 14/01/2014
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Parabéns Padre Gilmar. Para resolvermos um pouco o impacto da erotização e consumismo em nossas vidas, nós, cristãos católicos, devemos desligar nossa televisão na hora das novelas ou mudar para uma rede de televisão católica, além de ensinar nossos filhos a terem senso crítico com o que passa na televisão.